sábado, 29 de outubro de 2011

Como falar sobre vacinas com as crianças?


Fazendo um acompanhamento dos acessos ao Blog percebi que uma expressão chave frequente de buscas que chegam até aqui é “como falar sobre vacinas com as crianças”. As pessoas acabam caindo em outros posts que falamos sobre vacinação.

Fiquei pensando então sobre esse tema... como fazer para falar das vacinas com as crianças? E qual o problema? Quais as dificuldades? 

Essas perguntas me lembraram algumas cenas que observei na ultima campanha de vacinação infantil da Prefeitura de Belo Horizonte. Observava as crianças chegando, acompanhadas pelos pais ou babás. Pareciam tranquilas e na maioria das vezes se distraiam com seus irmãos ou brinquedos. Assim que os pais se sentavam na cadeira preparada para a vacinação e colocavam os filhos no colo o problema começava. Era choro, grito, esperneio, até desespero. O adultos responsáveis pelas crianças não sabiam o que fazer, os profissionais de saúde ficavam sem ação diante da cena que parecia de desenho animado (apesar de se repetir a cada duas ou três crianças que chegavam). E as crianças pareciam sinceramente desesperadas em sair dali.

Na minha percepção a origem desse problema esta na conversa!

Podemos e devemos conversar com as crianças. Explicar o que esta acontecendo e o que vai acontecer. Isso passa segurança para ela e a ajuda a enfrentar situações novas, inesperadas ou desagradáveis. Dizer a criança o que esperamos dela, como deve se comportar e qual o nosso objetivo ali é a melhor estratégia.

A ideia é usar palavras simples, frases curtas e diretas. Falar na língua das crianças, variando com sua idade, e usando exemplos que sejam próximos do seu dia a dia (uma boa dica é usar comparações com situações de personagens de livros, desenhos e filmes que ela goste). Vale explicar antes de sair de casa, conversar sobre o assunto no carro e, ao chegar no local, como o posto de vacina, relembrar a conversa e apresentar o local a criança!

Observar a idade da criança é muito importante. Para os bebês até um ano a conversa é muito boa, mas o mais importante é o tom de voz e a calma que transmitimos com o nosso comportamento. Estar presente faz toda a diferença. De um ano e meio até os três anos as crianças ainda são imediatistas. Entendem o que acontece no presente. Então se fez algo errado precisa ser disciplinada no mesmo momento, para poder relacionar a disciplina ao seu ato. E precisa que lhe apresentem a situação e o que vai acontecer logo antes de acontecer, para que realmente estejam tranquilas. Já as crianças mais velhas conseguem relacionar o que contamos em casa ou no dia anterior com o que vai acontecer no futuro, basta recuperar com elas o que foi conversado. Depois dos sete anos, a compreensão de distancia e percepção do tempo aumenta, e as explicações ficam mais fáceis na perspectiva dos adultos.

Em qualquer idade e para falar de qualquer assunto, não podemos nos esquecer de conversarmos olhando no olho da criança, abaixar para falar com elas e também de escutar atentamente suas respostas! E vale reforçar que as falas dos adultos devem ser coerentes com as ações. As crianças aprendem pelo exemplo, com a imitação!

Outro ponto importante é nos policiarmos no que falamos!

Sabe quando falamos sobre a vacina “Olha não vai doer nada!” e ai dói! A criança perde a confiança no que o adulto fala, porque o que afirmou não era verdade! O melhor é dizer “dói mas só um pouco, uma picadinha e logo passa”. “É amargo, mas faz bem, depois a gente bebe água”, ao invés de dizer que a vacina de gotinha é gostosa!

Existem outras frases comuns que devemos também evitar para não confundir as crianças e buscar sempre passar segurança nas falas. Quando cai e rala o joelho dizemos: “deixa eu dar um beijinho que a dor passa” Não passa nada! Está doendo mesmo! O melhor é dizer “deixa eu dar um beijinho e te abraçar, vamos ficar calmo, passar o remédio e a dor vai diminuir aos poucos”.

