quinta-feira, 31 de maio de 2012

A situação das cesarianas no Brasil, um bate papo entre amigas


Lembram do e-mail da minha amiga, que publicamos aqui na semana passada? Quem não leu vale a pena ler! Acho que muitas mulheres vão se identificar com as questões que ela coloca! É só clicar aqui!

E olha só como foi a minha resposta para ela! E vocês, o que responderiam???

Oioi,
olha o primeiro passo nisso tudo você já deu, é questionar esse “status quo” que vemos hoje. Costumamos falar que saiu da matrix! Discordo da sua mãe que você pensa muito a frente! Eu também penso muito sobre como será o meu parto e o que posso fazer para garantir que ele seja meu e que eu e meu bebê sejamos respeitados!

É assustador pensar que mais da metade dos nascimentos no Brasil foram por cesariana, no ano passado. As pessoas parecem se esquecer que Cesárea não é um tipo de parto e sim uma cirurgia abdominal de alto risco. E essa cirurgia vira algo normal. É muito estranho que a OMS indique que 15% dos nascimentos é aceitável ser por cesárea, já que é uma índice de possíveis complicações, mas no Brasil temos 54%!!!



Existem as mulheres que não tem informação e acabam sendo erroneamente induzidas a uma cesárea. Como você disse, estão sensíveis e muitos se aproveitam desse momento. É muito difícil para uma mulher ouvir que seu filho pode morrer, seu bebê está sofrendo ou se esperar mais é por sua conta e risco. Sem conhecimento e sem apoio a grávida acaba optando pelo o que parece a melhor solução, mais segura, quando na verdade não é.

Muitas mulheres também tem medo dos mitos do parto normal, como a vagina vai ficar alargada ou a dor é insuportável e por ai vai. Mas na maioria das vezes elas estão pensando nos partos normais “franksteins” que vemos na TV ou que nos contam, porque as noticias ruins e cabeludas são sempre as que circulam com mais facilidade. A psicóloga que trabalha comigo no curso de gestantes costuma perguntar sempre sobre esse nosso imaginário do parto. Porque como nunca passamos por isso não conseguimos criar uma imagem real e ai, o que criamos, é a imagem da TV. Uma mulher sofrendo, desesperada, que depende de assistência médica para sobreviver. Submetida a procedimentos horríveis, que hoje já sabemos que cientificamente são desnecessários e não recomendados (como tricotomia, enema,episiostomia e outros), especialmente se acontecem sem o consentimento da mulher. Na Rede Globo uma criança nascer saudável e a mulher estar viva após o parto é praticamente um milagre.

Infelizmente também existem aquelas mulheres que optam pela cesárea por ser prático, rápido e indolor. Elas então agendam o dia do bebê nascer, de acordo com a atribulada agenda de festas e trabalho. Passam no salão antes, já que a prioridade é estar bonita nas fotos e não a saúde do bebê. E depois da cirurgia se dopam de remédios no pós operatório enquanto uma enfermeira cuida da criança. Também não amamentam e logo passam para o NAN namamadeira, já que amamentar exige tempo e dedicação. Depois contratam uma babá para cuidar do filho. Costumo dizer que são as crianças terceirizadas. Infelizmente uma realidade da nossa sociedade. Mas é exatamente por isso que falamos que precisamos mudar a forma como estamos nascendo. Uma criança que nasce assim vai viver desconectada da mãe e da família, ligada num mundo artificial. Uma mulher que pariu seu filho e sentiu a dor e o prazer desse momento tem um instinto materno de proteção. Não entrega a cria para ninguém. Éfisiológico e hormonal. É claro que não significa que quem teve cesárea não vai ser uma boa mãe, mas as escolhas e decisões começam desde a gravidez e o parto, de como cada mulher vai criar seu filho.

Agora o pior são as cesáreas por necessidade dos médicos. O que a sua GO falou não é verdade. Não tem que ser especialista em nada para fazer um parto normal ou natural e muito menos um parto na água. Aliás, os médicos e enfermeiro obstetras não fazem o parto, eles assistem ao parto, especialmente se estamos falando de um parto de baixo risco, o papel deles é mínimo. Como você disse, quem pari é a mulher e não o médico.

Temos um problema hoje que vem desde a formação médica. Muitas vezes os residentes se formam sem nunca ter feito um parto normal, dependendo do hospital em que trabalham. Ai eles tem medo do desconhecido. Medo de algo que não são eles os “super médicos com saberes inquestionáveis” que controlam. Então induzem a mulher para uma cirurgia, onde eles controlam, e fecham os olhos para as evidencias científicas que mostram os nascimentos de pré maturos (comtodas as consequências que são bem consequências, como bebês na UTI, problemasrespiratórios e outros) por cesáreas agendadas e o aumento de morte materna devido a complicações cirúrgicas.

Agora ainda tem os médicos que estão preocupados com a questão financeira e no seu interesse próprio, e não no interesse da mulher. A cesárea eles fazem em 15 minutos. Sem brincadeira, em quinze minutos já entraram e saíram do bloco. E como você pode presenciar é uma cirurgia muito invasiva, brutal e num ambiente desumano. É assustador como, próximo a feriados, especialmente como carnaval e ano novo, as taxas de cesárea sobem absurdamente. Muitos médicos não estão dispostos a acompanhar as mulheres durante o trabalho de parto, que não tem uma duração determinadas!

E ai, para induzir a cesárea ouvimos de tudo... desde que a circular de cordão pode enforcar o bebê ao nascer, a ele não esta encaixado com 29 semanas então vamos agendar a cesárea, ou ele é grande demais com 3 kg, ou sua pressão 13/08 está alta demais, você não tem passagem, não teve dilatação depois que a mulher já dilatou 5 cm... enfim... tem os absurdos que eles usam para manipular as mulheres e infelizmente as situações que eles realmente estão mau informados!

A maior tristeza de toda essa história é que essa situação que você encontra entre as mães eu pergunta sobre o parto no Teste da Orelhinha não é exclusiva de uma cidade pequena, acontece também em BH.

Aqui temos visto que o que adianta é mesmo um movimento debaixo para cima. Ou seja, mulheres informadas que começam a questionar essa situação. Pressionam os médicos, buscando o melhor para elas, buscam apoio de enfermeiras obstetras para construir equipes de parto domiciliar, constroem seu Plano de Parto, questionam os protocolos dos hospitais (como não deixar a mulhercomer, ficar no soro direto, não deixar o acompanhante sempre com a mulher).

Acho que é esse movimento que vocês têm que começar ai. Questionar mesmo, perguntar, se informar. Buscar apoio no SUS também costuma funcionar, porque minimamente tem uma política mais direcionada para o parto Normal e para a humanização.

Quem já está grávida eu aconselharia a construir um Plano de Parto, buscando informações pela internet. E ai com ele em mãos ir de médico em médico colocando o que deseja, como entende o seu parto e vendo a reação deles. Vai trocando de obstetra até encontrar um que realmente esteja disposto a trabalhar junto com a mulher.

