quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Sons, cheiros, sensações...


A nossa história como mães e a história de parto começa no nosso nascimento e com as nossas mães. E também acredito que muito se relacionam com as nossas avós.
Nessa semana aconteceu a missa de sétimo dia da minha avó e pensar nela e como ela influenciou a minha visão de como “ser mãe” mexe muito comigo. Acredito que com muitas mulheres também...
Por isso resolvi postar aqui o texto que escrevi em sua homenagem..

Eu queria fazer uma homenagem a minha avó… e pensei em escrever um texto para o santinho dela...
O texto começava assim... Yone – mulher, filha, irmã, esposa, mãe e avó – todas essas mulheres poderosas em uma só. Ela foi uma mulher muito admirada e amada. Nunca conheci uma só pessoa que não se encantasse com sua prestatividade, simpatia, elegância e educação. Atlética e sempre aparentando mais nova, também se orgulhava da sua cultura geral, adorava viajar e tinha o costume de fazer promessas estranhas (como não viajar mais para a Europa ou passar a torcer pelo cruzeiro). Era uma super mãe, mulher decidida e esposa exemplar. Fazia trabalho voluntário, gostava de jardinagem, mantendo o sítio gramado e impecável. Como avó era dessas de livro, com o dom da culinária da costura, sempre mimando os netos, os oficiais e os que foram sendo agregados (primos e amigos dos netos)...
Eu podia continuar por ai rasgando em mil elogios... mas isso não era exatamente o que eu queria falar. Ela era muito mais do que todas essas palavras, e ela vai continuar sempre sendo muito mais, pra mim...
E de repente me lembrei de um texto que escrevi em um caderno pessoal, de desabafo, quando ficamos sabendo da gravidade de sua doença... entendi que era isso que precisava compartilhar com vocês...
Para mim minha avó são os sons, cheiros e sensações...
Fecho os olhos por uns momentos para me lembrar dela, para saber dessa parte dela que nunca vai embora...
Primeiro escuto o sons de panelas batendo... umas nas outras, saindo do armário... logo em seguida vem o cheiro do café fresquinho... depois a sensação de gelado percorrendo todo o corpo. São meus pezinhos descalços no chão gelado da casinha do sítio. Devo ter uns sete anos... Vou correndo até a cozinha porque não quero perder o momento de fritar a massa do biscoito. Posso fazer as letras! O C e L nunca dão certo, mas o A e o P ficam perfeitos, são os meus favoritos.
Um coro de gargalhadas, crianças correndo e o som da calça jeans roçando no mato e o cheiro de terra e árvores do pomar nos envolve. Vó, Vó.... gritamos!!! André, Júlia, Rafaela e eu estamos do lado de fora da porta da cozinha, agora na casa nova do sítio. Vovó sai rapidamente pela porta, com cara de quem já sabe o que vai acontecer. Os quatro mostram as mãos e afirmam, olha só! Nos cortamos!!! As mãos sujas de amora não enganam a avó já escolada com as travessuras...
Parabéns pra você! Nesta data querida! Um coro de vozes desafinadas e palmas desencontradas... crianças e adultos, em volta da mesa, enchendo os olhos com o sabor do bolo de formigueiro, metade chocolate, com recheio de doce de coco no meio, calda de chocolate e granulado. Além dos brigadeiros, doces de cocos e cajuzinhos, todos enrolados sob especificações rígidas quanto ao seu tamanho (sem esconder a tarde de doces roubados por terem saído do “padrão”) que estão dispostos na mesa, escrevendo palavras...
O coro se transforma em risadas, risadas de crianças, agora brincando na sala de televisão do apartamento no Santo Antônio... escorregando de meia no corredor... Ah! Meu deus!... a exclamação da avó que não chega a bronca não é pela brincadeira da meia que terminou com testas e queixos na televisão, mas sim pelo banho de banheira que alagou todo o banheiro.
Os relógios batem meia noite... todos correm para a sala para ouvir o discurso de natal do Wanildo. E Yone esta ao seu lado. A dona da casa, que recepciona mais uma festa de sucesso. O cheiro da ceia pronta para ser servida invade a sala, junto com a a alegria da árvore de natal repleta de presentes. Depois do discurso, arrasta os móveis pra cá e pra lá, levanta o lustre e aumenta o som que vamos dançar. A festa de natal que consegue juntar não apenas os Bragas e Fernandes, mas também os Matta Machados, Portelas e Pellegrinellis, além de outros agregados muito queridos.
Minha avó Yone, eu e meu avô Wanildo

Essa é minha avó Yone que vai ficar para sempre, uma mulher de pequenos grandes momentos. E por isso convido a todos, sempre que a tristeza for maior do que parece que podemos suportar, a fechar os olhos por um momento e deixar que os sons, cheiros e sensações transbordem a saudade gostosa dessa mulher maravilhosa.

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