Outra situação comum é a da troca de fraldas. Dizemos: “eca! O bebê fez cocô!” “Que nojo!” “Que cheiro ruim”... e ainda juntamos as expressões com uma careta! Depois muitas crianças tem dificuldade de aprender a ir ao banheiro ou tem problema de prisão de ventre porque tem nojo do próprio cocô! Que tal dizer só “vamos trocar a fralda” ou “hora de limpar o bumbum para ficar cheiroso!” e outras mais positivas?


Bom, poderia continuar aqui com diversas situações análogas a essa da vacina! Elas são muitas porque as crianças são imprevisíveis e o dia a dia é cheio de desafios! Mas se os pais conseguirem criar o hábito de conversar e passar segurança para os filhos sobre o que vai acontecer, desde bebês, com certeza muitas das situações serão enfrentadas com mais tranquilidade e menos sofrimento, tanto por parte das crianças quanto dos pais.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Ações de Saúde baseadas em Evidências Científicas - Puericultura


Outro dia uma doulanda me pediu artigos sobre os assuntos que envolvem as questões do parto humanizado e natural e de cuidados respeitosos aos recém nascidos. O objetivo dela era mostrar artigos que comprovem as ações baseadas em evidências científicas que tanto falamos, para convencer o marido cético.

A ideia deu certo, e o marido, depois de ler muito sobre o assunto, se convenceu e passou a apoiar a mulher em suas decisões.

Fiquei pensando nisso e como sou parecia com “esse marido”, que poderia ser qualquer pessoa. Não adianta me falar que isso é verdade, ou aquilo é certo e já foi comprovado por evidências científicas. Eu preciso de ler artigos falando sobre o assunto e realmente entender a veracidade das comprovações científicas.

Foi por isso que resolvi fazer aqui no Blog uma série de POSTS falando sobre artigos científicos interessantes. Vou colocar o resumo, a fonte e alguns comentários, assim cada um pode buscar os artigos que mais interessarem para ler na integra e socializar com quem mais quiser saber sobre o assunto! Todos os artigos que serão postados poderão ser acessados pelas bases de dados BIREME, SCIELO, COCHRANE ou no  GOOGLE ACADEMICO.

Vamos ao primeiro!


Artigo: Práticas baseadas em evidências para a transição de feto a recém-nascido


Autores: Judith S. Mercer, Debra A. Erickson-Owens, Barbara Graves, Mary Mumford Haley (University of Rhode Island)

Resumo: Muitas práticas comuns de atendimento durante o parto, nascimento, e no pós-parto imediato impactam a transição de feto a recém-nascido, incluindo a medicação usada durante o parto, protocolos de aspiração, estratégias para prevenir a perda de calor, clampeamento do cordão umbilical, e o uso do oxigênio 100% para a reanimação. Muitas das práticas de atendimento usadas para avaliar e manejar um recém-nascido imediatamente após o nascimento não tem eficácia comprovada. Não se obteve resultados definitivos a partir de estudos sobre os efeitos da analgesia materna no recém-nascido. Embora o clampeamento imediato do cordão umbilical seja uma prática comum, evidências recentes advindas de ensaios controlados randomizados de grande porte sugerem que o clampeamento tardio do cordão umbilical protege a criança contra anemia.

Comentários: O artigo é bem completo e aborda uma revisão bibliográfica sobre os principais cuidados com o recém nascido após o parto. Aponta o que tem evidencia comprovada e o que não tem. É claro e direto, de fácil leitura para profissionais de saúde, mães e pais. Como aborda muitos procedimentos é um pouco extenso, mas vale a leitura.

Quem ler e gostar, ou não gostar, comenta mais sobre o artigo aqui! Assim podemos ir trocando informações! Quem tiver sugestões também de artigos para serem colocados no blog é só mandar!