Bjus
Lu

domingo, 27 de maio de 2012

Ser mãe faz parte do mistério


Por Janine Araujo ( mãe e psicoterapeuta sistêmica)

Eu não queria ser mãe. Para mim, a maternidade sempre foi algo ideologicamente valorizado, um dado imposto para as mulheres, com dificuldades não muito faladas e somente um lado glorificado. Então, achava que era somente me prevenir e evitar este encontro. No entanto, descobri-me grávida. Enxerguei-me na seguinte situação: “não é você quem decide (...) A vida que está em você decide”.[1]

A gravidez foi um período de ansiedade e mistério. Ansiedade por não ter idéia de como me sairia como mãe e mistério por gerar algo sem saber como se dá esse processo – algo cresce e adquire vida em você, modifica seu corpo e suas emoções. Passei a ser uma chorona de primeira na gestação, sendo que antes continha os menores sentimentos...

Quando a minha bolsa estourou, estava sozinha em casa e a minha primeira exclamação foi: “Como assim, a bolsa estourou? Eu ainda não estou pronta!”. Como se esse mistério fosse parte do meu domínio pessoal... Liguei para o meu marido, que chegou tão rápido quanto também assustado, pois não esperávamos aquela data.

Após todo o processo de parto me vi diante de um ser frágil e totalmente dependente. O mistério então se fez presente: como aquele ser, todo perfeitinho, podia ter saído de mim?! É exatamente aquela explanação de Mahfoud que “não há mãe que não fique maravilhada pelo fato de o filho existir e ter uma perfeição muito maior que qualquer coisa que nós podemos realizar; porque tudo que a gente faz é imperfeito. Tanto é que frequentemente chega a dizer “Não é meu! É meu, mas não é meu...”[2]. Vi então que fazia parte desse mistério, mas sobre o qual não tinha o menor controle, tampouco muito conhecimento...

            Hoje vejo como o fato de ser mãe é realmente incrível – difícil, sem dúvida, pois não se nasce uma mãe, se torna mãe através do contato real com o filho que lhe foi “emprestado”, nas palavras de Saramago. Não tenho controle nenhum sobre a maternidade, como um dia achei que era possível e vejo que, como nos lembra Mahfoud, somente sou mãe através da afirmação do ser do meu filho.   

http://janine-araujo.blogspot.com.br

[1] MAHFOUD, Miguel. Experiência elementar e intervenção psicológica. 2005ª. Mimeo.
[2] Ibdem.

Toda mulher sonha em ter filhos. Hein?!?


Ser mãe não é garantia de felicidade - e se você não quer ter filhos já deve ter 
sentido a cobrança





Difícil dizer em que momento ficou estabelecido o padrão de que mulher só é completa se gerar um filho. Mesmo assim, muitas mulheres perdem noites e noites de sono pensando nisso – quiçá mais do que as necessárias para cuidar de um bebê. As dúvidas que surgem com o sentimento de obrigação de ser mãe são muitas: filho é a etapa natural depois do casamento? Ele vai garantir companhia para quando eu ficar velha? Só deveria pensar em filhos depois de casar? Estou preparada para abrir mão de parte da minha vida – e da minha carreira – para criar uma criança? E, mais importante: eu quero esse bebê ou é isso que os outros esperam de mim?


A resposta para todas essas perguntas é: calma. Melhor do que tentar suprir expectativas (suas, de sua mãe, de suas amigas, do seu marido) é tirar o peso dessa decisão. Mesmo na sociedade do “pode tudo”, em que as mulheres trabalham, sustentam casas, se separam se não estão satisfeitas no casamento, vivem solteiras se assim quiserem e blá-blá-blá, a maternidade é tratada como se fosse a única possibilidade de a mulher se tornar plenamente realizada.

A psicanalista Cecília Faria, professora doutora da Faculdade de Psicologia da PUC- SP, discorda. “Não é nem nunca foi preciso ter filhos para ser feliz. Existe uma mística em volta da maternidade que vem sendo alimentada há muito tempo. Nas últimas décadas, parte da medicina focou em desenvolver meios para que as mulheres com dificuldade para engravidar conseguissem realizar esse sonho, e isso reforça a necessidade de a mulher gerar uma criança”, opina. Claro que os avanços da medicina são bem-vindos, aumentando a possibilidade de ser mãe – mas o desejo só é válido se for genuíno,particular, e não de quem segue um padrão sem se questionar. Não ter filhos não faz ninguém ser “menos mulher”.

Para a psicóloga Cecília Faria, a cobrança social em torno da maternidade vem das próprias mulheres basicamente porque o relógio biológico não é um mito, mas uma condição fisiológica. “A menstruação é uma frustração mensal. O sangue reforça a ideia de que a mulher não conseguiu alcançar o que seu corpo esperava dela. Quando ela atinge uns 35 anos, o corpo grita para que complete aquela etapa”, afirma.

Tempo integral
Além disso, existe a expectativa social, para a qual chama a atenção a psicanalista Diana Corso, autora de Fadas no divã. “Na revolução industrial [no século 18], com o surgimento da burguesia, as mulheres agregaram à função de geradoras, a de criadoras. Então, mesmo que dentro de casa, a mulher ganhou um papel social: é a que cuida, organiza, abnega, e que se realiza com tudo isso.” Para ela, o fato de hoje existir uma liberdade para fazer as escolhas que quiser faz com que a mulher acabe se perdendo. Na opinião de Cecília, a frustração feminina é causada em parte pela sociedade, que, apesar de incentivar as mulheres a serem mães, não facilita o papel de quem escolhe ter carreira e filhos. “A sociedade está preocupada com produção, somente. Tanto que as mulheres que trabalham e engravidam precisam ser amparadas por lei para poder ficar cuidando de seus filhos.”

O melhor antídoto para lidar com tanta expectativa é entender que, seja qual for a escolha, nada vai garantir felicidade plena – tampouco transformar a vida num caos. A seguir, cinco mulheres que optaram por diferentes caminhos contam como descobriram, com ou sem a maternidade, que não é possível ter nem controlar tudo. No fim das contas, a tentativa de “acertar” (seja lá o que isso signifique) se mostra inútil. Escolha nenhuma livra ninguém de conflitos, medos, dúvidas, vazios. Nem ter – ou deixar de ter – filhos.


Victor Affaro
Hoje,nunca mais: Isabel quis ser mãe, mas não foi.“Saquei que não precisava de um filho para me sentir completa”
Hoje, nunca mais: Isabel quis ser mãe, mas não foi. “Saquei que não precisava de um filho para me sentir completa”


Hoje, nunca mais

Isabel Moreira, 40 anos, sempre quis ter uma família e, por consequência, ser mãe. “Adoraria ver a minha projeção andando por aí, porque filho é uma projeção, né?”, diz. “Careta” assumida, ela explica que sempre atrelou a ideia de filho a uma família completa. “Não tenho nada contra quem faz produção independente, mas cresci em uma família muito ausente, pouco estruturada, e decidi que, se fosse para ter um filho, seria com alguém legal que topasse formar um núcleo presente.” Só que a “conjunção astral” de período fértil, pessoa legal e vontade de ser mãe não aconteceu. Bel foi casada durante nove anos (está separada há oito meses, por razões que nada têm a ver com maternidade, ou a falta dela) e sentiu o relógio biológico bater forte dos 30 aos 35 anos. 

