Por Janine Araujo ( mãe e psicoterapeuta sistêmica)
Eu não queria ser mãe. Para mim, a
maternidade sempre foi algo ideologicamente valorizado, um dado imposto para as
mulheres, com dificuldades não muito faladas e somente um lado glorificado.
Então, achava que era somente me prevenir e evitar este encontro. No entanto,
descobri-me grávida. Enxerguei-me na seguinte situação: “não é você quem decide
(...) A vida que está em você decide”.[1]
A gravidez foi um período de ansiedade
e mistério. Ansiedade por não ter idéia de como me sairia como mãe e mistério
por gerar algo sem saber como se dá esse processo – algo cresce e adquire vida
em você, modifica seu corpo e suas emoções. Passei a ser uma chorona de
primeira na gestação, sendo que antes continha os menores sentimentos...
Quando a minha bolsa estourou, estava
sozinha em casa e a minha primeira exclamação foi: “Como assim, a bolsa
estourou? Eu ainda não estou pronta!”. Como se esse mistério fosse parte do meu
domínio pessoal... Liguei para o meu marido, que chegou tão rápido quanto também
assustado, pois não esperávamos aquela data.
Após todo o processo de parto me vi
diante de um ser frágil e totalmente dependente. O mistério então se fez
presente: como aquele ser, todo perfeitinho, podia ter saído de mim?! É
exatamente aquela explanação de Mahfoud que “não há mãe que não fique
maravilhada pelo fato de o filho existir e ter uma perfeição muito maior que
qualquer coisa que nós podemos realizar; porque tudo que a gente faz é
imperfeito. Tanto é que frequentemente chega a dizer “Não é meu! É meu, mas não
é meu...”[2]. Vi
então que fazia parte desse mistério, mas sobre o qual não tinha o menor
controle, tampouco muito conhecimento...
Hoje
vejo como o fato de ser mãe é realmente incrível – difícil, sem dúvida, pois
não se nasce uma mãe, se torna mãe através do contato real com o filho que lhe
foi “emprestado”, nas palavras de Saramago. Não tenho controle nenhum sobre a
maternidade, como um dia achei que era possível e vejo que, como nos lembra
Mahfoud, somente sou mãe através da afirmação do ser do meu filho.
http://janine-araujo.blogspot.com.br
[1] MAHFOUD, Miguel. Experiência elementar e intervenção psicológica. 2005ª. Mimeo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário