quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Receitinhas para insucesso na amamentação – Parte 2


Semana passada falamos de três situações que contribuem no insucesso da amamentação (Acreditar que a amamentação é algo nato, cesariana agendada e não amamentar na primeira meia hora após o parto). Essas situações podem acontecer sozinhas ou se somarem a outras, que vamos discutir hoje!

1-      Achar que o colostro não sustenta
O primeiro leite que sai dos seios da mulher é o colostro. Aliás ele nem parece leite, já que é bem grosso, quase pastoso e escuro. Mas é sim leite, já que a mulher produz o tipo de leite adequado a cada idade do seu bebê.


O problema é que muitas pessoas acreditam no mito de que o colostro não sustenta o bebê e que ele precisaria de complemento nessa fase. Isso não é verdade. Ele é extremamente rico em gordura e anti corpos, exatamente o que o bebê vai precisar nesse inicinho da sua vida. Ele sustenta e não precisa de nenhum complemento. Vai durar entre 2 e 7 dias e deve ser oferecido o máximo de vezes ao bebê.

Oferecer suplementos (outros leites, aguá, sucos) nessa fase prejudicam muito a amamentação, impedem que o bebê aproveite todos os benefícios do colostro e retardam a descida do leite!

2-      Uso de pomadas
Algumas mulheres acreditam que precisam usar pomadas para prevenir o surgimento das fissuras (ou rachaduras) no peito. E hoje em da existem pomadas que são vendidas para esse fim, inclusive afirmando que são compatíveis com a amamentação.

O problema aqui começa com essa compatibilidade para a amamentação. Se foi passado algo no bico do seio o bebê vai colocar a boca e vai ingerir resíduos daquele algo. Esse resíduos podem ser tóxicos ou conter medicamentos não indicados para um recém nascido. Não adianta falar que vai limpar antes, porque além da limpeza em excesso poder ferir os seios, sempre sobre resíduo na pele.

Bom, mas partindo do principio que a pomada é sim compatível para a amamentação e não vai fazer mal ao bebê, qual seria o problema de usá-la? O problema é que ela impede a pele de criar uma resistência natural e fortalecer-se sozinha. A pele precisa do atrito para fortalecer e a umidade das pomadas impedem as células de Montgomery de produzirem a substancia sebácea fortificada que protege o peito da mulher naturalmente.

O que fazer para evitar fissuras então?
- Garantir que a pega do bebê esteja correta
- Expor o bico dos seios ao sol – entre 07 e 10 da manhã e depois das 16 horas – por poucos minutos.
- Manter os seios sempre secos, nunca úmidos por causa do sutiã molhada, absorventes de seios ou conchas.

3-      Uso do bico de silicone
Para vender mais e lucrar mais inventaram o bico de silicone. Uma camada fina de silicone que imita um bico para ser colocado por cima do seio da mulher. Muitas acreditam que isso vai facilitar a pega do bebê, especialmente se tiverem o bico do seio invertido ou plano. Outras acreditam que o bico de silicone vai proteger a pele.

Esse é um utensílio criado apenas para prejudicar a amamentação. Ele prejudica a pega correta do bebê. Ele impede que o bebê abocanhe o bico e que o peito da mulher se molde na cavidade oral do bebê. Ele também pode acumular leite na sua ponta, saindo depois de repente, levando o bebê a engasgar. E o atrito dele com a pele pode machucar, levando a fissuras. Resultado, não use de forma alguma!! Se já usar e achar que o bebê acostumou com ele, insista em uma ou duas mamadas que logo o bebê desacostuma!!!


Na semana que vem continuamos com esse assunto!!! Tem coisa pra falar viu!!!

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Receitinhas para insucesso na amamentação – Parte 1


Tem muitas coisas e situações que podem levar ao insucesso na amamentação que poderiam facilmente ser evitadas se os mitos fossem quebrados com informação  Então resolvi fazer essa serie de posts enumerando o que pode levar a problemas na amamentação e como reverter isso! Veja se alguma dessas historias se parece com a sua!