“Eu quis muito. Queria a família Doriana, que nem esses adesivos de carro que têm a mãe, o pai, os dois filhos, o cachorro e o gato. Só que, quando comecei a falar do assunto, meu marido foi categórico: ‘Ó, se você quiser ter filhos, não é comigo que isso vai acontecer’.”

Foi difícil para a produtora, que foi aconselhada pelas amigas a aproveitar uma noite de bebedeira do marido para “esquecerem” da camisinha. “Mas isso ia contra a minha vontade de só ter um filho se fosse numa situação legal”, explica. Ficou com isso na cabeça durante sete anos, se perguntando se estava disposta a abrir mão daquela vontade, até que se deparou com uma foto do filho recém-nascido de um ex-namorado. “Não fiquei chorosa, pensando ‘poderia ter sido eu’. Não senti nenhum vazio e foi ali que saquei que realmente não preciso de um filho”, explica. Bel sabe, porém, o peso que isso teve em sua vida – principalmente para os outros. “O problema é que as pessoas não aceitam isso. No começo até falava mais sobre o assunto. Depois, parei de me explicar. Não devo nada a ninguém.” Isso não quer dizer, no entanto, que ela esteja isenta de julgamentos. Depois da fase do “e aí, quando vem o de vocês?”, ouvido em almoços em família e chás de bebê – a que ela faz questão de ir, porque adora crianças –, agora Bel é vista quase como uma ameaça.“É como se eu não valesse nada porque não tenho filho. Não sei o que é amor, não sei o que é cuidar de outra pessoa, me doar... E, ao mesmo tempo, acham que minha vida é perfeita, que não tenho problemas.
Não sou a pessoa mais feliz do mundo e nem com tempo sobrando só porque não tenho filho. Mas também não acho que vou morrer sozinha só porque não tem alguém para me amar incondicionalmente. Acho ruim projetar na criança um buraco seu”, provoca. 
Victor Affaro
Lucia nunca quis, mas de repente se viu grávida.  “Pensei que se algo acontecesse durante o aborto, o sofrimento que geraria seria maior do que o de ter um filho”
Lucia nunca quis, mas de repente se viu grávida. “Pensei que se algo acontecesse durante o aborto, o sofrimento que geraria seria maior do que o de ter um filho”


O mundo não acabou

“Se tiver um filho não posso mais morrer!”, pensava a diretora de arte Lucia Farias, 31 anos, quando engravidou de Alice. A ideia de ser mãe representava para ela o máximo da perda de liberdade. Por isso, não ter filhos era uma decisão pensada com o marido, um fotógrafo com quem está desde 2001. “Não cabia um filho na minha vida”, explica ela, que nasceu no Rio Grande do Sul e mora em São Paulo há uma década. Só que um dia o casal não usou preservativo e, semanas depois, ela viu o sinal de positivo no teste de farmácia. “Pensei: ‘Fodeu!’. E senti raiva”, lembra. Decidiu abortar – nem quis ouvir o coraçãozinho do bebê na consulta para não mudar de ideia. Mas se assustou quando soube dos riscos do procedimento, como uma possível hemorragia e ruptura do útero. “Pensei que, se acontecesse algo comigo, o sofrimento que geraria seria maior do que o de ter um filho. Então, decidimos seguir.” E, já que era para ter, ela fez questão de receber a filha em um parto natural (sem anestesia).
Hoje, três anos depois, Lucia não tem mais tanto tempo para elucubrações. “A realidade é mais leve do que ficar imaginando como seria. É um dia por vez. Vamos lidando com os desafios à medida que aparecem. Hoje, tenho um ser com quem me ocupar, dedicar energia, tempo.” E uma ansiedade que sempre a acompanhou na vida está mais light desde a chegada de Alice. “Tomo atitudes mais pensadas, estou menos crítica”, avalia. Agora, o que importa para ela, acima de tudo, é o bem- estar de Alice. Desde bebê, leva a menina do escritório a festas na casa de amigos. E isso comprova o que ela considera sua grande descoberta pós-maternidade: “Sou a mesma Lucia, não mudei minha vida”.

Ela também descobriu que o marido é um paizão que divide as tarefas desde que a mulher voltou a trabalhar. Com ele, Lucia começou a frequentar um pediatra que até hoje os ajuda a dissolver conflitos sobre a educação da filha – o que evita as típicas brigas de casais que levam à separação muitas famílias. “Às vezes quero obrigar a Alice a comer, e o pai não, então conversamos com o pediatra. Em muitos casos, a conclusão é que cada um tem o seu jeito de lidar e é preciso respeitar as diferenças”, conta. Na parte que lhe toca, ela está tranquila. “Mesmo sabendo que um dia vou morrer, fico feliz por estar criando um ser humano da melhor maneira que posso!”, comemora.

Victor Affaro
Alessandra* engravidou, mas acabou dando o filho para adoção. “Foi muito difícil voltar para casa sem o bebê”
Alessandra* engravidou, mas acabou dando o filho para adoção. “Foi muito difícil voltar para casa sem o bebê”


Mãe, eu?

Aos 22 anos, Alessandra, uma menina do interior de Minas Gerais, decidiu ganhar “a cidade grande”. Partiu para São Paulo e, enquanto aprendia o ofício de manicure, se descobriu grávida do namorado. “Ele era uma pessoa difícil, aparecia quando queria e eu aceitava”, admite. E não sentiu a alegria que costuma ser associada à maternidade. 
“Aquele filho significava parar tudo o que estava fazendo e voltar para Minas”, diz ela, que logo decidiu abortar. Na primeira consulta médica descobriu que o feto já tinha quatro meses. “Mesmo assim perguntei sobre um aborto e o médico disse que ninguém faria”, lembra. “Primeiro fiquei desesperada, depois brava comigo e com o pai, que, se fosse mais presente, poderia me ajudar na decisão. Passei duas semanas usando roupas largas para esconder a barriga.” Passado algum tempo, Alessandra assumiu que não queria aquele filho. “Não estava preparada.” Sem saber o que fazer, pediu ajuda a uma amiga, quetinha uma história de adoção na família. Acabou chegando a uma agência onde o processo é feito de forma ilegal, sem consentimento ou parecer do Estado. O casal interessado no bebê de Alessandra deu suporte financeiro e psicológicoaté o fim da gravidez, o que ela reconhece ter sido imprescindível para que o processoficasse um pouco mais fácil. Mesmo assim, assume que foi a coisa mais difícil que já fez.
“Não é fácil entender que seu filho, que cresceu na sua barriga, vai ser mais feliz com outras pessoas”, diz. Ela lembra que era difícil ter aquele barrigão, as colegas perguntando o sexo e o nome, e ela sem saber o que dizer. “Para os desconhecidos, criava uma história, que estava casada e que ia parar de trabalhar para criar o nenê.”
Com o fim da gravidez, os sonhos deram lugar à realidade. Alessandra teve parto normal e pouco contato com a criança. A mãe adotiva tinha tomado hormônios para produzir leite e foi quem o alimentou desde o nascimento. “Foi muito dolorido voltar pra casa sem o bebê. Passei mal, queria conversar com alguém, mas não podia. Para piorar, acabei mudando de emprego e de casa para garantir que o mínimo possível de pessoas soubesse o que tinha acontecido. Uma semana após o parto, me vi sozinha, com o corpo inchado e sem bebê. Foi a pior semana da minha vida. Sofro até hoje por não poder contar isso a minha família. Eles não entenderiam – minha mãe não falaria mais comigo. Imagina passar pelo maior trauma da sua vida e não compartilhar?”

