Muitas mães se desesperam quando
percebem algum indício de gagueira nos seus filhos. A ansiedade toma conta e
ai, na maioria das vezes, acabam agravando a situação ao invés de ajudar a
resolver. Agravando porque os pequenos percebem e captam a ansiedade, quase que
como anteninhas (como costuma dizer a Fernanda aqui do Acalanto). Então a ideia
desse post é trazer informações para diminuir a ansiedade de todos!
A verdade é que todos nós temos
períodos de disfluência na fala, ou seja, quando estamos nervosos, ansiosos ou
com pressa por vezes nos atropelamos e a fala não sai fluente e encadeada como
deveria ser. A gagueira se caracteriza quando esses períodos de disfluência
passam a ser tão comuns que interferem na comunicação.
Na verdade, todo gago tem momentos de
fluência e todo não-gago tem momentos de gagueira. Então, a diferença é feita
pela frequência da gagueira e pelo incômodo causado pela disfluência, que para
o gago é muito grande.
O gago acredita que é sempre um mal
falante e por isso evita as situações de comunicação. Quando é obrigado a
falar, seja para muitas ou poucas pessoas, fica nervoso desencadeando reações
que o deixam muito incomodado e com maiores dificuldades para falar.
As principais
características na fala do gago são:
- Lentidão
para falar e articulação limitada;
- Voz
alterada;
- Demora
a falar;
- Perda
de controle sobre a fala;
- Bloqueios;
- Repetição
de palavras ou sílabas;
- Prolongamento
de vogais.
- Substituição
de palavras;
- Evita
palavras;
- Acrescenta
palavras desnecessárias à frase, como “ai, então, isso, sim, é”, ganhando tempo
para iniciar a palavra;
O gago pode apresentar também vários
sintomas não relacionados à fala que são provocados por situações de
comunicação, são elas:
- Respiração acelerada;
- Movimentos anormais nos olhos;
- Não olha nos olhos;
- Coração acelerado;
- Tremores nas mãos;
- Suor intenso;
- Alterações musculares (tiques, tensão, elevação das sobrancelhas,
apertamento de olhos, tremor labial etc);
Ao falar o gago fica tenso e sente
uma responsabilidade muito grande ao tentar passar uma mensagem verbal, por
isso analisa cuidadosamente a reação do ouvinte e observa sua atitude
(impaciência, pressa, descaso, aflição, pena). Observa se o ouvinte está atento
ao que está sendo dito e observa se completa suas frases. Se o ouvinte
apresenta alguns destes sinais o gago piora sua auto-imagem de falante e tem
ainda mais dificuldade em passar a mensagem ou desiste de tentar.
Existem diversas teorias que explicam
a causa da gagueira. Elas vão de características genéticas, distúrbios
neurológicos, problemas psicológicos, traumas na infância ou recentes,
alteração na organização da linguagem a dificuldades motoras e de coordenação
da fala. Não existe um consenso de qual seria a causa da gagueira. Sabe-se
também que esta pode ser minimizada e muitas vezes não aparecer por anos, mas
não existe cura. O fonoaudiólogo trabalha com os sintomas e características de
cada gago.
Algumas gagueiras iniciam-se na fase
escolar e podem piorar ao longo da vida. Diversos fatores podem intervir neste
processo, a atitude de alguns professores que demonstram dificuldades em lidar
com a gagueira e com os problemas que a criança gaga apresenta em suas tarefas
orais, impaciência, cobrança, desinteresse e insegurança. A atitude das demais
crianças e a cobrança familiar também colaboram com uma piora da disfluência.
Devemos observar que até os quatro
anos é normal que a criança, em fase de aquisição da linguagem apresente
momentos de disfluência. Muitas vezes a família se assusta com o processo e
acaba taxando a criança como gaga. Nessa idade falamos em Gagueira do Desenvolvimento, que deve ser observada e acompanhada
com orientações fonoaudiológicas. A gagueira do desenvolvimento desaparece à
medida que a criança avança no desenvolvimento da linguagem.
É importantíssimo entender que cada
criança é uma criança diferente da outra, cada família é uma família, portanto,
não existem receitas de “como fazer”. As sugestões que serão aqui apresentadas
tentam promover a fluência e a interação da criança:
- Prestar
mais atenção ao conteúdo do que a criança está falando do que à forma com que
ela o faz.
- Ajudar
a criança a falar mais suavemente, propiciando ambiente adequado para tal.
- Parar
um segundo ou mais antes de responder.
- Reservar
um tempo, diariamente, para dar atenção exclusiva à criança.
- Encorajar
a criança a falar sobre sua gagueira com vocês.
- Fornecer
à criança um modelo apropriado de fala.
- Ler
ou contar histórias sempre que possível.
- Favorecer
a expressão verbal dos sentimentos.
- Promover
um ambiente familiar de conversação não competitivo.
- Lembrar
à criança que as disfluências são naturais à fala de qualquer pessoa.
- Manter
contato de olho natural enquanto a criança está falando.
- Encorajar
a criança a falar.
- Não
completar a frase ou falar pela criança. Deixe que ela se comunique em seu próprio
tempo.
- Preveni-la
de situações comunicativas que possam ser desagradáveis a ela antes de sair de
casa. E explicar que não é obrigada a responder o que não desejar mesmo que
outras pessoas peçam.
Prestem
atenção aos efeitos de suas ações e estejam sempre prontos a fazer ajustes em
seu modo de agir e em suas expectativas, ao notarem que isso é uma necessidade.
O QUE PREJUDICA A FLUÊNCIA?
- Dizer
à criança para ela relaxar, acalmar-se ou pensar antes de falar;
- Chamar
a criança de gaga;
- Criticar
ou corrigir a fala da criança;
- Completar
o que a criança está falando ou interrompê-la enquanto o faz;
- Apressar
a criança quando ela estiver tentando falar;
- Preocupar-se
demasiadamente com a gagueira;
- Falar
muito rápido e de forma “difícil”;
- Gritar
com a criança quando ela gaguejar;
- Tornar
as atividades do dia-a-dia desagradáveis;
- Fazer
a criança se sentir envergonhada ou diminuída;
- Forçar
a criança a falar em público;
- Comparações
desnecessárias;
- Pressionar
a criança com muitas atividades;
- Superproteger
a criança, evitando que ela se encontre em situações de comunicação;
- Exigir
demais da criança;
Depois de
todas essas dicas, normalmente ainda fica a dúvida de quando levar em uma
fonoaudióloga. Costumo dizer que uma avaliação fonoaudiológica ou de outro profissional
que cuida do desenvolvimento das crianças nunca faz mal, pelo contrário, os
pais sempre se beneficiam de dicas que podem fazer grande diferença para seu
pequenino. Lembrando que avaliação não significa taxar ninguém de doente,
alterado, atrasado ou qualquer coisa assim.
E ai
acredito que existem “duas horas”, momentos, de levar para uma avaliação. A
primeira e mais importante delas é quando a mãe ou pai percebem que o
desenvolvimento do seu filho ou filha esta diferente das demais crianças. Pode
ser algo de concreto ou mesmo um sentimento! E a outra é quando a escola aponta
a necessidade, o que normalmente acontece quando a questão já interfere de
forma significativa no desenvolvimento e aprendizagem da criança, então essa recomendação
não deve ser de forma alguma ignorada! Aí é só procurar por profissionais de
sua confiança!
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