Eles são mais importantes do que parecem. Além de engraçadinhos, trazem sinal de ótima saúde
Patrícia Cerqueira
Se você bater palmas bem pertinho do rosto do seu recém-nascido, ele piscará forte. Aperte a sola do pé e ele dobrará todos os minúsculos dedos. Se apoiar o peito dele na água, verá um peixinho movimentando braços e pernas como se estivesse nadando. Seu bebê faz tudo isso por puro reflexo. No dia do parto, o cérebro dele pesa entre 300 e 400 gramas, quatro vezes menos que o de um adulto. Para que se desenvolva completamente, é preciso que todas as células nervosas estejam cobertas por uma substância branca gordurosa chamada mielina. Essa camada de nome engraçadinho é a responsável pela transmissão de impulsos nervosos do cérebro para o corpo. Sem ela, a conversa entre a cabeça e as mãos, por exemplo, fica na base do impulso. "Esse processo de cobertura, chamado de mielinização, começa no segundo trimestre de gestação, atinge seu período mais intenso quando a criança tem 8 meses e continua até o segundo ano de vida", afirma o neuropediatra Luiz Celso Amaral. Com o cérebro em formação, as reações são instintivas. E esses reflexos são muito importantes para o crescimento da criança. "Indicam que o cérebro está se desenvolvendo e trabalhando de forma correta. E também têm a função de ajudar a criança a perceber as fronteiras entre seu corpo e o mundo", diz a neuropediatra Saada Ellovitch.
São seis os reflexos mais importantes e há mais de 15 exercícios feitos na maternidade para testá-los. Eles desaparecem quando a maior parte das células está recoberta pela mielina. Lá pelo sexto ou sétimo mês, a conexão entre cérebro e corpo melhora, e o bebê perde aquele jeitão estabanado. A partir do terceiro mês, já é capaz de fazer alguns movimentos voluntários, como sustentar o pescoço. Isso porque o amadurecimento da medula se dá no sentido da cabeça para os pés. Os movimentos reflexos começam ainda na gravidez, entre a 28a e a 35a semana, como a sucção."Ela e o choro são reações vitais para a sobrevivência e a proteção do bebê. O movimento de sugar já aparece no útero", afirma o fisioterapeuta Marcus Vinicius Marques de Moraes. Logo depois de nascer, se você colocar a boca do recém-nascido em contato com qualquer objeto, ele tentará abocanhá-lo. Mais tarde o bebê procura intencionalmente a chupeta, por exemplo, porque a sucção o acalma, ou vai às lágrimas para comunicar o que ainda não consegue dizer em palavras. Alguns reflexos ficam por mais tempo, como o de Moro, em que a criança, sentindo-se desequilibrada ou assustada por um ruído forte, joga a cabeça para trás e estica braços e pernas. Isso até os 5 meses.
Na maternidade
Mais do que uma exibição de habilidades para os pais, os reflexos são fonte de pesquisa para os pediatras. Num dos testes realizados na maternidade, chamado clonos, os pés do bebê são empurrados para trás repetidas vezes. A reação esperada é a de que os pezinhos batam como se estivessem acelerando um carro. Ao menos seis desses movimentos – marcha, sucção, pontos cardeais (toca-se os cantos da boca ou lábios inferior e superior e a criança vira a cabeça em direção ao toque como se quisesse mamar), preensão das mãos, do pés e reflexo de Moro — devem ser reavaliados nas primeiras consultas pediátricas. Mas nem sempre foi assim. Até o início do século passado, os médicos examinavam os bebês apenas fisicamente. Ouviam o coração, sentiam a respiração, mediam e pesavam. Não detectavam alterações causadas por pequenos problemas neurológicos. "Alterações nos reflexos podem sinalizar problemas futuros. Os exames servem para evitar que a criança tenha pouco ou nenhum atraso em seu desenvolvimento. É uma ação preventiva", diz a neonatologista Marina de Moraes Barros. "Quanto mais reflexos observados, melhor. Porém, com esses seis já é possível saber se a criança é saudável. O importante é o resultado do conjunto, e não de um reflexo isolado", ressalta Marina.
Vigor emocional e muscular
Os exames não machucam e é importante que o bebê chore. "Por meio do choro, percebemos a capacidade de autoconsolo do bebê, de como ele se reorganiza emocionalmente. Se fica inconsolável ou indiferente, isso pode indicar certa dificuldade de adaptação à nova vida. É necessário repetir os testes numa próxima consulta", explica a neonatologista. Quando os pediatras fazem essas avaliações reflexas, também estão de olho no vigor muscular do seu filho. Verificam, por exemplo, se o braço dele volta rapidamente quando alguém o estica. "Se isso não ocorrer ou se o bebê resistir ao movimento, pode significar algum problema", afirma Marina.