Hoje, depois de sete anos de muita terapia, Alessandra entendeu que não se arrepende da sua decisão, mas sim de não ter condições de proporcionar a vida que queria para a criança. Mesmo sete anos depois, o assunto ainda é a pauta de 70% das sessões com a psicóloga. Alguns traumas, porém, já foram superados. “Sei que minha vida e a dele são muito melhores por isso. Não tenho a sensação de que é meu filho que está por aí porque mãe é quem cria. Se eu resolvesse procurá-lo, ele seria o filho de outra pessoa”, desabafa. Mas Alessandra ainda alimenta o sonho de ser mãe. “Acredito que vou achar um homem para casar e formar uma família direito”, aposta.

* O nome é fictício para proteger a identidade da entrevistada
Victor Affaro
Três de uma vez: Ieda quis ter o segundo, mas teve trigêmeos.  “Toda noite eu ajoelhava e perguntava: ‘Meu Deus,  quando terei minha vida de volta?’”
Três de uma vez: Ieda quis ter o segundo, mas teve trigêmeos. “Toda noite eu ajoelhava e perguntava: ‘Meu Deus, quando terei minha vida de volta?’”

Três de uma vez

A empresária Ieda Cotrim, 40 anos, estava casada há cinco quando o filho da mesma idade pediu um irmãozinho. “Um estava bom, mas topei engravidar de novo.” No primeiro ultrassom, surpresa: três corações pulsavam em seu ventre. “Achei que fosse piada.” Saindo do consultório, ela e o marido sentaram na calçada e se olharam. “Falei: ‘Agora vamos ter que ficar juntos mesmo’”, conta.
A ironia está no fato de que Ieda frequentava academia e praia desde a adolescência e estressava sempre que via uma celulite. Além disso, sempre gostou “de coisa boa”, e o padrão financeiro da família estava em ascensão. Porém, pelos oito meses que se seguiram, nada mais importava. “Pensei que daria para ter uma babá, mas quando os bebês chegaram vi que precisava de duas em tempo integral.” Só que, quando as candidatas se deparavam com as planilhas nos berços (lembrando a hora que cada um havia sido trocado e alimentado) e com o serviço triplicado, fugiam – às vezes no mesmo dia.“Passaram umas 30 pessoas pela minha casa. Toda noite, eu ajoelhava e perguntava: ‘Quando terei minha vida de volta?’.”

Ieda conta que mal dormiu ou olhou para o marido por dois anos. Enquanto ele tocava a joalheria que eles abriram em São José dos Campos, onde moram, no interior paulista, ela trocava fraldas e amamentava crianças em série, preparava comida e colocava o trio para dormir. O tempo também passava para Pedro, o primogênito. “Perdi uma parte do crescimento dele. Sinto falta de ter visto ele ser alfabetizado”, lembra ela. “Queria ter feito lição de casa com cada um, mas não dá quando se tem três de uma vez. Fiz o melhor que consegui”, pondera. Ela reconhece como maior aprendizado ter tirado o foco dos pequenos problemas que antes a desestabilizavam. 

Hoje não me importo se engordo 2 quilos ou se vejo uma celulite. Meus filhos valem muito mais que isso, e aprendi a me aceitar como sou.”

Ela também sabe que o padrão de vida da família estaria mais alto se não tivesse tido mais três filhos, “mas o que importa é que eles estão bem”, garante. Hoje, os trigêmeos (Eduardo, Flavio e Caio) estão com 8 anos, o mais velho, com 13, e ela não troca por nada a satisfação de ver a mesa cheia. Agora se prepara para a adolescência de Pedro. Mas não abre mão do tempo que tem para o marido, os amigos, as viagens e para si.
Victor Affaro
Família margarina?  Bianca sonhava em ser mãe e foi aos 25.  “Eu, que queria tanto um filho,  passo por momentos difíceis... Fico imaginando  o que passam mulheres que não desejaram”
Família margarina? Bianca sonhava em ser mãe e foi aos 25. “Eu, que queria tanto um filho, passo por momentos difíceis... Fico imaginando o que passam mulheres que não desejaram”

Família margarina? 

Casar e ter filhos era o sonho da artista plásticaBianca Rego, 29 anos. Aos 21, ela realizou a primeira parte: casou-se, com um publicitário, e quis engravidar três anos depois. “Todo mês comprava teste de farmácia antes de a menstruação atrasar. Uma piração”, lembra. A fase durou um ano. Até que resolveram ir ao médico. Mas não chegaram à consulta: foi só desencanar para descobrir que estava esperando Theo. Nas palavras dela, a gestação foi “mágica”. Ao contrário do que se queixam muitas mulheres, o pai da criança embarcou na gravidez desde o início. “Minhas amigas contam que os homens só se veem como pais quando o bebê nasce. Mas o meu marido sentia até enjoo comigo. Era ótimo porque tinha com quem compartilhar”, diz.
O efeito colateral, porém, era se irritar em momentos em que ele, por exemplo, falava para a médica que a mulher não havia se alimentado como deveria. “Eu tinha feito o que ele estava dizendo que não fiz, só que meu marido não tinha visto e falava com a médica algo que eu devia falar”, lembra. Hoje, Theo tem 4 anos e os dois entenderam que é fundamental cada um ocupar seu papel na educação. “Tem momentos em que a criança só quer a mãe, quando está doente ou tem pesadelo, por exemplo. Se o pai quiser participar vai atrapalhar”, afirma. Embora se sinta realizada com a maternidade e passe metade do dia com o filho, admite que a experiência não a transformou em uma mulher completamente feliz ou satisfeita. “Eu, que queria tanto um filho, tive com o homem que amo e mesmo assim passo momentos difíceis... Fico imaginando o que passam mulheres que não desejaram ou foram mães solteiras.”
A primeira dificuldade à qual se refere ela sentiu quando chegou da maternidade. “Depois de mamar, o Theo chorou por três horas. Foi desesperador.” Quando foi trocar a fralda, entrou em pânico. “Senti medo de não conseguir fazer nada sozinha, de não ser capaz de criar aquela criança. Mas passou logo essa sensação.” Bianca também sofria para amamentar, pois seu seio inflamava. “Me sentiria impotente se não conseguisse, mas amamentei até ele ter quase 1 ano. Acho uma loucura ninguém ter me contado esses perrengues. Faço questão de dizer o que acontece na real para minhas amigas.” Mesmo assim, ela pensa em ter mais filhos. Mas já sabe que isso é só uma opção – e não garantia de felicidade

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Pensando sobre o gravidez e parto...


