Estudo com pré-escolares mostra que hipertensão e colesterol
alto já se manifestam precocemente, contribuindo para risco futuro de
doenças renais e cardiovasculares.
Para que a criança tenha uma alimentação saudável não basta a mãe
apenas dizer o que ela deve comer. É preciso também dar o exemplo. Foi o
que concluiu a nutricionista Adriana Cândida da Silva em sua
dissertação de mestrado, defendida na Faculdade de Medicina da UFMG. Ela
acompanhou 60 crianças com idades entre 2 e 6 anos matriculadas em
creches e escolas públicas da região nordeste de Belo Horizonte. A
nutricionista encontrou parâmetros nutricionais similares entre os
filhos e suas mães.
O percentual de crianças que podiam ser consideradas acima do peso ou
obesas foi de 11,7%. Quando a mãe possuía um quadro de sobrepeso ou
obesidade, a probabilidade da criança apresentar o mesmo estado
nutricional alcançava 85,7%. No sentido oposto, nos casos em que a
balança registrava um peso adequado para a mãe, a chance do filho
apresentar a mesma condição foi de 96%.
Segundo a autora, isso se deve ao fato da criança, principalmente na
idade estudada, tomar a mãe como exemplo para o desenvolvimento de
hábitos de vida, adequados ou não. O comportamento alimentar não escapa
dessa regra. “O que a mãe come é muito representativo para a criança”,
afirma Adriana.
Por isso, quando a dieta materna incluía o consumo em excesso de
gorduras e açúcares – principalmente alimentos como margarina,
refrigerante, doces e frituras – e, ao mesmo tempo, baixa ingestão de
frutas e verduras, a criança frequentemente se alimentava de forma
similar. “Isso é um risco, pois uma dieta como essa pode levar a doenças
renais ou cardiovasculares no futuro”, alerta a autora.
No estudo, 35% das crianças apresentaram quadro de hipertensão ou
pré-hipertensão arterial e 3% tinham níveis elevados de colesterol e
triglicérides. Outra constatação importante foi o fato das crianças
estarem aparentemente saudáveis, sem nenhum sinal que indicasse essas
alterações.
Prevenção precoce
Por isso, Adriana ressalta a importância de construir um comportamento alimentar adequado nas crianças desde cedo. “Segundo psicólogos, nossas preferências alimentares são definidas até os seis anos de idade. É o período ideal para começarmos esse trabalho de orientação alimentar e de hábitos de vida”, afirma.
No entanto, é importante conseguir maior envolvimento dos pais e
outros cuidadores, superando a pouca importância que por vezes é dada à
alimentação adequada das crianças. Um sintoma desse desinteresse foi a
baixa participação de pais na pesquisa, o que inviabilizou a comparação
também com eles. E mesmo entre as mães participantes, a adesão à
consulta de retorno foi pequena, segundo Adriana. “Em geral, a correria
do dia a dia faz com que essas questões sejam postas de lado”,
reconhece.
Para contornar esse problema, ela sugere que a participação dos pais
seja aliada a de profissionais que atuam nas creches, escolas e unidades
básicas de saúde. Dessa forma, poderia ser traçado um plano de ação que
contemplasse a criança em todos os momentos do seu dia. “Se as crianças
tiverem aulas de educação alimentar na escola e se cultivarem o hábito
de alimentação saudável, daremos um passo importante para a prevenção de
doenças crônicas não transmissíveis no futuro”, conclui Adriana.
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