sábado, 29 de outubro de 2011

Como falar sobre vacinas com as crianças?


Fazendo um acompanhamento dos acessos ao Blog percebi que uma expressão chave frequente de buscas que chegam até aqui é “como falar sobre vacinas com as crianças”. As pessoas acabam caindo em outros posts que falamos sobre vacinação.

Fiquei pensando então sobre esse tema... como fazer para falar das vacinas com as crianças? E qual o problema? Quais as dificuldades? 

Essas perguntas me lembraram algumas cenas que observei na ultima campanha de vacinação infantil da Prefeitura de Belo Horizonte. Observava as crianças chegando, acompanhadas pelos pais ou babás. Pareciam tranquilas e na maioria das vezes se distraiam com seus irmãos ou brinquedos. Assim que os pais se sentavam na cadeira preparada para a vacinação e colocavam os filhos no colo o problema começava. Era choro, grito, esperneio, até desespero. O adultos responsáveis pelas crianças não sabiam o que fazer, os profissionais de saúde ficavam sem ação diante da cena que parecia de desenho animado (apesar de se repetir a cada duas ou três crianças que chegavam). E as crianças pareciam sinceramente desesperadas em sair dali.

Na minha percepção a origem desse problema esta na conversa!

Podemos e devemos conversar com as crianças. Explicar o que esta acontecendo e o que vai acontecer. Isso passa segurança para ela e a ajuda a enfrentar situações novas, inesperadas ou desagradáveis. Dizer a criança o que esperamos dela, como deve se comportar e qual o nosso objetivo ali é a melhor estratégia.

A ideia é usar palavras simples, frases curtas e diretas. Falar na língua das crianças, variando com sua idade, e usando exemplos que sejam próximos do seu dia a dia (uma boa dica é usar comparações com situações de personagens de livros, desenhos e filmes que ela goste). Vale explicar antes de sair de casa, conversar sobre o assunto no carro e, ao chegar no local, como o posto de vacina, relembrar a conversa e apresentar o local a criança!

Observar a idade da criança é muito importante. Para os bebês até um ano a conversa é muito boa, mas o mais importante é o tom de voz e a calma que transmitimos com o nosso comportamento. Estar presente faz toda a diferença. De um ano e meio até os três anos as crianças ainda são imediatistas. Entendem o que acontece no presente. Então se fez algo errado precisa ser disciplinada no mesmo momento, para poder relacionar a disciplina ao seu ato. E precisa que lhe apresentem a situação e o que vai acontecer logo antes de acontecer, para que realmente estejam tranquilas. Já as crianças mais velhas conseguem relacionar o que contamos em casa ou no dia anterior com o que vai acontecer no futuro, basta recuperar com elas o que foi conversado. Depois dos sete anos, a compreensão de distancia e percepção do tempo aumenta, e as explicações ficam mais fáceis na perspectiva dos adultos.

Em qualquer idade e para falar de qualquer assunto, não podemos nos esquecer de conversarmos olhando no olho da criança, abaixar para falar com elas e também de escutar atentamente suas respostas! E vale reforçar que as falas dos adultos devem ser coerentes com as ações. As crianças aprendem pelo exemplo, com a imitação!

Outro ponto importante é nos policiarmos no que falamos!

Sabe quando falamos sobre a vacina “Olha não vai doer nada!” e ai dói! A criança perde a confiança no que o adulto fala, porque o que afirmou não era verdade! O melhor é dizer “dói mas só um pouco, uma picadinha e logo passa”. “É amargo, mas faz bem, depois a gente bebe água”, ao invés de dizer que a vacina de gotinha é gostosa!

Existem outras frases comuns que devemos também evitar para não confundir as crianças e buscar sempre passar segurança nas falas. Quando cai e rala o joelho dizemos: “deixa eu dar um beijinho que a dor passa” Não passa nada! Está doendo mesmo! O melhor é dizer “deixa eu dar um beijinho e te abraçar, vamos ficar calmo, passar o remédio e a dor vai diminuir aos poucos”.

Outra situação comum é a da troca de fraldas. Dizemos: “eca! O bebê fez cocô!” “Que nojo!” “Que cheiro ruim”... e ainda juntamos as expressões com uma careta! Depois muitas crianças tem dificuldade de aprender a ir ao banheiro ou tem problema de prisão de ventre porque tem nojo do próprio cocô! Que tal dizer só “vamos trocar a fralda” ou “hora de limpar o bumbum para ficar cheiroso!” e outras mais positivas?


Bom, poderia continuar aqui com diversas situações análogas a essa da vacina! Elas são muitas porque as crianças são imprevisíveis e o dia a dia é cheio de desafios! Mas se os pais conseguirem criar o hábito de conversar e passar segurança para os filhos sobre o que vai acontecer, desde bebês, com certeza muitas das situações serão enfrentadas com mais tranquilidade e menos sofrimento, tanto por parte das crianças quanto dos pais.

Nenhum comentário:

Postar um comentário