quarta-feira, 11 de abril de 2012

Direito das Mulheres - Anencefalia e Aborto


Hoje é um dia importante no nosso país!
O Supremo Tribunal Federal (STF) julgará a Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 54, proposta em 2004 pela Confederação Nacional dos Trabalhadores da Saúde (CNTS), que decide sobre a criminalização do aborto de fetos anencéfalos.

Todos devemos estar atentos a essa decisão porque ela tem grandes e sérios impactos sobre a nossa sociedade e especialmente sobre a liberdade das mulheres. Isso mesmo, sobre a liberdade das mulheres. Isso porque o que esta sendo decidido é se a mulher tem ou não o direito de decidir sobre o seu corpo e a sua gravidez. Especificamente no caso de anencefalia, mas com impacto posterior nas decisões sobre o aborto!

Queremos viver em uma democracia, com liberdade e igualdade, certo? Então como uma mulher pode ser considerada criminosa por tomar uma decisão quanto a sua vida e seu corpo?

Afirmamos sempre que o parto é da mulher e não do médico. Que as intervenções devem ser consensuais. Que precisamos humanizar o parto, o pré natal, o cuidado com a mulher, gestante, com o bebê. E porque então deveria ser do governo ou de um juiz a decisão sobre levar a diante ou não uma gravidez?

E porque o governo deve dar assistência para a mulher durante a gravidez e o parto, mas não dá a assistência para um aborto seguro e bem orientado? Se queremos diminuir a mortalidade materna os cuidados com a grávida devem sim passar pela questão do aborto, acompanhada de uma boa orientação para o planejamento familiar.

Ricardo Herbert Jones, um obstetra humanista, de Porto Alegre, publicou no seu perfil um texto legal sobre o assunto, que reproduzo aqui...

"Esse é um tópico muito difícil de produzir concordância, quanto mais um consenso. Cada um vai se expressar a partir do seu próprio viés sobre o tema. E esse viés não é necessariamente racional, mas construído sobre a arquitetura dos sentimentos, emoções, vivências e... um verniz de racionalidade, fino e quase imperceptível, mas que nos oferece a ilusão de que nossas construções de valores se assentam sobre a rocha firme da razão.

Balela... Tudo o que se diz sobre eutanásia, aborto ou anencefalia é PURO sentimento, e qualquer das posições pode ser racionalmente defendida ou mortalmente atacada. O que me parece digno de debate é a LIBERDADE de escolher qual o caminho a seguir, responsabilizando-se pelas rotas trilhadas e suas naturais consequências. Assim, eu acho razoável que uma família, com base nos seus valores (humanitários, religiosos, morais, etc.) escolha acolher uma criança nessa situação. Para estas, o sofrimento, a entrega, a devoção e o cuidado podem representar um aprendizado quase impossível de ser adquirido em qualquer outra situação de vida.

Por outro lado, posso facilmente entender que a ablação das porções superiores do encéfalo, impossibilitando por completo uma vida de relação, possa ser a justificativa para abreviar (ou evitar) uma existência condenada ao mutismo relacional. Mais do que considerar "certo" ou "errado" prefiro pensar no dilema ético de permitir a escolha e a livre decisão. Ao contrário de assumir uma postura dogmática, fechada, cerceadora e preconceituosa eu prefiro a dor de determinar meu próprio destino, pagando o preço inexorável das decisões complexas."

Ricardo Jones

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