Esses dias recebi um e-mail de uma amiga de faculdade, preocupada com a situação dos partos na sua cidade, um pequeno município de Minas Gerais. Achei o e-mail dela fantástico, de uma profissional de saúde preocupada com a situação da atenção à gestante e ao bebê e de uma mulher começando a buscar o seu parto, sem querer se entregar aos conceitos absurdos de que cesariana seja uma forma de parto e não uma cirurgia abdominal de alto risco!

Oi (de novo) Luisa!

Bem, aqui é quase um consenso essa questão do parto cesariano. Eu particularmente quase sou linchada quando falo sobre parto normal, ainda mais sobre parto normal humanizado. Tenho uma grande amiga de infância que hoje é enfermeira, já fez também curso de doula e mora em Santa Catarina. Foi ela quem começou a chamar minha atenção para o quanto estamos aprendendo a conviver com a ideia de que o parto cesário é muito mais seguro, rápido, indolor, tranquilo e com menos riscos ao bebê e à mãe. E realmente estamos. Isso me preocupa muito, principalmente porque, considerando que moro aqui e pretendo engravidar nos próximos dois ou três anos, como vou conseguir assistência, como encontrar uma equipe com uma filosofia menos "medicalizada" sobre o parto? Isso não devia ser algo natural? Por que o médico é que tem q fazer o parto? Não foi sempre um trabalho da mulher (e do bebê)?

Hoje trabalho com exames audiológicos diversos, incluindo o Teste da Orelhinha. Até hoje, desde que compramos o equipamento, no final do ano passado, já fizemos em média 380 exames. Para todas as mães eu pergunto na anamnese sobre detalhes da gestação e parto. Luisa, você acredita que até hoje, apenas uma delas fez parto normal??? E apenas duas tiveram bebês de 39 ou 40 semanas?? É uma unanimidade não esperar a mulher entrar em trabalho de parto e ainda, mesmo q o bebê ou a mãe não estejam sofrendo riscos, o parto é sempre feito com 37 ou 38 semanas. Fico me perguntando... porquê será q a natureza instituiu então a idade gestacional para 40/41 semanas?? Já que, segundo os médicos, o bebê está 'pronto' com 37 semanas?? Isso tudo me deixa muito indignada, e mais ainda por ver como é natural pra todas as mulheres pensarem que uma cirurgia abdominal desse porte possa ser menos incomoda, mais segura, mais tranquila e mais rápida. Mais segura e tranquila pra quem?? Para os médicos?

Certa vez perguntei para minha ginecologista como seria o processo caso eu quisesse ter um parto na água. Ela disse q esse tipo de coisa só existe no exterior, onde pagam bem para os médicos acompanharem a gestante pra ela ter o filho na hora que ele quiser nascer, e ficar a disposição. E que o médico tem que ter especialização nessa área e são poucos que tem e que querem. E foi colocando tanto porém, de forma tão insensível, que eu nunca mais voltei lá. Eu só queria me informar, e ela veio com essa bomba. Eles mexem muito com o emocional da gente, pq sabem o quanto uma mulher grávida é susceptível a ceder perante qualquer probabilidade (segundo os médicos) de risco para ela e o bebê. E obviamente, o que é mais cômodo e rentável pros médicos, sempre vai ser defendido por eles.

Li muito sobre parto humanizado depois que conversei com minha amiga, e principalmente depois que algumas poucas amigas demonstraram a mesma preocupação que eu. Já fico pensando que se for pra ter meu filho em BH, farei esse esforço que valerá muito mais a pena do que qualquer coisa.

Fiquei terrivelmente assustada ao aceitar fotografar a cesariana de uma das minhas melhores amigas aqui da cidade. Sou acostumada com cirurgias e ambiente hospitalar, mas quase quase passei mal. Fiquei assustada com aquela sala fria, tanta gente desconhecida por perto, minha amiga sendo amarrada na maca, como se estivesse sendo crucificada! Sem poder ter contato com o bebê, sem poder tocar, abraçar, amamentar depois do parto... Ficou duas horas lá naquela mesa, tendo que se contentar com as fotos que eu vinha trazendo pra ela ver no visor da máquina e com um "cheirinho" na neném, que a enfermeira "permitiu".

O banho do bebê me assustou ainda mais, passaram sabonete no rosto, no corpo, de forma tão brusca que eu quis arranca-la das mãos do pessoal. Eu falei: moça vai com calma... Ela respondeu: eu já fiz isso mais de mil vezes, to acostumada. E eu respondi: mas a bebê não. É a primeira vez dela! Enfim, saí de lá literalmente traumatizada. Principalmente porquê disseram que atualmente as cesarianas são bem menos agressivas etc etc... não vi nada disso. Pelo contrário, fiquei abismada com a "naturalidade" com que as pessoas lidam com esse procedimento...

Minha mãe diz que eu me preocupo demais e penso muito adiante. Não estou pensando só em mim, estou pensando em como a mentalidade das pessoas hoje está restrita e em como isso incomoda tão poucas pessoas. O Brasil é campeão em partos cesarianos!! Minha nossa!! Nem tem o que falar depois disso... aff...

Beijos!!

terça-feira, 15 de maio de 2012

Mães da Ocupação Eliana Silva


Esses dias tive o privilégio de poder participar um pouquinho da construção da comunidade Eliana Silva. Uma comunidade que se construiu e fortaleceu a cada dia de ocupação em um terreno abandonado há mais de 40 anos na região do Barreiro em Belo Horizonte.

Esse terreno servia de lixão, local para o tráfico de drogas, desmonte de carros roubados e desova de cadáveres. Até que na madrugada do dia 21 de abril mais de 300 famílias ocuparam o terreno e começaram a dar vida ao lugar. O primeiro passo foi limpar e organizar o espaço. Depois construir as barracas, de lona ainda, mas já um esboço de pequenas casas. O senso de comunidade foi crescendo, construíram uma cozinha e uma creche comunitária. Em poucos dias a solidariedade dentro e fora da ocupação garantia que ninguém passasse fome. Com a pequena creche algumas mulheres puderam voltar ao trabalho, tendo onde deixar seus filhos pequenos.

Cheguei na ocupação com o intuito de mostrar minha solidariedade e ajudar na organização da saúde. Junto com estudantes da área da saúde começamos um questionário com as famílias para levantar as principais demandas. Esses dados serviriam de informação para uma Audiência Publica prometida pela juíza, para uma reunião com o Centro de Saúde da área de abrangência e para planejar ações que pudessem empoderar aquela população em sua saúde.

