Desde que fiz o
curso para ser Doula que comecei a pensar na minha história de parto! Isso é,
como foi o meu nascimento. É uma das primeiras perguntas do curso, se
conhecemos essa história! E coincidentemente também uma das primeiras perguntas
que a Fernanda aqui do grupo Acalanto faz as futuras mãe e pais que participam
do nosso curso!
Quando a mulher
entra em trabalho de parto ela não carrega apenas a historia desse parto, mas
também a historia de outros partos, ou outros não partos. Sejam por cesariana
agendada ou abortos. Carrega também as historias de parto da sua família, das
mulheres da sua família e especialmente da sua mãe. Consequentemente a historia
de seu nascimento influencia muito em como desenvolve o seu trabalho de parto.
Primeiro vem os
mitos. Se os partos da minha mãe foram rápidos o meu também vai ser! Se a minha
avó não precisou de anestesia eu também não preciso! Se a minha mãe não teve
dilatação ou passagem, eu também não vou ter. E por ai vai... são todos mitos
porque não há previsão. Todas as mulheres têm seu corpo preparado para parir e
o que vai influencia nesse caminho depende muito mais de questões psicológicas
e do ambiente que nos cerca do que característica genéticas da família ou dos
exemplos.
Agora se o fator
psicológico é muito importante, não podemos negar a relevância de trabalhar o
nosso nascimento antes ou durante a gravidez para conseguir ter um parto como
desejamos!
Não estou
grávida e os planos de engravidar são para o futuro. Mas como o desejo é grande
e estou sempre rodeadas de grávidas penso muito nessa minha história de
nascimento!
Recentemente
acho que comecei a me resolver com ela! E por isso resolvi compartilhar aqui! Escolhi
o dia do meu aniversário de 27 anos para fazer essa postagem, para mim, uma
data mais que apropriada, especialmente porque adoro meus aniversários!
Penso muito
também na historia a minha amamentação, mas essa ainda não está resolvida e vou
separá-las aqui, apesar de ser uma continuidade da outra, para partilhar com
vocês! E espero logo vir contar sobre essa outra história!
Bom... a minha história é a seguinte!
Minha mãe estava
no clube Campestre, acompanhada da minha avó (sua mãe) e algumas irmãs, irmãos
e cunhadas. Dentre as cunhadas, uma médica. Lá no clube ela entrou em trabalho
de parto. Ela relata que sempre desejou um parto normal e estava esperando
inclusive que eu atrasasse alguns dias da data marcada, por seu colo ainda estar
fechado (de acordo com última consulta a obstetra), o que não aconteceu.
O trabalho de
parto começou e ela continuou tranquila, caminhando na piscina infantil. Ligou
para o meu pai que estava trabalhando em outra cidade e pediu que ele viesse
para o nascimento da primeira filha.
A história tem alguns buracos, já que sempre que
conversamos sobre esse assunto não fico enchendo minha mãe de perguntas...
deixo ela contar o que lembra... o que percebe... o que se relaciona ao assunto
do momento... sei lá... acho que assim cada dia nos duas vamos trabalhando isso
e descobrindo novos pequenos detalhes.
Depois do clube
minha mãe foi para o hospital. Provavelmente passaram em casa antes... um dos
detalhes que não perguntei...
No hospital
minha mãe estava acompanhada pela cunhada médica, já que meu pai ainda não tinha
conseguido chegar. Esse vai de um lugar pro outro e espera durou o dia todo, já
que minha mãe começou a sentir contrações de manha no clube e eu só nasci às 23
horas. Em momento nenhum minha mãe relata medo do parto, ansiedade ou ter saído
correndo para o hospital. Parece ter sido tudo com bastante calma.
O parto normal
ainda fazia parte dos planos, até que a obstetra, relatou a minha ame que ela não
estava dilatando e sugeriu romper a bolsa. Minha mãe concordou e a bolsa foi
rompida. Nesse momento elas ainda não estavam no centro cirúrgico, já que minha
mãe relata que foi depois disso que a minha tia começou a trocar de roupa para
entrar com ela. Estavam ainda no quarto. E a obstetra, ao observar a cor do
líquido amniótico e a quantidade de mecônio informou a minha mãe que não esperaria
nem mais um minuto para fazer uma cesariana.
Minha mãe relata
que pediu para esperar meu pai, mas a médica não concordou e minha tia apoiou a
decisão da médica. Quando estavam entrando na sala de parto meu pai chegou e pode
entrar junto com minha mãe. Nesse momento em que meu pai não chegou e a médica
ordenou uma cesariana de emergência minha mãe relata ter ficado muito ansiosa.
Ao contar a historia seu tom de voz chega até a mudar!
Essa parte da historia sempre me indignou! Como assim
minha mãe não tinha dilatação??? Qual a probabilidade de uma mulher saudável em
trabalho de parto não ter dilatação? (Não consigo encontrar esse dado em lugar
nenhum!) Será que era desculpa da obstetra que estava cansada de esperar a evolução
do trabalho de parto? Será que minha mãe não estava em trabalho de parto? E
esse mecônio? Era tanto mecônio assim? Eu estava realmente em sofrimento fetal?
A história ainda
continua. Após a cesárea, que correu bem, eu fui levada para a incubadora onde
fiquei por algumas horas. Ninguém explicou para a minha mãe porque eu estava na
incubadora, ela até hoje não sabe. A explicação dela para a ida a incubadora
era que tinha mecônio no liquido amniótico e que eu tinha uma circular de cordão.
