Vemos tantos guias sobre mãe-bebê, mudanças na vida da gestante etc e pouca coisa sobre as mudanças na vida de um homem quando se torna pai ou as angústias de um pai de primeira viagem quem sabe até de muitas viagens. Vai aqui um artigo muito bacana para que os papai também se sintam acolhidos e considerados.
Renato Kaufmann lança novo livro, desta vez falando sobre a experiência da paternidade, depois que a criança já saiu da barriga da mãe
Depois de contar como foi a descoberta da gravidez e a chegada de sua filha, Renato Kaufmann lançará mais um livro para os pais de primeira (ou segunda, terceira...) viagem.
Como Nascem os Pais – Crônicas de um Pai Despreparado será lançado no dia 10 de agosto, em São Paulo. O evento acontecerá na Livraria da Vila, a partir das 19h.
Confira a introdução e o primeiro capítulo de Como Nascem os Pais – Crônicas de um Pai Despreparado:Introdução
Uma vez, em uma introdução, alguém gritou apressadamente “tira, tira já isso daí!”. No calor do momento nem sempre a gente acerta o alvo. Um vez, em outra introdução supostamente protegida por um negócio mágico chamado anticoncepcional, ninguém tirou nada. Um negócio mágico e salafrário, dado que fiquei grávido de um bebê, um blog e um livro, os dois últimos chamados Diário de um Grávido. O livro e o blog falam do ponto de vista masculino e de uma sucessão de pânicos e desesperos, do dia em que fui avisado de que a Lucia deixara de morar no meu saco até o dia em que ela veio morar na minha casa – passando pelos meses em que ela ocupou o útero da mãe e eu ficava conversando com a barriga. Na gravidez você acha que o desespero vai terminar quando nascer o bebê, você contar os dedinhos, que idealmente totalizam vinte, e vai respirar aliviado. É bom aproveitar a respirada pra tomar fôlego. A fase da gravidez dura só nove meses, mas a fase seguinte dura o resto da vida. A gravidez introduz você à escola da paternidade, mas o parto, longe de ser uma conclusão, é só o começo. E este começo aqui, ou ainda, esta introdução, mesmo estando em um livro também está sujeita a alguém gritando tira, tira já isso daí!”. Se tivesse obedecido este talvez fosse outro livro, mas não, “só mais um pouquinho”... E assim nascem os pais. Da próxima vez que ouvir alguém gritando “tira, tira!”, ou é pra tirar mesmo, ou é pra esconder o cinzeiro, que a polícia está chegando.A vida em fast forward
Os primeiros dez dias da Lucia foram um grande borrão, possivelmente por culpa das lágrimas¹. Lembro que a enfermeira expulsou a multidão que invadiu a maternidade. Multidão de amigos meus, que vieram com charuto e tudo, dado que os amigos da Ana eu mal deixei entrar, afinal uma mulher que pariu precisa de algum descanso. A Ana passeava pela maternidade de jeans e camiseta, só faltava ser confundida com visita. Eu mesmo poderia tê-la posto pra fora acidentalmente, dado que o papel do pai nessa hora é expulsar pessoas e às vezes a gente se empolga. Fui pra casa buscar roupas, chorei com músicas bobinhas no rádio do carro, entrei em casa, abracei a empregada e chorei de novo².
A vida no hospital é dura para o pai, este ser desimportante, você só ganha uma pulseira azul, um sofá desconfortável e um amassado no rosto de tanto ficar com a cara colada no vidro. Mas é preciso aproveitar bem o hospital, porque depois que você vai pra casa a vida é bem mais difícil. Na primeira semana em casa a Ana não me deixava dar banho na pequena smurf, ela dizia que era porque queria dar ela mesma o banho, mas era medo mesmo. E de fato, quando você pensa em dar banho, precisa lembrar que não está apenas segurando um bebê, mas um bebê ensaboado. Você sabe, bebê ensaboado e sabonete na prisão é a mesma coisa: derrubou, tá ferrado. Os bebês precisam de banho por não serem autolimpantes como os gatos, cuja primeira atitude, aliás, foi pular no bebê-conforto com o bebê dentro.
Expliquei gentilmente a eles que a Lucia ainda era muito frágil e que aquele não era um comportamento, digamos, exemplar da parte deles, e que eles deveriam ser compreensivos com o fato de que não poderiam frequentar algumas partes da casa, como o berço da criança. E sugiro que eles se escondam, porque nesse meio tempo a mãe da criança foi buscar uma faca na cozinha.