Infelizmente nada disso aconteceu. Sem nenhum tipo de diálogo, desconsiderando as questões legais que de que a prefeitura não havia comprovado posse do terreno, a Juíza Doutora Luzia ordenou a reintegração de posse. A ação da polícia ocorreu sem aviso prévio, na madrugada do dia 11 de maio. Mais de 400 policiais intimidaram os 1500 moradores e funcionários da prefeitura de Belo Horizonte, cumpriram, constrangidos, as ordens de colocar em pilhas de escombros os poucos pertences dessas famílias.

O que tudo isso tem a ver com nosso blog sobre gravidez, maternidade e infância?

É simples. A maioria desses 1500 moradores eram mulheres. Mulheres mães e gestantes. Encontramos mais de 30 crianças com a idade de 0 a 1 ano. Muitas mais se contarmos até os 15 anos. E ainda três gestantes e outras mulheres que suspeitavam de gravidez.

E dois dias antes do Dia das Mães essas mulheres são brutalmente despejadas das pequenas casas que conseguiram construir. Do lar que encontraram naquela comunidade que se formava.

Acredito que todas as mães que acompanham o blog podem afirmar que uma de suas prioridades é construir um lar seguro para seus filhos. Era isso que essas mulheres estavam fazendo, mas foi destruído sem nem mesmo uma conversa.


Sem considerar os interesses políticos e econômicos de quem exigiu e ordenou a desocupação fico pensando que essas pessoas o fizeram antes de abrir qualquer tipo de diálogo com a população para que não tivesse o risco de se compadecerem com as histórias das famílias.

Não é difícil imaginar que para que uma mãe tome a decisão de morar debaixo de uma barraca de lona com seus filhos que sua situação anterior era muito pior. Com certeza ela já considerou todas as suas outras opções e essa foi a mais segura para a sua família. Então, como não ouvir essas mães na sua luta para garantir um lar para sua família?

Quem conhece cada uma daquelas famílias não tem como não se sensibilizar e se envolver com a luta. Não pode fica indiferente a pequena Alice Sofia, que mesmo com febre estende os braços pedindo colo de quem apareceu para conversar com a mãe. Sua mãe, segurando um bonito prato de comida, farto, com feijão tropeiro e macarrão, contava como administrava o antibiótico recomendado, que estava mantendo a filha hidratada e oferecendo o peito em livre demanda. Richard precisava de um complemento para o remédio da asma. A mãe explicou pacientemente como o seu pulmãozinho funcionava e que o remédio tinha acabado. Mantinha o colchão em que dormiam todos da família limpo e arejado, mas ali, no chão de terra, seria preciso conseguir um berço para que o pequeno não tivesse mais uma crise.

Crianças especiais encontramos em todos os lugares. Mas talvez Tamires, uma adolescente com Síndrome de Down, e Franciele, uma pré adolescente com deficiência metal, seja mais especiais ainda. Acompanhavam a assembleia com atenção e participavam dos gritos de ordem! Com transparência e honestidade relatavam a todos o seu dia a dia, mostrando como estavam bem cuidadas, e com abraços retribuíam o carinho que recebiam da comunidade.

Outras várias crianças especiais ali. Especiais porque atentas aprendiam a construir coletivamente um lar, com uma infância segura. Era isso que Cristina passava a seus dois filhos, com exemplo de uma participação ativa e engajada na luta pelo seu direito a moradia.

A ocupação Eliana Silva continua mobilizada e todo o apoio é necessário! Vamos apoiar essas mães na sua luta pelo direito a moradia. Vamos dizer ao prefeito Marcio Lacerda que ele não tem o direito de despejar essas famílias e fechar os olhos para a realidade desses belorizontinos. Vamos dizer sabendo que essas mães não queria estar com suas famílias debaixo de barracas de lonas e sim em moradias dignas, e é isso que o prefeito tem o dever de prover.


“ENQUANTO A MORADIA FOR UM PRIVILÉGIO, OCUPAR SERÁ UM DIREITO”

domingo, 13 de maio de 2012

Nosso corpo é a nossa história

Tenho conversado com muitas mulheres que tiveram seus filhos e que não voltaram à sua forma física anterior ainda. Vivemos em um tempo de angústia, pois na mídia  o que vemos é "celebridade x após ter filho mostrar suas curvas na revista y"," Fulana x 20kg mais magra após dar à luz"... Quanta ilusão! Isso mesmo, somos seres com tendência à ilusão e caímos nesses jogos facilmente e de repente nos pegamos lendo tais absurdos e querendo fazer igual e não vivemos o presente com todas as delícias e dificuldades que tem. Tudo leva um tempo mas no nosso mundo as coisas se tornaram urgentes, "pra ontem",um fast food emocional. A imagem acaba falando mais alto e as pessoas se perdem de sua essência. Não quero dizer que a mulher não precisa se cuidar, o que quero dizer que junto com a maternidade vem uma série de mudanças e se a mulher não se abrir para estas, passará a ser escrava se si mesma. Encontrei um texto bacana e gostaria de compartilhar com vocês. 
                                                                                        Vale conferir! 


Você nunca mais será a mesma, nem por dentro nem por fora... não há como passar pela experiência de ficar grávida e ter um filho e não ter uma mudança a nível corporal. Mas a gente não quer admitir essa mudança. Não quer e não pode. Não pode porque a sociedade não oferece mais um lugar de valor para o corpo materno, como antigamente ocorria. 

Passamos da água para o vinho em certo sentido. De uma valorização da mãe inteiramente devotada - que não precisava se cuidar do ponto de vista corporal, pois ela era respeitada por ser mãe - passamos à expectativa de que a mãe rapidamente recupere a boa forma.Quantas de nós já saímos da maternidade reclamando da barriga e na primeira consulta ao ginecologista já queremos saber quando podemos voltar a malhar... E provavelmente ele vai falar: em seis semanas vida normal... Sim, normal para ele que estará no consultório tranquilamente nas próximas semanas. Para a mulher que virou mãe de corpo e alma, seis semanas ainda é um tempo em que está aprendendo a "andar de novo..." No entanto, há uma grande pressa de voltar a ser o que se era antes, como se esse novo corpo, essa nova vida não fosse suficientemente interessante. É preciso voltar a ser como antes. 

Como se a vida abrisse essa possibilidade de retorno ao antes. E pergunto: quem quer fazer exercício depois de se exercitar o dia inteiro atrás do filho? Nos primeiros anos de maternidade a vida é puro exercício aeróbico, sem descanso, com pouco sono e muito que fazer. Talvez não seja exercício localizado, por isso não perdemos calorias no lugar que precisamos. Depois de viver a maternidade, hoje considero a natureza sábia.