Fiquei pensando assim... como a minha mãe não sabe
disso? Como assim ninguém informou? Será que tinha algum problema mesmo ou eu
só estava na incubadora para aquele procedimento ridículo de aquecer o bebê? E
ainda... será que a minha mãe realmente queria um parto normal? Se ela queria,
porque não se informou mais?
Minha mãe relata
que ficou brava por não ter conseguido o parto normal. Diz que a sua médica não
a preparou para a possibilidade de uma cesárea e que ela sofreu muito com isso
e com o pós operatório.
Esse relato me convence de que ela realmente desejava
um parto normal. A sua calma para chegar ao hospital me convence de que ela
estava preparada para um parto normal. Talvez ela não tenha conseguido ter
acesso a todas as informações que podemos ter hoje com a internet, e talvez se
tivesse, o curso dessa historia teria sido diferente. Mas ela se informou o
máximo que pode. Não sei exatamente porque, mas saber que minha mãe realmente
desejava que eu nascesse de parto normal é muito importante para mim.
Menos de um ano
depois minha mãe engravidou novamente. Começou a tomar anticoncepcionais, mas não
entendeu que no primeiro mês ele ainda não faria o efeito de evitar a gravidez
e então ficou grávida. Foi um susto, mas quando já tinha se acostumado com a
ideia e contado a novidade a todos... teve um aborto espontâneo. Faz pouco
tempo que ela me contou sua dor em relação a esse aborto. E ao relatar sua dor,
contou que a maior angustia foi durante as semanas que ficou esperando seu
corpo expelir o seu bebê morto. Ficava ali, ansiosa, andando como se nada
estivesse acontecendo, esperando ter uma hemorragia.
Fiquei imaginando sua dor e conhecendo a minha mãe, o
quanto essas semanas devem ter sido difíceis...
A expulsão do
feto não aconteceu de forma espontânea. Mais uma vez a obstetra constatou que
minha mãe não tinha dilatação uterina. Foi necessário realizar uma curetagem
mais complicada, que ela lembra ter ido para o bloco cirúrgico para tal. Não sabe
se recebeu ocitocina artificial para a dilatação, mas sabe que foi um procedimento
dolorido e difícil.
Acho que talvez mais dolorido no coração...
Anos mais tarde
minha mãe engravidou novamente do meu irmão. Ela diz que algumas pessoas
sugeriram agendar uma cesariana. Que nessa época isso já era “moda”, mas relata
que sua médica não concordava e que ela se recusava a mudar o mapa astral de
seu filho. Bom... o tempo passou e minha mãe entrou em trabalho de parto
prematuro. Tomou remédios para inibir as contrações e fez repouso, o que só
funcionou por uma semana. Não fez a cerclagem e entrou em trabalho de parto
ativo. Mais uma vez ela relata não ter dilatação e que por isso fez a cesariana.
O procedimento correu bem e meu irmão nasceu um enorme prematuro com mais de
3kg, indo para a casa no dia seguinte sem nenhuma complicação.
Será que a obstetra toparia fazer um parto normal em
um pré maturo e após uma cesariana? Um VBAC em pré maturo? Sempre desconfiei
que não... e achava mais uma vez furada a historia da não dilatação...
Outro dia questionei
para aminha ame se a obstetra dela era realmente
a favor do parto normal. Pesquisei então o nome dela no Google e não é que,
para minha surpresa o nome dela aparece ligado a diversas organizações que
defendem o parto normal, além de ser fundadora do banco de leite do Odete Valadares?
Tá! Isso não quer dizer que ela teria bancado um VBAC
em pré maturo.... mas me tranquilizou quanto a escolha da minha mãe de seu
obstetra. Também é importante para mim saber que ela realmente escolheu um
médico que apóia o parto normal. E somando todas as histórias de “não dilatação”
da minha mãe, conclui que pode ser que ela tenha sim dilatação, mas o que conseguiu
entender da médica falando foi isso. Realmente a quantidade de mecônio deveria
ser indico de sofrimento fetal pela pressa da médica... não sei o que impediu
que minha mãe tivesse seu desejado parto normal... acho que não foi algo físico,
mas talvez algo emocional...
Ou melhor... espero que seja algo emocional... e que
com essas conversas nos duas possamos superar o emocional.... para que eu possa
ter o meu sonhado parto natural em casa. Acho que toda a minha indignação por não
ter sido parida na verdade é um medo de não conseguir parir... mas saber que
minha ame desejou um parto normal, tinha informações e escolheu um bom obstetra
me tranquiliza... não sei porque... mas me tranquiliza... talvez eu nunca saiba
de todos os mínimos detalhes do meu nascimento... talvez eu nunca descubra porque
fui para a incubadora... talvez as informações que faltem façam a diferença,
talvez elas não mudem nada...
Tenho uma sensação de que se minha mãe desejou eu
nascesse de parto normal é porque eu posso ter meus filhos de parto normal.
Maluquice? Talvez... Me diz também que se eu não conseguir ter um parto como
desejo que amarei meus filhos tanto quanto fui e sou amada...
Não sei se esse texto enorme fez sentido para alguém!
Mas para mim fez! Espero que ajude mais mulheres a trabalharem seus nascimentos
e sei que me ajudou a continuar trabalhando meu, mas agora com menos ansiedade
e mais certezas...
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