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Filhos de novas uniões

A família nuclear clássica como era conhecida, quer sejam, pai, mãe e filhos, está em plena transformação há algum tempo. Como fato comprovado, o número de divórcios por ano quase se iguala ao de casamentos efetuados no mesmo período. O aumento de separações por motivos vários, faz parte de uma triste realidade que causa profundo impacto nos filhos.

Apesar disso e, pelo fato de ter se tornado uma situação mais comum dentro dos lares, a criança tem maior facilidade em encontrar outra também de pais separados, favorecendo a troca de sentimentos e funcionando como suporte emocional uma da outra.

Com o tempo e após se refazerem do doloroso processo de separação, os pais começam a dar continuidade à própria vida pessoal. Muitos conhecem um novo parceiro e iniciam uma vida conjugal sólida e amorosa. Por vezes, ainda, o novo parceiro também traz seus próprios filhos da união anterior, aumentando consideravelmente a família.

Desta forma, todos os envolvidos direta ou indiretamente, terão que se rearranjar a fim de que se faça um lugar físico e emocional para todos. Não é fácil, pois há muito a se considerar. Se para um adulto é complicado, imagine para crianças de diferentes idades e fases de vida.

Primeiramente e, se possível, civilizadamente, ao perceber que se trata de uma ligação estável e duradoura e que de fato a pessoa fará parte da família, deve-se conversar com o ex-cônjuge, da melhor maneira, para que possa se tornar uma aliado e ajudar no momento de dar a notícia para a criança.

Esta atitude demonstra respeito e compreensão para com os sentimentos dela. Importante é não julgar a reação que tiver, pois é uma situação delicada e complexa, devendo dar-lhe tempo para que possa refletir e assimilar a grande novidade.

Em segundo lugar, vem a participação para o filho. Há de se ter tato, pois é difícil para ele incluir um estranho no lugar que é da mãe ou do pai. Dependendo com quem a criança vive, pode manifestar maior ou menor sentimento de rejeição, ciúme e ou raiva, pois teme deixar de ser amada por aquele que está vivendo com os filhos do novo par.

Tolerância, compreensão e amor devem ser redobrados, para a criança se reassegurar de que é amada e de que será bem recebida na nova família. Mas, em nenhum momento, abrir mão da imposição dos limites para não se perder de vista as regras familiares e sociais, que devem nortear a educação infantil.

Fonte: Revista Materlife

sábado, 22 de outubro de 2011

Acalanto Apoia - Atenção Humanizada aos Recém-Nascidos!

Para:Sra Presidente da República, Sr. Ministro da Saúde, Srs. Secretários Estaduais e Municipais da Saúde

Os cidadãos abaixo assinados reivindicam dos responsáveis pela saúde nos Municípios, Estado e Federação, revisão no protocolo de assistência aos recém-nascidos, com base em evidências científicas, visto que a maioria dos procedimentos realizados são de rotina, e não são justificados em recém-nascidos saudáveis.

Aspiração - bebês nascidos de parto normal, que estejam bem, não precisam ser aspirados! Ao passar pelo canal de parto, os pulmões do bebê são massageados, provocando a expulsão natural dos líquidos. Entretanto 100% dos bebês nascidos em hospital são aspirados com a sonda, como parte de protocolo hospitalar. A sonda é um tubo de plástico enorme que é introduzido até o estômago do bebê. É indicado para bebês que nascem de cesárea, justamente porque não recebem essa “massagem” durante a passagem pelo canal de parto.

Colírio de Nitrato de Prata – É um colírio que se pinga em 100% dos bebês nascidos em hospital como rotina. Na maioria dos casos causa conjuntivite química, que aparece apenas quando o bebê vai pra casa. A única indicação é para bebês que nascem de parto vaginal cuja mãe seja portadora de gonorréia cuja detecção é feita nos exames de pré-natal. Ou seja, mães saudáveis que tem seu filho via vaginal e bebês nascidos de cesárea não tem qualquer indicação para uso do colírio!