1-      Acreditar que a amamentação é algo nato para a mãe e para o bebê
Na verdade a amamentação é um processo de aprendizagem para mãe e bebê. Ambos precisam aprender e adaptar-se a nova situação. É uma dinâmica exclusiva daquela dupla. A mulher precisa saber também que a sua pele têm de um tempo de adaptação natural e que no início é normal sentir dor.

Quer saber como evitar essa situação?
Dá uma conferida nesses textos aqui do blog

2-      Cesariana agendada
Esse item precisa de uma explicação delicada! Primeiro que não sou contra cesarianas, pelo contrário, quando necessárias acredito ser uma tecnologia fantástica e sou 100% a favor. E elas podem ser necessárias de emergência, intra parto ou agendada. No entanto, uma cesariana agendada invariavelmente traz dificuldades para a amamentação e a mulher precisa estar atenta a isso para que tenha sucesso na amamentação depois.

O problema é que em uma cesariana agendada o corpo da mulher não se prepara para o nascimento do bebê. O corpo está acostumado com uma quantidade de hormônios com o bebê ali e de repente, sem aviso, ele sai e muda completamente a onde de hormônios. Assim, o corpo demora um tempo para entender que o bebê nasceu, já que não teve o trabalho de parto, até começar a produzir os hormônios que facilitam a descida do leite.

Isso não significa que o leite não vai descer e muito menos que a mulher não terá leite. Nada disso! O corpo já se preparou para produzir o leite e assim que o bebê começar a sugar o colostro vai descer e posteriormente o leite. O que chamamos atenção para as situações de cesariana agendada é que a amamentação e sucção do bebê na primeira meia hora após o parto é ainda mais importante e necessária.

3-      Não amamentar na primeira hora após o parto
Quando um bebê nasce bem e saudável o ideal é que a primeira pessoa que o pegue no colo seja a mãe. Assim ele será colonizado com as bactérias da mãe. E nesse momento, de preferência na primeira meia hora ou no máximo dentre a primeira hora após o parto, é de fundamental importância colocar o bebê para sugar nos seios da mãe.

Estamos falando em sugar e não amamentar porque às vezes o colostro não vai descer naquele primeiro momento, mas não tem problema, o importante é que o bebê sugue nos seios. Nessa primeira hora ele está mais alerta e vai querer sugar, com um reflexo de sucção bem exacerbado. É nessa hora, com o peito da mãe ainda vazio e bem desperto que será mais fácil aprender como sugar e o que é a pega correta. É nessa hora que mãe e bebê se apaixonam um pelo outro, cheios de hormônios liberados durante o parto.



É com essa sucção que o corpo da mulher vai entender que pode liberar ainda mais hormônios para o leite descer, e libera também hormônios que auxiliam na expulsão da placenta.

Se a sucção não acontece nesse momento de pós parto imediato o bebê terá dificuldade depois na pega do seio, já cheio e pronto par ao leite descer. Também só vai mamar muito mais tarde, porque a partir da segunda hora que nasceu seu instinto é dormir e descansar. Mãe e bebê não podem perder esse momento de aprendizagem!


Continua na próxima semana!!!

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

“Parto Frankstein”


Já contei aqui a história de um parto que começa bem, mas por causa de uma série de intervenções desnecessárias acaba terminado em uma cirurgia abdominal, ou seja, uma cesariana. Hoje vou contar a história de um parto normal, também cheio de intervenções desnecessárias e não humanizado. É o que chamamos de “parto frankstein”, mas infelizmente o único que a maioria das mulheres que conseguem parir no Brasil conhecem (já que 52% dos bebês nascem por cesariana no país, isso é, as mulheres não tem a oportunidade de parir.

Nessa história nossa grávida vai se chamar Joana, mas poderia ser Ana, Maria ou Patrícia... Qualquer uma de nós.

A história começa como sempre, uma mulher grávida que conhece pouco sobre o parto. Conhece apenas as cenas de desespero mostradas na televisão e talvez um pouco do relato de sua mãe ou tias. O relato da avó, provavelmente é de parto normal, mas parece algo distante e de outro século, literalmente.