A influência da nutrição
Tão importante quanto ter os reflexos é perdê-los. O crescimento da circunferência da cabeça e o desaparecimento dos reflexos indicam que o bebê está cumprindo as etapas: vai primeiro sentar, depois engatinhar – mesmo que seja um pouquinho. Que ficará em pé, apoiado em algo, para depois andar. E que falará feito uma matraca aos 2 anos. A falta dessa resposta indica aos médicos uma possível lesão neurológica que, dependendo do tipo, pode ou não ter comprometimento no futuro, como desenvolvimento motor e neurológico mais lento. É possível amenizar o problema com fisioterapia. Infecções na gravidez e hipertensão grave, por exemplo, podem prejudicar a formação da mielina ainda na gestação. O fisioterapeuta catarinense Marcus Vinicius Marques de Moraes fez um estudo inédito em seu trabalho de mestrado. Avaliou os reflexos de bebês entre 14 dias e quatro meses. Queria descobrir se existe uma relação entre o desenvolvimento motor dos pequenos, sua alimentação, os problemas no parto e a amamentação. Concluiu que a nutrição influencia. "Bebês gordos se movimentam menos e, nos de baixíssimo peso, o cérebro não se desenvolve como deveria. Demoram para passar dos movimentos reflexos para os voluntários", diz Moraes.
Bebês prematuros são apontados como os de maior risco para seqüelas neurológicas porque nascem antes de o organismo estar completo. "A finalização do amadurecimento neurológico desses bebês ocorre fora do útero, o que faz seu desenvolvimento ser mais lento. Eles nem fazem os mesmos testes de reflexos que as crianças nascidas depois de 38 semanas", diz a neuropediatra Saada.
Gordos, magrinhos, prematuros ou não, os recém-nascidos querem entender o mundo à sua volta e, para isso, precisam de estímulos. Quanto mais os pais os tocarem, melhor. Os bebês estão criando códigos de comunicação nessa fase e o ideal é que suas experiências sejam positivas. Eles se sentem amparados e seguros quando os pais entendem suas poucas dicas: um resmungo para avisar que a fralda está suja ou um chorão para indicar que quer colinho.
Tão importante quanto ter os reflexos é perdê-los. O crescimento da circunferência da cabeça e o desaparecimento dos reflexos indicam que o bebê está cumprindo as etapas: vai primeiro sentar, depois engatinhar – mesmo que seja um pouquinho. Que ficará em pé, apoiado em algo, para depois andar. E que falará feito uma matraca aos 2 anos. A falta dessa resposta indica aos médicos uma possível lesão neurológica que, dependendo do tipo, pode ou não ter comprometimento no futuro, como desenvolvimento motor e neurológico mais lento. É possível amenizar o problema com fisioterapia. Infecções na gravidez e hipertensão grave, por exemplo, podem prejudicar a formação da mielina ainda na gestação. O fisioterapeuta catarinense Marcus Vinicius Marques de Moraes fez um estudo inédito em seu trabalho de mestrado. Avaliou os reflexos de bebês entre 14 dias e quatro meses. Queria descobrir se existe uma relação entre o desenvolvimento motor dos pequenos, sua alimentação, os problemas no parto e a amamentação. Concluiu que a nutrição influencia. "Bebês gordos se movimentam menos e, nos de baixíssimo peso, o cérebro não se desenvolve como deveria. Demoram para passar dos movimentos reflexos para os voluntários", diz Moraes.
Bebês prematuros são apontados como os de maior risco para seqüelas neurológicas porque nascem antes de o organismo estar completo. "A finalização do amadurecimento neurológico desses bebês ocorre fora do útero, o que faz seu desenvolvimento ser mais lento. Eles nem fazem os mesmos testes de reflexos que as crianças nascidas depois de 38 semanas", diz a neuropediatra Saada.
Gordos, magrinhos, prematuros ou não, os recém-nascidos querem entender o mundo à sua volta e, para isso, precisam de estímulos. Quanto mais os pais os tocarem, melhor. Os bebês estão criando códigos de comunicação nessa fase e o ideal é que suas experiências sejam positivas. Eles se sentem amparados e seguros quando os pais entendem suas poucas dicas: um resmungo para avisar que a fralda está suja ou um chorão para indicar que quer colinho.
Os reflexos e suas reações
Reflexo de Moro – O bebê joga a cabeça para trás, estica as pernas, abre os braços e os fecha depois. Surge quando o recém-nascido se sente desequilibrado ou assustado. Some por volta do segundo ou terceiro mês.
Marcha reflexa – Colocado em pé, com apoio nas axilas, ele ergue uma perna dando a impressão de estar andando. É o primeiro a desaparecer. Some até o fim do primeiro mês.
Sucção e busca pelo seio
– O bebê abre a boca e suga o que aparece à sua frente. Ao tocar qualquer região em torno da boca, ele vira o rosto para o lado estimulado. A busca pelo seio desaparece por volta do segundo mês, quando o reflexo da sucção passa a ser voluntário.
Preensão palmar e plantar
– O recém-nascido agarra o dedo da mãe com força. Esse reflexo ocorre nas mãos e nos pés. O da mão costuma desaparecer por volta do terceiro mês. O do pé continua até o sétimo ou oitavo mês.
Bebê de 3 mese com Preensão Palmar (segurando a caneta) e Preensão Plantar (dedinhos contraídos na cadeira)
(Foto: Luísa M M Fernandes)
Tônico-cervical –
Com o bebê deitado, o médico gira a cabeça do bebê para o lado, a criança tende a estender este braço e dobrar o outro. É chamado de posição de esgrimista. Costuma desaparecer no terceiro mês.
Bebê de 3 meses em posição de Esgrima
(Foto: Luísa M M Fernandes)
Engatinhar – De bruços, o bebê estica as pernas, como se tentasse rastejar, quando alguém lhe dá apoio nos pés. Some por volta do quinto mês.
Bebê de 3 meses com reflexo de engatinhar
(Foto: Luísa M M Fernandes)
Fonte: Revista crescer
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