Vitamina K - A vitamina K via injeção na coxa é feita no berçário, mas pode tomada via oral que funciona do mesmo jeito. É importante pra prevenir hemorragias no bebê. Quando tomada via oral, deve ser repetida mais duas vezes depois que o bebê vai pra casa.

Separação e introdução de fórmulas – Na maioria dos hospitais em nosso país, os bebês assim que nascem vão para o berçário para passarem por todo protocolo hospitalar e para passar a maior parte do tempo no berçário. A justificativa é de que a mãe precisa descansar. Porém o bebê pode e deve ficar no quarto com o acompanhante (direito garantido pela lei 108/05). O pior da separação, é a introdução de fórmulas enquanto os bebês estão no berçário, prejudicando o aleitamento materno e a saúde do bebê. O Ministério da Saúde e a Organização Mundial da Saúde enfatizam cada vez mais a importância do contato pele a pele assim que o bebê nasce, e a amamentação imediata.

Os signatários

Para entender mais sobre o assunto olha o que o Acalanto já falou por aqui...
 

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Como a tecnologia pode ajudar a mulher a equilibrar o sonho da independência, da carreira, da gravidez, dos filhos?

 Essa semana conheci pela Revista TPM a historia de Paola Di Cola e fiquei pensando quantas mulheres não estão na mesma situação! 

Paola relata sua historia para garantir uma gravidez futura... os medos, ansiedades, o que passa na cabeça de uma mulher nesse momento... os desejos, os sonhos.... como a tecnologia pode ajudar a mulher a equilibrar o sonho da independência, da carreira, da gravidez, dos filhos...

 A reportagem da Revista TPM esse mês segue abaixo e Paola tem também um Blog que fala sobre esse assunto e outros relacionados, que achei bem legal, chamado Gente de Família.


Hoje, só amanhã

Paola Di Cola tem 36 anos e apostou no congelamento de óvulos. 
 
 

"Nunca pensei que chegaria ao ponto de congelar meus óvulos. Ninguém sonha com isso. Deixei o emocional de lado e priorizei o fisiológico”, conta a arte-terapeuta paulistana Paola Di Cola, 36 anos, antes da primeira consulta em uma respeitada clínica de reprodução humana, nos Jardins, bairro nobre de São Paulo. “Quando ouvia falar em fertilização in vitro, achava que não era muito ‘humano’. Como assim, fecundar fora do corpo? As pessoas enlouqueceram?”, lembra. “Hoje fazer congelamento dos óvulos me parece um ato de sensatez.” Paola agora pensa assim porque seu caso tinha um agravante: endometriose, uma doença que muitas vezes impede a gravidez natural porque altera o microambiente das trompas, dificultando o encontro do espermatozoide com o óvulo. “Prefiro guardar meus óvulos enquanto ainda não estão tão velhos”, explica.

Enquanto Paola conversa com a ginecologista, dezenas de mulheres aguardam na sala de espera. A maioria aparenta ter mais de 35 anos e muitas, mais de 40. Entre cappuccinos, balas Toffee e fotos de bebês, as pacientes, com expressões sérias, conversam baixinho com seus acompanhantes: maridos e mães. A todo momento olham para as desconhecidas de rabo de olho. Uma TV sempre ligada (de manhã, no Mais você, da Globo) ameniza a tensão e o desconforto quase palpáveis do ambiente. “Quando entrei na sala de espera lotada, percebi as pessoas introspectivas. Parecia que eu tinha entrado num portal onde as coisas funcionavam de uma maneira própria”, descreve.

Assim como muitas mulheres de sua idade, ela não sabe quando vai encontrar alguém para chamar de “pai de seus filhos”. Chegou até a clínica por sugestão da mãe, que viu uma reportagem sobre medicina reprodutiva na TV. Paola ficou brava e desconversou na primeira vez que falaram sobre o assunto. Mas a informação permaneceu martelando na cabeça, afinal, estava com 35 anos, completos em 2010. Sabia que, ano a ano, progressivamente, seus óvulos começariam a diminuir em quantidade e qualidade. Resolveu, então, investir no tratamento.