Bom, Joana confia no seu obstetra, mas não terá seu parto com ele, já que para isso teria que pagar uma taxa de disponibilidade, algo entre 1500 a 3000 reais. Ela escolhe então um dos hospitais que seu convênio cobre e é para essa maternidade que vai quando entra em trabalho de parto, para ser atendida pela equipe de plantão.

Joana chega ao hospital sentindo algumas contrações após sua bolsa ter rompido. O marido faz o registro e a internação da esposa.

Assim que entra as enfermeiras começam a preparar Joana. Começam pelo procedimentos de enema e tricotomia. O enema é a lavagem intestinal da mulher com glicerina. A tricotomia é a raspagem com gilete dos pelos pubianos da mulher. Ambos procedimentos desconfortáveis e invasivos para Joana. Ela se sente inibida e constrangida. Mas assume que esses procedimentos são necessários. O que ela não sabe é que esses procedimentos são realizados por conveniência médica, uma vez que já é de conhecimento cientifico que esses procedimentos não beneficiam o parto e que o pelo da mulher ou mesmo suas fezes não contaminam de forma alguma o bebê que esta nascendo.

Logo depois já colocam Joana no soro com ocitocina. Ela fica deitada na cama sem saber muito o que fazer e como poderia diminuir a sua dor. As contrações rapidamente ficam mais rápidas e fortes. Com muita dor Joana pede pela anestesia e recebe uma dose alta de peridural. Com a anestesia as dores passam, mas o trabalho de parto torna-se longo e demorado. Depois de algumas horas Joana já está se sentindo fraca pelo jejum.

Finalmente a dilatação está completa e o bebê começa a descer. Mas Joana está anestesiada e não sente o que está acontecendo. Não percebe a necessidade do seu corpo em fazer força, o puxo.

Joana é então levada ao centro cirúrgico e colocada em posição de Litotomia, deitada com as pernas para cima. As enfermeiras dizem a Joana para não gritar e só fazer força. Força grande, força cumprida! Joana esta exausta e não sabe mais como fazer essa força. Aliás, o que seria mesmo uma força cumprida?

Logo o médico faz uma episiotomia, um corte profundo no períneo de Joana. Esse procedimento é realizado sem o conhecimento ou consentimento de Joana, e apenas para conveniência médica, uma vez que já foi provado cientificamente que a episiotomia de rotina é desnecessária e que, se houver corte, ele cicatrizará melhor se for um corte natural, que segue a fibra muscular do que um corte profundo e reto, realizado pelo médico.

A “passagem” (espaço entre os ossos da bacia) de Joana esta diminuída porque, ao deitar. seu coxis posiciona de forma anterior, diminuindo o espaço. Além disso, deitada a gravidade não auxilia no trabalho de parto. Anestesiada Joana também não consegue fazer mais força. Seu bebê coroa (aparece a ponta da cabeça), mas não nasce. O médico, impaciente, resolve usar o fórceps (instrumento usado para puxar o bebê), sem contar a Joana para não assustá-la. Joana sente muita força e muita pressão. Finalmente o pequeno bebê nasce. Um tanto assustado e um pouco devagar com os efeitos da anestesia.

Joana está emocionada. Não percebe tudo o que acontece a sua volta. O pediatra chama o marido para cortar o cordão umbilical e leva o pequeno bebê para uma incubadora a parte para ser avaliado. Depois de fazer a sua avaliação o pediatra entrega o bebê a Joana e pode encerrar o plantão, uma vez que já fez toda a sua avaliação, pegando o bebê antes da mãe. Avaliações que poderiam ser realizadas depois que a mãe amamentasse, uma vez que o bebê está bem.

Com o filho nos braços Joana pode abraçá-lo e beijá-lo. Um pouco sem jeito, por não poder sair da posição de litotomia, tenta amamentá-lo. Mas o tempo é curto. Não dá tempo de colocá-lo para sugar ou amamentá-lo. Logo a enfermeira vem buscá-lo para levar ao berçário e passar por outros procedimentos, enquanto a mãe recebe os pontos pela episiotomia que sofreu.

