sexta-feira, 4 de novembro de 2011

O meu nascimento


 Desde que fiz o curso para ser Doula que comecei a pensar na minha história de parto! Isso é, como foi o meu nascimento. É uma das primeiras perguntas do curso, se conhecemos essa história! E coincidentemente também uma das primeiras perguntas que a Fernanda aqui do grupo Acalanto faz as futuras mãe e pais que participam do nosso curso!

Quando a mulher entra em trabalho de parto ela não carrega apenas a historia desse parto, mas também a historia de outros partos, ou outros não partos. Sejam por cesariana agendada ou abortos. Carrega também as historias de parto da sua família, das mulheres da sua família e especialmente da sua mãe. Consequentemente a historia de seu nascimento influencia muito em como desenvolve o seu trabalho de parto.

Primeiro vem os mitos. Se os partos da minha mãe foram rápidos o meu também vai ser! Se a minha avó não precisou de anestesia eu também não preciso! Se a minha mãe não teve dilatação ou passagem, eu também não vou ter. E por ai vai... são todos mitos porque não há previsão. Todas as mulheres têm seu corpo preparado para parir e o que vai influencia nesse caminho depende muito mais de questões psicológicas e do ambiente que nos cerca do que característica genéticas da família ou dos exemplos.

Agora se o fator psicológico é muito importante, não podemos negar a relevância de trabalhar o nosso nascimento antes ou durante a gravidez para conseguir ter um parto como desejamos!

Não estou grávida e os planos de engravidar são para o futuro. Mas como o desejo é grande e estou sempre rodeadas de grávidas penso muito nessa minha história de nascimento!

Recentemente acho que comecei a me resolver com ela! E por isso resolvi compartilhar aqui! Escolhi o dia do meu aniversário de 27 anos para fazer essa postagem, para mim, uma data mais que apropriada, especialmente porque adoro meus aniversários!

Penso muito também na historia a minha amamentação, mas essa ainda não está resolvida e vou separá-las aqui, apesar de ser uma continuidade da outra, para partilhar com vocês! E espero logo vir contar sobre essa outra história!

Bom... a minha história é a seguinte!

Minha mãe estava no clube Campestre, acompanhada da minha avó (sua mãe) e algumas irmãs, irmãos e cunhadas. Dentre as cunhadas, uma médica. Lá no clube ela entrou em trabalho de parto. Ela relata que sempre desejou um parto normal e estava esperando inclusive que eu atrasasse alguns dias da data marcada, por seu colo ainda estar fechado (de acordo com última consulta a obstetra), o que não aconteceu.

O trabalho de parto começou e ela continuou tranquila, caminhando na piscina infantil. Ligou para o meu pai que estava trabalhando em outra cidade e pediu que ele viesse para o nascimento da primeira filha.

A história tem alguns buracos, já que sempre que conversamos sobre esse assunto não fico enchendo minha mãe de perguntas... deixo ela contar o que lembra... o que percebe... o que se relaciona ao assunto do momento... sei lá... acho que assim cada dia nos duas vamos trabalhando isso e descobrindo novos pequenos detalhes.

Depois do clube minha mãe foi para o hospital. Provavelmente passaram em casa antes... um dos detalhes que não perguntei... 

No hospital minha mãe estava acompanhada pela cunhada médica, já que meu pai ainda não tinha conseguido chegar. Esse vai de um lugar pro outro e espera durou o dia todo, já que minha mãe começou a sentir contrações de manha no clube e eu só nasci às 23 horas. Em momento nenhum minha mãe relata medo do parto, ansiedade ou ter saído correndo para o hospital. Parece ter sido tudo com bastante calma.

O parto normal ainda fazia parte dos planos, até que a obstetra, relatou a minha ame que ela não estava dilatando e sugeriu romper a bolsa. Minha mãe concordou e a bolsa foi rompida. Nesse momento elas ainda não estavam no centro cirúrgico, já que minha mãe relata que foi depois disso que a minha tia começou a trocar de roupa para entrar com ela. Estavam ainda no quarto. E a obstetra, ao observar a cor do líquido amniótico e a quantidade de mecônio informou a minha mãe que não esperaria nem mais um minuto para fazer uma cesariana.

Minha mãe relata que pediu para esperar meu pai, mas a médica não concordou e minha tia apoiou a decisão da médica. Quando estavam entrando na sala de parto meu pai chegou e pode entrar junto com minha mãe. Nesse momento em que meu pai não chegou e a médica ordenou uma cesariana de emergência minha mãe relata ter ficado muito ansiosa. Ao contar a historia seu tom de voz chega até a mudar!

Essa parte da historia sempre me indignou! Como assim minha mãe não tinha dilatação??? Qual a probabilidade de uma mulher saudável em trabalho de parto não ter dilatação? (Não consigo encontrar esse dado em lugar nenhum!) Será que era desculpa da obstetra que estava cansada de esperar a evolução do trabalho de parto? Será que minha mãe não estava em trabalho de parto? E esse mecônio? Era tanto mecônio assim? Eu estava realmente em sofrimento fetal?

A história ainda continua. Após a cesárea, que correu bem, eu fui levada para a incubadora onde fiquei por algumas horas. Ninguém explicou para a minha mãe porque eu estava na incubadora, ela até hoje não sabe. A explicação dela para a ida a incubadora era que tinha mecônio no liquido amniótico e que eu tinha uma circular de cordão.