[¹] Tudo cisco
[²]O cisco não tinha saído ainda
Depois de contar como foi a descoberta da gravidez e a chegada de sua filha, Renato Kaufmann lançará mais um livro para os pais de primeira (ou segunda, terceira...) viagem.
Como Nascem os Pais – Crônicas de um Pai Despreparado será lançado no dia 10 de agosto, em São Paulo. O evento acontecerá na Livraria da Vila, a partir das 19h.
Confira a introdução e o primeiro capítulo de Como Nascem os Pais – Crônicas de um Pai Despreparado:Introdução
Uma vez, em uma introdução, alguém gritou apressadamente “tira, tira já isso daí!”. No calor do momento nem sempre a gente acerta o alvo. Um vez, em outra introdução supostamente protegida por um negócio mágico chamado anticoncepcional, ninguém tirou nada. Um negócio mágico e salafrário, dado que fiquei grávido de um bebê, um blog e um livro, os dois últimos chamados Diário de um Grávido. O livro e o blog falam do ponto de vista masculino e de uma sucessão de pânicos e desesperos, do dia em que fui avisado de que a Lucia deixara de morar no meu saco até o dia em que ela veio morar na minha casa – passando pelos meses em que ela ocupou o útero da mãe e eu ficava conversando com a barriga. Na gravidez você acha que o desespero vai terminar quando nascer o bebê, você contar os dedinhos, que idealmente totalizam vinte, e vai respirar aliviado. É bom aproveitar a respirada pra tomar fôlego. A fase da gravidez dura só nove meses, mas a fase seguinte dura o resto da vida. A gravidez introduz você à escola da paternidade, mas o parto, longe de ser uma conclusão, é só o começo. E este começo aqui, ou ainda, esta introdução, mesmo estando em um livro também está sujeita a alguém gritando tira, tira já isso daí!”. Se tivesse obedecido este talvez fosse outro livro, mas não, “só mais um pouquinho”... E assim nascem os pais. Da próxima vez que ouvir alguém gritando “tira, tira!”, ou é pra tirar mesmo, ou é pra esconder o cinzeiro, que a polícia está chegando.A vida em fast forward
Os primeiros dez dias da Lucia foram um grande borrão, possivelmente por culpa das lágrimas¹. Lembro que a enfermeira expulsou a multidão que invadiu a maternidade. Multidão de amigos meus, que vieram com charuto e tudo, dado que os amigos da Ana eu mal deixei entrar, afinal uma mulher que pariu precisa de algum descanso. A Ana passeava pela maternidade de jeans e camiseta, só faltava ser confundida com visita. Eu mesmo poderia tê-la posto pra fora acidentalmente, dado que o papel do pai nessa hora é expulsar pessoas e às vezes a gente se empolga. Fui pra casa buscar roupas, chorei com músicas bobinhas no rádio do carro, entrei em casa, abracei a empregada e chorei de novo².
A vida no hospital é dura para o pai, este ser desimportante, você só ganha uma pulseira azul, um sofá desconfortável e um amassado no rosto de tanto ficar com a cara colada no vidro. Mas é preciso aproveitar bem o hospital, porque depois que você vai pra casa a vida é bem mais difícil. Na primeira semana em casa a Ana não me deixava dar banho na pequena smurf, ela dizia que era porque queria dar ela mesma o banho, mas era medo mesmo. E de fato, quando você pensa em dar banho, precisa lembrar que não está apenas segurando um bebê, mas um bebê ensaboado. Você sabe, bebê ensaboado e sabonete na prisão é a mesma coisa: derrubou, tá ferrado. Os bebês precisam de banho por não serem autolimpantes como os gatos, cuja primeira atitude, aliás, foi pular no bebê-conforto com o bebê dentro.
Expliquei gentilmente a eles que a Lucia ainda era muito frágil e que aquele não era um comportamento, digamos, exemplar da parte deles, e que eles deveriam ser compreensivos com o fato de que não poderiam frequentar algumas partes da casa, como o berço da criança. E sugiro que eles se escondam, porque nesse meio tempo a mãe da criança foi buscar uma faca na cozinha.
[¹] Tudo cisco
[²]O cisco não tinha saído ainda
Como Nascem os Pais - Crônicas de um Pai Despreparado, de Renato Kaufmann
Mescla Editorial, R$ 43,90
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