Joana só voltará a ver o filho muitas horas depois, possivelmente no dia seguinte se já for noite. Vai para o quarto com o marido, sentindo-se disposta, mas ainda com dor de cabeça por causa da anestesia. Mais tarde, quando seu filho chega ao quarto ele já está dormindo, mas ela sente-se disposta a amamentar, mesmo com poucas explicações da equipe de enfermagem.

Felizmente Joana tem mais condições físicas para amamentar seu filho e já no dia seguinte estará em casa para poder se dedicar exclusivamente a ele. Infelizmente seu parto foi cheio de procedimentos invasivos e desnecessários, quando poderia ter sido muito mais tranquilo, amoroso, sem sofrimento e humanizado. Um parto que propiciaria ela maiores condições ainda de seguir amamentando seu filho.

Conhece histórias como essa?
Nesses casos, quando a mulher relata o tanto que sofreu num parto e que a dor é terrível, fica fácil de entender porque não desejam outros partos vaginais, já que de normal esse não teve nada.

Todos estão bem, mas o desejo de algo melhor permanece, o desejo de que Joana possa um dia ser a dona de seu próximo parto, sem tantas intervenções desnecessárias e possa curti ainda mais o seu momento com seu filho, garantindo um sucesso futuro na amamentação exclusiva por seis meses e prolongada por 2 anos ou mais.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Cadeia de Intervenções


Todas as grávidas precisam conhecer a historinha da Cadeia de Intervenções Desnecessárias que levam a uma cesariana e prejudicam a amamentação. É que, às vezes, a mulher acredita estar no caminho para ter seu parto desejado e amamentar com sucesso seu bebê, mas as intervenções medicas desnecessárias acabam levando para a situação oposta do que desejavam.

Conhecer a historia para poder interrompê-la em qualquer um desses pontos é fundamental! Informação é tudo não?

A historia da cadeia de intervenções começa assim....

Marina está grávida e o médico raramente quer conversar com ela sobre o parto. Ela tem poucas informações, mas sabe que quer o parto normal. Seu obstetra diz que concorda sim, e que se der vai fazer o parto normal. (As falas variam, se quiser saber mais da postura dos obstetras da uma conferida no texto "conversinha mole").

Chega o tão esperado dia que Marina entra em trabalho de parto. Assim que a bolsa rompe, ela e o marido ligam para o médico e correm para o hospital (infelizmente ninguém contou a ela que poderia esperar, se alimentar bem, descansar e ir para o hospital só quando estivesse em trabalho de parto ativo, com as contrações mais ou menos entre 2 e 3 minutos cada).

No hospital Marina é avaliada e com o exame de toque percebem que tem apenas 3 cm de dilatação. Mesmo sabendo que no hospital ela ficará mais desconfortável, já que é um ambiente inóspito, cheio de regras e correndo o risco de exposição a diferentes tipos de bactérias, o médico resolve internar a paciente. O marido concorda com o médico, porque já que não tem informações de como um trabalho de parto ocorre, sente se inseguro de voltar com a esposa para casa, e acha que o hospital é o melhor lugar para os dois. Se ele tivesse alguém apoiando, talvez sentisse seguro para esperar em casa, mas infelizmente não conhece o trabalho de doulas, obstetrizes ou enfermeiras obstetras.

Já internada no quarto do hospital Marina sente se fora de lugar. Não sabe o que fazer e como aparentemente precisa de cuidados médicos deita-se na cama. Deitada sente muito desconforto durante as contrações. O marido, sem apoio, não sabe como ajuda-la a aliviar a dor, já que não conhece procedimentos não farmacológicos de alivio da dor (como massagens, banheira, chuveiro, bola, compressas e outros). Marina não foi informada também de que ela pode caminhar no quarto e que pode procurar uma posição que lhe seja mais confortável durante as contrações. Não sabe que essas atitudes ajudariam a manter o ritmo do trabalho de parto e acaba ficando deitada e quieta. Como esta bem desconfortável chama as enfermeiras constantemente, que muitas vezes realizam exames de toque, desconfortáveis e desnecessários, onde constatam que a dilatação não evoluiu e que o bebê, apesar de estar na posição correta, ainda está muito alto.