Aquelas calorias a mais que carregamos são uma proteção, senão desmaiamos no meio da rua de cansaço. Entretanto o mundo só tem olhos para a sua barriguinha... e como não temos nenhum modelo alternativo de “beleza materna” para nos espelhar, tendemos a achar que a solução está na malhação. Quando ligamos a televisão, é um choque: estão todos saradíssimos, esbeltos, magros e bronzeados. Ainda piorou depois que a Globo colocou o filtro que evita o envelhecimento das imagens dos seus atores. Assim nos sentimos fora da possibilidade de qualquer elogio e, algumas revistas continuam insistindo em exercícios mágicos e dietas milagrosas. Diga-me: Há alguém dialogando sobre a corporeidade da pessoa que vive a maternidade? Isto é, dialogando sobre a transformação pela qual passou o corpo que foi submetido aos aspectos físicos, emocionais e espirituais da experiência da maternidade? Alguém dialoga com o corpo que vive o exercício de cuidar de um bebê vinte e quatro horas por dia, em que a prioridade é o corpo do Outro, frágil, instável e sensível?

Mirian Goldenberg, no seu artigo: “O corpo como Capital: Para Compreender a Cultura Brasileira” (2006), aponta uma realidade incontestável da contemporaneidade: Pode-se enxergar melhor o paradoxo apontado por Lipovetsky com a idéia de “contrários em equilíbrio” de Gilberto Freyre. No Brasil, o desenvolvimento do individualismo e a intensificação das pressões sociais das normas do corpo caminham juntos. De um lado, o corpo da brasileira se emancipou amplamente de suas antigas servidões - sexuais, procriadoras ou indumentárias-; de outro, encontra-se, atualmente submetido a coerções estéticas mais regulares, mais imperativas e mais geradoras de ansiedade do que antigamente. Vivemos, então, um “equilíbrio de antagonismos”: um dos momentos de maior independência e liberdade femininas é também aquele em que um alto grau de controle em relação ao corpo e à aparência se impõe à mulher brasileira.

Estamos frente a uma contradição que me deixa perplexa e para a qual não tenho resposta. Tenho procurado escutar a mim mesma, mãe de 40 anos e psicóloga e, também, procurado escutar muitas mães com as quais venho trabalhando.Por outro lado, vejo na clínica meninas jovens se disponibilizarem a pagar um preço alto para tentar se aproximar do corpo “global” e da imagem corporal globalizada pela mídia do mundo todo.

O corpo é um capital importante no mundo contemporâneo, particularmente o corpo feminino. No passado a maternidade em si acrescentava valor à mulher. Com as conquistas da modernidade temos uma situação paradoxal em termos de valor em que o visual da mulher compete com a competência profissional. Isso vem acontecendo de tal forma que da mãe se espera que rapidamente volte tanto ao mercado de trabalho quanto às formas da mulher que foi anteriormente. Poderia se dizer que há uma tripla jornada de trabalho para a mãe, porque além do corpo malhado e do sucesso profissional se espera dela que seja uma boa mãe.

De fato há um progresso em relação à maternidade do passado, em que a mulher ficava confinada em casa e da qual se esperava pouco investimento na estética corporal e na vida profissional. Em contrapartida, há um olhar discriminador em relação a mãe que resiste ou não consegue mesclar academia intensiva com cuidar do bebê e de sua vida profissional. 

Isso, porque a reflexão sobre o impacto da maternidade sobre nós como pessoas fica completamente sem espaço para emergir. No fundo de nós mesmas fica a questão: quando esta sociedade dará um lugar, dará valor e não desprezo para o corpo real, para o corpo possível pela vida que se vive? Isto é, para o corpo que tem memória, e portanto, marcas, para o corpo que tem história e portanto significados, sem culpa pela perda do corpo adolescente? Sim, houve uma libertação da mulher em relação ao confinamento doméstico após casamento e maternidade, mas a questão que fica é: a liberdade de um modelo não está se dando ao preço da submissão a outro modelo igualmente punitivo e tirânico? Hoje em dia é raro ver uma mulher que esteja satisfeita com seu corpo. Internalizamos de tal forma o modelo de beleza imposto pela mídia que estamos sempre em falta. Em falta com essa imagem cruel do corpo da mulher no qual nossa história não pode deixar vestígios. 

Há sempre produtos e serviços “capazes” de eliminar estes restos indesejáveis de nossas dores, experiências e aventuras pela vida. O mito do corpo perfeito é assimilado sem críticas pelos homens e, naturalmente por nós, mulheres e mães. Como se fosse possível e mesmo desejável, viver em toda sua plenitude uma vida rica de experiências, entre as quais a da maternidade - evento que nos afeta no núcleo de nossa corporeidade e manter um corpo intacto. Nosso corpo é nossa história. 

Como crescer espiritualmente e não aceitar que nosso corpo se transforma aos olhos dos outros e para nós mesmos? Uma coisa é a estética de um corpo bonito, nada contra. Outra é não ter valor um corpo materno, com estrias, marcas, gordurinhas, que se desgasta na devoção ao seu bebê e na conciliação desta enorme tarefa com a volta ao mercado de trabalho. O corpo materno, que sabiamente é mais carnudinho para ser um colo, deveria ser o corpo almejável e até reverenciado pela beleza da experiência que contêm. Por enquanto, entretanto, o corpo desejável da mulher brasileira é o corpo esguio da adolescente, e não é rara a nossa frustração quando chegamos a uma loja de roupas e percebemos que o tamanho G de uma roupa é ridiculamente pequeno. 

Autora:Tania Novinsky Haberkorn

6,4 mm e 117 batimentos por segundo


Quando uma mulher se torna mãe?
Quando a alegria de ser mãe preenche seu corpo, saindo como uma luz do coração ou do ventre?
Quando essa alegria se transforma em amor incondicional?
Quando o amor se transforma em colocar esse pequeno serzinho como prioridade?

Eu ainda não sei...
Sonho com esse dia, mas ainda não sou mãe...

Tem mulheres que dizem descobrir ser mães quando o bebê nasce. Quando pegam no colo um ser tão amado.

Outras contam que se transformaram em mães na hora do parto. Certa vez ouvi uma mãe relatar que soube que era mãe quando tocou o cabelo de sua filha ainda no período expulsivo.

Outras mulheres tornam-se mãe quando sentem o bebê mexer na barriga.

E as que se tornam mães por adoção, quando se descobrem mães? No primeiro abraço? No primeiro olhar?

Acho que dá para se sentir mãe no primeiro ultra som, com 6,4 milímetros e 117 batimentos por segundo.

Hoje, esse texto de dias das mães é em homenagem a uma amiga querida, que na sua delicadeza me deu a felicidade de poder compartilhar com ela a sua descoberta de ser mãe. E a poesia abaixo, desejo que ela escute um dia palavras com o mesmo significado de quem cresce em seu ventre.

Mãe

Quando me acordavas
de manhã
com o rosto emoldurado
nos cabelos de aurora
a esperança que me davas
para seguir corajosa
lá para fora.

Quando me sopravas
de tarde
com o rosto emoldurado
nos cabelos de luz
segredos insondáveis
que haviam de moldar a matéria
de que me compus.