Medo do quê?

Logo na primeira consulta, a ginecologista lista os principais efeitos colaterais dos hormônios que o corpo de Paola receberia para estimular o amadurecimento dos óvulos que seriam congelados: dor de cabeça, instabilidade emocional, inchaço, náusea e dor muscular. Sabendo disso, ela segue pelo corredor e para na farmácia da clínica: uma portinha daquelas que abrem somente a metade de cima e viram balcão. “Quando vi prateleiras com isopor e uma geladeira, tive a impressão de que estavam vendendo bebês, como se eu fosse chegar e dizer: ‘Por favor, me vê gêmeos?’”, descontrai.

Lá, ela ganha uma embalagem com os medicamentos e uma sacola com a frase “fertilização in vitro”. Sem pensar, vira a sacola contra o corpo escondendo a parte escrita. Minutos depois, analisa: “Será que é vergonha de mostrar que estou vivendo isso? Medo? Não querer falar? Mas por quê?”. Dias depois, confessa: “Tive medo de que não desse certo, de não conseguir coletar óvulos suficientes”.

O primeiro passo para o congelamento é o mesmo que o da fertilização in vitro: injeções de hormônios ajudam os óvulos a amadurecer para, então, serem coletados. Acontece que, na fertilização in vitro, o capítulo seguinte seria fecundar esse óvulo com um espermatozoide, que, finalmente, seria devolvido para o útero da mulher na forma de um embrião. Já no congelamento, os óvulos ficam guardados em contêineres com nitrogênio, na própria clínica, para que a dona os recupere quando quiser tentar uma gravidez.

No primeiro dia de tratamento, uma enfermeira ensina Paola a aplicar duas injeções de hormônios em sua barriga. A partir da manhã seguinte, ela mesma faria o serviço – e, dias depois, mais uma injeção seria incluída no kit. Como já foi instrumentadora cirúrgica, estava tranquila. Mas, quando se viu no espelho do banheiro de casa, com a blusa levantada e uma agulha apontada para seu corpo, travou.

O desconforto maior não era físico, e sim emocional. “Me sentia incapaz. Porque, para que serve um ser humano? Nascer, crescer, reproduzir e morrer. Não cumprir uma dessas etapas é como faltar uma parte”, reflete ela, que já havia tentado engravidar dos 25 aos 29 anos, período em que foi casada. Não conseguiu por causa da endometriose.
"Não é uma sensação agradável. Deveria ser natural, mas assim não vai acontecer. Por outro lado, é bom porque ainda dá tempo"
Mundo paralelo

Desde essa época o tema crianças já permeava também a vida profissional de Paola. Formada em artes plásticas, ela foi professora infantil, estudou psicanálise e arte-terapia, ambas com foco em crianças, e fez cursos de psicologia perinatal e massagem indiana shantala – esta última, ela aplica em bebês de um abrigo da prefeitura de São Paulo, como voluntária. Seu consultório, nos Jardins, é repleto de bonecos e brinquedos em geral. E, por causa do contato com as mães de seus pacientes, começou a atender algumas delas também. Paola tem ainda um blog direcionado para pais, em que escreve sobre temas que vão de infertilidade a dicas culturais para os pequenos.

Agora, ela pretende incluir entre suas pacientes mulheres que tenham vivido – ou pretendam viver – experiências com fertilização in vitro ou congelamento de óvulos. Paola acredita que expor sua história pode tanto desmistificar questões emocionais que muitas acabam vivendo sozinhas, em silêncio, quanto informar mulheres que nunca imaginaram ser possível aumentar desde já as chances de uma gravidez futura.