Marina e o marido não sabem o que essas informações significam e ficam ainda mais ansiosos. Infelizmente ninguém contou a eles que os primeiros 5 cm de dilatação são bem lentos mesmo e por isso o melhor é esperar em casa. Ninguém explicou que o bebê só começa a descer depois que a mulher dilatou os 10 cm e ele ainda estar alto agora não significa que a mulher não tem passagem. Os dois também não sabem que o ambiente desconfortável e a ansiedade inibem a produção natural de Marina de ocitocina, o hormônio que estimula a dilatação do colo do útero e as contrações.

Finalmente, depois de umas 4 horas no hospital, Marina e o marido sem comer nada até então, estão no limite de sua ansiedade, e ficam felizes quando o médico vem com uma nova intervenção. Explica que é um “sorinho” que vai ajudar Marina. O médico que nunca parou para dar muitas informações ou explicações a paciente não acha que é necessário contar que naquele “sorinho”, além de hidratar Marina que estava em jejum e sem água até aquele momento (o que não seria necessário, mas acaba virando protocolo por comodidade dos hospitais que já preveem que a mulher terminara em uma cirurgia. E como um dos efeitos colaterais da anestesia é o vomito, melhor que esteja de barriga vazia), o soro também contém ocitocina artificial.

O uso da ocitocina artificial aumenta de repente a intensidade das contrações. Ficam mais longas e mais fortes de uma hora para outra. Com um intervalo entre elas que não da nem para respirar. Mariana permanece deitada, já que agora o soro na veia limita ainda mais seus movimentos. Como não conhece os métodos não farmacológicos para alívio da dor começa a pedir desesperadamente pela anestesia. A equipe de enfermagem a avalia e afirma que ela não pode receber a anestesia ainda. O marido fica revoltado, não entende porque ninguém da a anestesia para sua esposa, já que nenhum profissional de saúde parou para explicar a ele que existe um protocolo, que a anestesia só deve ser dada ao 8cm de dilatação, para não interromper a evolução do trabalho de parto. Sem nenhum suporte, a família ainda tem que ouvir comentários como "não precisa gritar, deixa de ser exagerada” ou "agora que já fez precisa aguentar a dor”.

Com as contrações em um ritmo muito maior do que o seu corpo estava preparado para aguentar, já que quem as comanda agora é a ocitocina artificial no soro e não a ocitocina que o proprio corpo produz, Marina começa a ter dificuldades para respirar. Não sabe se faz força, ou que horas fazer força, já que ninguém a orientou quanto a perceber o puxo, que é o seu próprio corpo indicando a hora de fazer força. Com a pouca oxigenação causada por essa situação promovida pelo uso da ocitocina artificial, os batimentos cardíacos do bebê começam a diminuir e a equipe medica constata isso na próxima ausculta.

Informam então ao marido que sua esposa precisa ir para o bloco cirúrgico. Que ela não tem dilatação (esquecem de dizer que já esta com cerca de 6cm e que desse ponto em diante, se respeitado o processo natural do trabalho de parto, a dilatação seria muita mais rápida) e afirmam por fim que o bebê já está em sofrimento. Com pavor de que algo aconteça com a mulher e o filho o marido concorda com a cesariana.

A mulher vai embora sozinha para o bloco, sem o seu acompanhante de sua escolha, e o marido fica para trás para se arrumar para o bloco. A equipe rapidamente se movimenta preparando a cirurgia sem muitas explicações ao casal. Enquanto a mulher toma a anestesia algumas pessoas da equipe oferecem palavras e conforto e o marido só entra novamente após a anestesia.