Quando à noitinha
me beijavas
com o rosto emoldurado
nos cabelos de lua
minha boca se emudecia
sabendo para sempre
que antes de pertencer a alguém
fui
ainda
só tua.



quarta-feira, 9 de maio de 2012

Parteiras- Mulheres Guerreiras


Comemoramos no último sábado o dia das Parteiras, 5 de maio.

Parteiras são mulheres que assistem outras mulheres em seus partos. Assistem porque cada mulher é quem faz seu próprio parto. na história foram mulheres que aprenderam na prática e com muita intuição a acompanhar os partos. Hoje são poucas as parteiras formadas apenas por experiência, e ainda são poucas as parteiras do mundo moderno, isso é as Enfermeiras Obstetras e as Obstetrizes.


Quem quiser saber mais sobre a história das parteiras pode começar pela das francesas! Que são conhecidas na frança como Sage-femme – MULHER SÁBIA. Por lá essa ainda é uma profissão valorizada e que continua crescendo. e a queriada doula Anayansi Correa Brenes, nascida no Panamá e brasileira de coração estudou e escreveu um livro sobre essa história.

O livro “Parteiras – Escola de Mulheres” conta a luta das mulheres durante o momento de transformação do oficio de comadre para a profissão de parteira. Relata como as mulheres tiveram dificuldade de aceitar a arte de partos como ciência e evidencia as consequências da entrada dos homens na profissão.

Anayansi nos lembra que a disputa hoje entre as cesáreas e partos naturais repetem o mesmo debate entre as parteiras e os homens que ingressaram na profissão. A história se repete, e o que podemos aprender com ela?

Vale a pena ler o livro!!!

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Sabedoria de Mãe - AMOR E DOR, UM LIMIAR TÊNUE - parte 2


A Morena, que tá aqui do lado com o pequeno Raoni começou a contar a história de amamentação deles sexta passada (quem perdeu ésó clicar aqui) e continua hoje. História de superação, amor e dedicação. Olhem só!

..... AMOR E DOR, UM LIMIAR TÊNUE....
Raoni nasceu em um Hospital que não tinha banco de leite e as auxiliares do berçário não tinham idéia de como poderiam me ajudar, foram momentos de pânico, até que veio a solução mais fácil de todas, “o bebe precisa tomar suplemento, leite artificial”, aquilo me matou, mas como o que eu pensava era apenas alimentar meu filho, foi o que se fez. No meio da noite, coisa de mãe mesmo (risos) acordo e vejo meu filho se engasgando, chamo minha mãe, ela tentar desobstruir as vias respiratórias e corre com ele para o berçário, momentos de pavor e a notícia boa logo veio, ele não aspirou, eu choro descontroladamente de nervoso e minha mãe me diz, “olhe para ele, filha, ele está bem!”

Bom, depois de passar por tudo isso chegamos a conclusão, vamos chamar alguém para nos orientar sobre a amamentação, a ajuda veio em boa hora e logo observou que a pega dele não era boa e disse que precisaríamos ensiná-lo a mamar, fazer exercícios de fonoaudiologia mesmo, lembra do que falei do outro indicador do sucesso da amamentação? Pois é... se ele não sabia mamar, não pegava bem e se não pegava bem, logo peito ferido e filho sem se alimentar direito, rapaz, momentos muito difíceis, regados ainda em crise conjugal e depressão pós parto feroz, pergunta... será que vou conseguir ser mãe?

No dia seguinte, já em casa, mais desespero, dor nos seios e filho faminto, chamamos novamente ajuda, mais uma semana, parecia a eternidade, de penar, até que meu pai encontrou com um amigo e vizinho que revela que sua esposa trabalha em duas maternidades públicas, no banco de leite, com amamentação, meu Deus, considero que minha vida de mãe (amamentadora) se divide em duas fazes antes e depois de Eridan, o anjo que me ajudou a sair do sufoco e me deu calma, tranqüilidade, que me acolheu neste momento tão difícil de nossas vidas.

Ela entrou no quarto, eu em prantos, com Raoni no colo e logo perguntou, “mulher, o que houve?”, chorei mais ainda e ela logo falou, “deixe eu te ajudar”, foi como se eu flutuasse, senti tanta segurança nela que nos entreguei a sua experiência, era tanta humildade e delicadeza que não se pode imaginar, era tudo o que nós estávamos precisando, acolhimento total. Ela examinou meus seios e disse, “você tem bastante leite, isso é muito bom, agora deixa eu ver como ele mama”, e logo percebeu que a pega não era eficiente e disse a todos que estavam ao meu redor, “venham aprender, pois ela vai precisar muito da ajuda de todos vocês”. O mais lindo de tudo é que ela olhou para mim e não só para meu filho, sabe, acho que o que precisamos (nós mães) é disso, que nos vejam que cuidem de nós, mas também precisamos não como mães, mas como mulheres, seres humanos nos permitir ser ajudada, lembrar que os fortes também têm limites, que erram e que choram e que tudo isso nos faz também ser uma boa mãe, afinal frustração e êxito são ingredientes importantes no processo de aprendizado como um todo, não é verdade?

Bom, foram 40 dias exatos de suplício: depressão, dores e sangramentos nos seios ao amamentar, andar sem sutiã dentro de casa sem pudores de quem aparecia, dores na cirurgia, conflitos... conflitos.... e ao mesmo tempo eu contava com um anjo ao meu lado, acredito que desde a barriga (conversava muito com meu filho) eu e Raoni criamos uma conexão mágica, ele sabia que eu precisava de apoio e só me solicitava quando a crise passava, então olhava em meus olhos como se dissesse, “mamãe, estou aqui com você!” logo as dores desapareciam, ele se encaixava direitinho em meus braços e no 41° dia percebemos que nós havíamos, finalmente, encontrado a harmonia, amamentando, mamando... sorrindo e tendo um dos prazeres maiores de minha vida, uma sensação de paz, mesmo acordando a noite, madrugadas a fio, nossa... eu sou mãe, sou mulher, amamento meu filho!!

Amamentei meu filho até 1 ano e 3 meses de vida, exclusivo até 6 meses, tarefa fácil? Não mesmo, mas a mais nobre que já tive em minha vida! E posso dizer uma coisa... junto com os 40 dias de suplicio foram embora as más lembranças, aliás, nem sei bem se esses duros dias existiram ou foram fruto de minha imaginação... risos...

 Morena, amamentando Raoni com 1 ano
Foto de Ana Siqueira

Sabe, depois de tudo isso que passamos juntos, eu e Raoni, depois de ser mãe, passei a ter um pouco mais de tolerância com as pessoas, especialmente com o limite de cada um. Há quem não quer ser mãe e é feliz, há quem não quer amamentar por diversos motivos, a esses pessoas o meu respeito profundo, mas lhes digo que essas são duas experiências de minha vida que, hoje, tenho plena certeza que fazem a maior diferença na mulher, no ser humano que sou hoje.

Quem quiser participar dessa seção – Sabedoria de Mãe – dividindo a sua história aqui no Acalanto, para aprendermos juntas, manda um e-mail pra gente! – acalantocursosbh@gmail.com