Ao longo do tratamento, Paola tem o humor oscilante, dores de cabeça e, por onde passa, percebe os homens mais atraídos a olhá-la. A médica explica o fenômeno: “Ela está tendo uma superovulação, fica com a pele mais viçosa, biologicamente se prepara para a gestação, então o corpo fica mais atraente para o macho”, resume. Só em duas ocasiões Paola saiu chorando da clínica. Da primeira vez porque os óvulos não estavam crescendo tanto quanto era esperado. “Achei que perderíamos aquele mês de tratamento”, admite. Mas, depois, a situação se reverteu. “Em outro momento, me senti muito só, apesar de eu mesma ter decidido fazer tudo sozinha. O processo é cansativo. Tomar injeções todos os dias não é fácil”, desabafa. Na maior parte do tempo, porém, preferiu rir de si mesma: “Vê lá onde vão guardar meus bebês, hein?”, brinca com a médica.

Tempo ao tempo

Dez dias depois do início do tratamento, chega a hora de os óvulos serem coletados e guardados. Era um domingo e Paola estava silenciosa. “Não é uma sensação agradável. Por um lado é ruim porque é algo que deveria ser natural, mas assim não vai acontecer. E, por outro, é bom porque ainda dá tempo”, conclui. O resultado foram nove óvulos – dentro da média sugerida pelos médicos para a tentativa de um único filho. Mas Paola resolve repetir a dose no mês seguinte, já que gostaria de ter dois. No fim de tudo, somam 13 os óvulos guardados na clínica.

Quando chegar a hora de engravidar, daqui a alguns anos, Paola precisa antes ir à clínica verificar se está no momento adequado do ciclo menstrual. A partir daí, com o óvulo descongelado e pronto para ser usado, leva de três a cinco dias até o espermatozoide fecundá-lo, formando um embrião, que, enfim, poderá crescer em seu ventre. Mas nada garante que isso vai acontecer. Todo esse investimento é um risco. “Não vou me arrepender por ter congelado os óvulos”, garante, com a tranquilidade de quem literalmente pagou pra ver.
Não é simples assim
No Brasil, há cerca de 200 clínicas de reprodução humana, e o congelamento de óvulos é cada vez mais procurado por mulheres saudáveis que querem adiar a gravidez – o médico Assumpto Iaconelli, sócio da respeitada clínica Fertility, de São Paulo, diz que o tratamento hoje corresponde a 10% do movimento do consultório. Porém, o método ainda é controverso se o intuito for simplesmente adiar a gravidez, como atesta um artigo publicado em agosto na revista científica inglesa Nature. De acordo com a reportagem, não há dados suficientes sobre o congelamento e o descongelamento de óvulos “mais velhos”, isto é, de mulheres a partir dos 38 anos, idade da maioria das pacientes que procura o tratamento com essa finalidade.


Segundo o urologista Jorge Hallak, coordenador da Unidade de Toxicologia Reprodutiva e Andrologia da Faculdade de Medicina da USP, congelar os óvulos é uma “indicação incorreta” para quem não tem doenças como endometriose grave, câncer ou outra que possa comprometer a gravidez natural. “Sou um crítico feroz dessa indicação. Em nenhum outro país vejo essa recomendação como tem sido dada no Brasil e na Espanha. É um exagero sugerir que uma mulher de 33 anos congele os óvulos sem um quadro médico que justifique.” Para Jorge, esse é um “pseudomercado criado em países em que ainda não há regulamentação”. Se a mulher tem menos de 35 anos, ele não vê razão para se preocupar. Se tem mais, os óvulos já não terão boa qualidade ao serem congelados. Além disso, as injeções de hormônio que induzem a superovulação podem criar problemas como hiperestímulo ovariano (que pode gerar um desconforto abdominal e até comprometer a função renal, o que é considerado grave) e deixar os receptores dos ovários menos sensíveis a hormônios produzidos pelo corpo.