Fiquei pensando assim... como a minha mãe não sabe disso? Como assim ninguém informou? Será que tinha algum problema mesmo ou eu só estava na incubadora para aquele procedimento ridículo de aquecer o bebê? E ainda... será que a minha mãe realmente queria um parto normal? Se ela queria, porque não se informou mais?

Minha mãe relata que ficou brava por não ter conseguido o parto normal. Diz que a sua médica não a preparou para a possibilidade de uma cesárea e que ela sofreu muito com isso e com o pós operatório.

Esse relato me convence de que ela realmente desejava um parto normal. A sua calma para chegar ao hospital me convence de que ela estava preparada para um parto normal. Talvez ela não tenha conseguido ter acesso a todas as informações que podemos ter hoje com a internet, e talvez se tivesse, o curso dessa historia teria sido diferente. Mas ela se informou o máximo que pode. Não sei exatamente porque, mas saber que minha mãe realmente desejava que eu nascesse de parto normal é muito importante para mim.

Menos de um ano depois minha mãe engravidou novamente. Começou a tomar anticoncepcionais, mas não entendeu que no primeiro mês ele ainda não faria o efeito de evitar a gravidez e então ficou grávida. Foi um susto, mas quando já tinha se acostumado com a ideia e contado a novidade a todos... teve um aborto espontâneo. Faz pouco tempo que ela me contou sua dor em relação a esse aborto. E ao relatar sua dor, contou que a maior angustia foi durante as semanas que ficou esperando seu corpo expelir o seu bebê morto. Ficava ali, ansiosa, andando como se nada estivesse acontecendo, esperando ter uma hemorragia.

Fiquei imaginando sua dor e conhecendo a minha mãe, o quanto essas semanas devem ter sido difíceis...

A expulsão do feto não aconteceu de forma espontânea. Mais uma vez a obstetra constatou que minha mãe não tinha dilatação uterina. Foi necessário realizar uma curetagem mais complicada, que ela lembra ter ido para o bloco cirúrgico para tal. Não sabe se recebeu ocitocina artificial para a dilatação, mas sabe que foi um procedimento dolorido e difícil. 

Acho que talvez mais dolorido no coração...

Anos mais tarde minha mãe engravidou novamente do meu irmão. Ela diz que algumas pessoas sugeriram agendar uma cesariana. Que nessa época isso já era “moda”, mas relata que sua médica não concordava e que ela se recusava a mudar o mapa astral de seu filho. Bom... o tempo passou e minha mãe entrou em trabalho de parto prematuro. Tomou remédios para inibir as contrações e fez repouso, o que só funcionou por uma semana. Não fez a cerclagem e entrou em trabalho de parto ativo. Mais uma vez ela relata não ter dilatação e que por isso fez a cesariana. O procedimento correu bem e meu irmão nasceu um enorme prematuro com mais de 3kg, indo para a casa no dia seguinte sem nenhuma complicação.

Será que a obstetra toparia fazer um parto normal em um pré maturo e após uma cesariana? Um VBAC em pré maturo? Sempre desconfiei que não... e achava mais uma vez furada a historia da não dilatação...

Outro dia questionei para  aminha ame se a obstetra dela era realmente a favor do parto normal. Pesquisei então o nome dela no Google e não é que, para minha surpresa o nome dela aparece ligado a diversas organizações que defendem o parto normal, além de ser fundadora do banco de leite do Odete Valadares?

Tá! Isso não quer dizer que ela teria bancado um VBAC em pré maturo.... mas me tranquilizou quanto a escolha da minha mãe de seu obstetra. Também é importante para mim saber que ela realmente escolheu um médico que apóia o parto normal. E somando todas as histórias de “não dilatação” da minha mãe, conclui que pode ser que ela tenha sim dilatação, mas o que conseguiu entender da médica falando foi isso. Realmente a quantidade de mecônio deveria ser indico de sofrimento fetal pela pressa da médica... não sei o que impediu que minha mãe tivesse seu desejado parto normal... acho que não foi algo físico, mas talvez algo emocional... 

Ou melhor... espero que seja algo emocional... e que com essas conversas nos duas possamos superar o emocional.... para que eu possa ter o meu sonhado parto natural em casa. Acho que toda a minha indignação por não ter sido parida na verdade é um medo de não conseguir parir... mas saber que minha ame desejou um parto normal, tinha informações e escolheu um bom obstetra me tranquiliza... não sei porque... mas me tranquiliza... talvez eu nunca saiba de todos os mínimos detalhes do meu nascimento... talvez eu nunca descubra porque fui para a incubadora... talvez as informações que faltem façam a diferença, talvez elas não mudem nada...

Tenho uma sensação de que se minha mãe desejou eu nascesse de parto normal é porque eu posso ter meus filhos de parto normal. Maluquice? Talvez... Me diz também que se eu não conseguir ter um parto como desejo que amarei meus filhos tanto quanto fui e sou amada...

Não sei se esse texto enorme fez sentido para alguém! Mas para mim fez! Espero que ajude mais mulheres a trabalharem seus nascimentos e sei que me ajudou a continuar trabalhando meu, mas agora com menos ansiedade e mais certezas...

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