O pequeno bebê é arrancado da barriga da mãe. Como foi realizada uma cesariana o cordão umbilical precisa ser cortado mediatamente, sem chance de que ele tenha seu tempo para aprender a respirar e sem poder receber o restante do sangue da placenta, prevenindo uma futura anemia. O primeiro a pegar o bebê é o pediatra, e não a mãe (que não vê nada, tendo as mãos amarradas e um pano a sua frente) ou o pai (que se divide entre tirar fotos do bebê e contar a esposa o que esta acontecendo). O pediatra precisa aspirar o bebê que, por não ter passado pelo canal de parto, tem ainda muito liquido amniótico no pulmão. O bebê que não teve seu sistema sensório motor preparado pelo toque no canal de parto durante as contrações, e por isso chora, desorientado com o primeiro toque na sua pele, uma toalha áspera.

Como os batimentos estavam baixos antes de nascer e pode ter alguma dificuldade respiratória, como consequência da própria cesariana e da anestesia, o bebê é enrolado no pano e a mãe pode apenas dar um beijo desajeitado no seu filho. Não consegue pegá-lo ou abraçá-lo. Ainda não pode conferir se tem todos os dedos e o quão perfeitinho é. O bebê é levado para observação para receber oxigênio. A nova mãe fica lá, sozinha, sendo costurada após a extensa cirurgia abdominal que passou.

Mais de três horas depois, no quarto, é que os novos pais vão se encontrar com o seu bebê. A mãe sente dores na cirurgia abdominal e mal consegue se mover na cama, precisa de ajuda até para ir ao banheiro. Os seios estão cheios, inchado e doendo, já que o colostro se preparou para descer com os hormônios do parto, mas o bebê não sugou. Pai e mãe recebem o bebê enroladinho e limpinho, dormindo. O momento mais desperto após o parto já passou e agora ele precisa dormir, talvez tenha até recebido leite artificial ou água glicosada na mamadeira quando estava no berçário, se aquecendo  em uma incubadora (quando poderia ser aquecido pelo contato pele a pele com a mãe). Ele não sugou na primeira meia hora após o parto, então não aproveitou o momento em que o peito da mãe estava mais vazio e seu reflexo de sucção aumentado para aprender a pega correta e aprender a sugar.

Quando finalmente acorda a mãe tenta sentar desajeitadamente na cama para oferecer o peito. O peito cheio já dificulta a pega do seu pequeno filho. Ele suga só um pouco, mas parece não sair muito leite. As enfermeiras oferecem pouco suporte já que tem muitas outras atividades e acabam introduzindo o leite artificial ao bebê. Pronto, esta armada uma receita para um insucesso na amamentação.

Dois dias depois a nova família esta em casa e agora vai descobrir sozinha como cuidar e amamentar seu filho. Talvez ela seja forte o suficiente para não ter uma depressão pós parto, talvez ela seja determinada em amamentar seu filho, sabendo dos benefícios. Talvez sem muitas intervenções e com apoio da família ela possa seguir seus instintos e tenha sucesso na amamentação. Mas esse capítulo vamos deixar para um próximo post!

A parte boa dessa historia? Que mãe e bebê estão em casa juntos, felizes e saudáveis.

O que tem de ruim? O parto, que deveria ser um momento de amor, alegria e empoderamento da mulher que trás seu filhos ao mundo, foi um momento de dor, angustia e medo. A mulher teve o parto que desejou roubado. Talvez ela nem fique sabendo que a cesariana e as dificuldades na amamentação foram causadas por intervenções desnecessárias no seu parto e que sua historia poderia ter sido muito diferente. Talvez ela nem entenda de onde vem o vazio que sente. Mas talvez ela consiga buscar mais informações, sair da matrix como dizem as mulheres, e consiga, em uma próxima gravidez, o seu sonhado parto, curando as feridas deixadas por esse momento que lhe foi roubado.

Essa historia se parece com alguma que você já ouviu? Ou talvez se pareça com a sua historia! Levante-se, grite e empodere-se. Interrompa essa cadeia de intervenções em qualquer um dos pontos e recupere o seu parto.