O aumento da procura pelo congelamento aconteceu principalmente nos últimos dois anos e se deve à sugestão que médicos fazem às suas pacientes, baseados na mudança no método do congelamento (era feito a partir do contato do óvulo com o vapor do nitrogênio e com resfriamento gradativo; agora, o contato é direto entre óvulo e nitrogênio, e a diminuição da temperatura é instantânea). Segundo Artur Dzik, presidente da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana, que defende a técnica como forma de preservar a fertilidade, essa mudança no método acarreta menos chance de lesionar o DNA do óvulo (o que pode causar até aborto natural do feto). “Atualmente, as chances de gravidez com óvulos congelados são as mesmas do que as com óvulos frescos. Embora não tenha uma idade mínima, se a mulher não tiver perspectiva de ter filhos a curto ou médio prazo, a partir dos 33 anos o congelamento pode ser uma opção”, opina ele. De acordo com o médico Jorge Hallak, não existe um período máximo para esses óvulos ficarem congelados nem uma idade-limite para as mulheres receberem o embrião. “As mudanças naturais do corpo feminino, decorrentes da passagem dos anos, não interferem na gestação”, garante.

Vale a pena?

Com ou sem indicação, o tratamento completo não sai por menos de R$ 10 mil por mês (Paola gastou, em dois meses, R$ 30 mil), além de uma média de R$ 100 ao mês para o armazenamento dos óvulos na clínica. Se a paciente fizer o congelamento, mas acabar não usando os óvulos, eles podem ser descartados ou doados. Seja qual for a decisão, fica registrada no “consentimento informado”, assinado antes do início do tratamento.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

PALESTRA: Maternidade: espera e controle



O grupo de trabalho “Feminino: questão de diferença” é um projeto do Conselho Regional de Psicologia - Minas Gerais – (CRP-MG), com reuniões quinzenais.

Várias atividades fazem parte deste GT que está realizando este semestre o ciclo: “O feminino e a saúde”. Dentro desta proposta estamos convidando para a palestra “Maternidade espera e controle”, no dia 26 de outubro, às 19h, na sede do CRP-MG, na Rua Timbiras, 1532, 6º andar, Belo Horizonte, com a Dra. Gisele Rocha Corrêa.
A abordagem feita pela Dra. Gisele parte da gestação humana e do parto como sendo processos naturais que sofrem influência das crenças e culturas. É um fenômeno biopsicossocial. Para ela, a sociedade ocidental demonstra a ilusão do controle do tempo e das situações adversas que acompanham a gravidez, o parto e as virtudes dos conceptos.
Gisele apresentará as seguintes perguntas: “Quais garantias de resultados os médicos podem dar? O que a gestante pode fazer para reduzir os riscos?”

Estendemos o convite para participação de outras atividades do GT.

O mundo do recém-nascido


Ele chega e chama a atenção de toda a família. 
Em cada movimento, um enorme enigma a ser 
desvendado. Visão, olfato, audição, reflexos. 
Tudo para ajudá-lo a se comunicar. Já nos primeiros
40 minutos de vida, começa a inteiração com o 
ambiente. Seu neném movimenta-se pouco, mas, 
em compensação, canaliza toda a atenção para ver
e ouvir. Ainda na primeira semana, fica um longo tempo do dia em estado de alerta,
prestando atenção a tudo que acontece ao seu redor. Por isso, o olho-a-olho com
os pais é tão importante para ele.
  
Visão

Os bebês não nascem com uma boa visão. Nas primeiras semanas, enxergam
melhor a uma distância de 20 a 25 cm. Apesar disso, é fácil chamar sua atenção.
Experimente movimentar um objeto. De imediato, seu filho ficará imóvel por 
curtos períodos, podendo até parar de sugar, de chorar ou mesmo pode 
despertar, se estiver sonolento. Vai observar tudo com muito interesse,
mas, logo depois, se desliga.

Apesar de não enxergar bem, o bebê nascido a termo (entre a 38ª e a 40ª 
semanas de gestação) é capaz de reconhecer sua mãe poucas horas após
o parto. A visão é tão fundamental que o rosto dos pais torna-se um grande
atrativo. É como se estabelecesse um diálogo com eles.


Tato

Um dos primeiros sentidos a se desenvolver, ainda no útero materno. É tão
importante que algumas maternidades adotam o método mãe-canguru: 
acomodar o prematuro no colo da mãe, com a cabeça colocada em seu
coração. O toque tranqüiliza e acelera o desenvolvimento do bebê, que
ganha peso mais depressa e fica menos tempo no hospital.

Os recém-nascidos gostam de temperaturas mais morninhas; por isso um
abraço é tão bem-vindo. Adoram ser aconchegados e, por vezes, 
aninham-se ao corpo da mãe. Estudos comprovam que bebês bem
alimentados mas que não são tocados ou levados ao colo apresentam
um desenvolvimento físico e mental bem mais lento. Portanto, 
aproveite a hora do banho ou antes de dormir e faça massagens
suaves no corpinho do seu filho. Além de acalmá-lo, vai fortalecer 
– e muito – o vínculo entre vocês.

Outro ponto a ser destacado são os lábios e as mãos: atrativos certos.

Os bebês podem gastar um longo tempo chupando os dedinhos, 
por exemplo. É o início das descobertas; tudo muito normal e saudável.


Paladar

Nos primeiros meses de vida, o leite materno é tudo o que ele 

precisa para se alimentar. Talvez por isso o paladar seja um 
sentido pouco desenvolvido. Ao nascer, a criança consegue 
reconhecer três dos quatro sabores básicos – doce, amargo 
e azedo, mas apenas o doce a agrada. Não distingue ainda
o salgado, o que deve acontecer por volta do quarto mês.


Olfato

Um dos sentidos mais apurados do recém-nascido. Tanto que com

apenas uma semana de vida ele já reconhece a mãe pelo cheiro.
E está comprovado: esse aromas familiares tranqüilizam o bebê. 
Em contrapartida, odores fortes, como perfumes ou produtos 
de limpeza, podem irritá-lo. Portanto, evite-os. Fumaça de cigarro,
então, está terminantemente proibida. O bebê reconhece melhor
a mãe pelo cheiro e pela audição (voz) do que pela visão.


Audição

Um sentido apuradíssimo. Já na 25ª semana de gestação, através de

ultra-sonografia, os fetos reagem com um sobressalto a ruídos altos.
Pesquisadores afirmam que, ao nascer, o bebê reconhece a voz da mãe. 
Ainda com poucos dias de vida, já responde aos ruídos do ambiente. 
Como? Ao ouvir um barulho mais alto respira em ritmo acelerado ou então 
estica e encolhe os braços e as pernas, realizando o chamado Reflexo de Moro.

Papais e mamães: evitem sons altos e também aqueles que não agradam ao

bebê. Ele é muito sensível. Fale suavemente junto ao seu filho e cante músicas 
de ninar, bem baixinho, para acalmá-lo.


Reflexos

Os reflexos aparecem já no nascimento, ainda involuntários, ou seja, apenas

refletem reações neuromotoras aos diversos estímulos que recebe. Nessa 
fase, dois reflexos se destacam: o de sugar, necessário para a sobrevivência
do bebê, e o de Moro, que consiste em esticar e encolher braços e pernas.


Sono

Nos primeiros dias de vida, o bebê dorme por até 18 horas. Acorda apenas

algumas vezes para mamar. O sono oscila entre o tranqüilo, em que rosto 
e corpo estão bem relaxados e as pálpebras imóveis; e o ativo, quando 
os olhos estão meio abertos e a criança pode mexer os braços e as 
pernas. A respiração é irregular e rápida.


Choro

Essa é a forma que o bebê tem de se comunicar e avisar se está com fome, algum

desconforto ou dor. A face fica avermelhada e há movimentos vigorosos de pernas
e braços. Quer uma dica? Em muitos casos, apenas segurar o bebê no colo pode
acalmá-lo. O colo não tem contra-indicação e faz bem em qualquer idade.

Lilian Luz
Consultoria: Dr. Paulo Roberto Lopes, pediatra. 

Médico da Unidade Materno-Infantil do Hospital dos Servidores/RJ