quinta-feira, 3 de março de 2011

As Crianças e a Fábula


O termo fábula origina do latim - fari - falar e do grego - Phao - contar algo. A fábula é uma narrativa (de natureza simbólica) de uma situação vivida por animais, que alude a uma situação humana e tem por objetivo transmitir certa moralidade. A apresentação de uma exemplaridade espelha a moralidade social da época. Essa moral é fechada, inquestionável. A não-mudança implementada pelas fábulas retrata uma preocupação com a manutenção da ordem estabelecida. Oferece, então, um modelo de comportamento maniqueísta; onde o "certo" deve ser copiado e o "errado", evitado.


Este tipo de texto já aparece no século XVIII a.C., na Suméria. Nascido no Oriente, vai ser reinventado no Ocidente pelo grego Esopo (Séc. V a.C.) e aperfeiçoado, séculos mais tarde, pelo escravo romano Fedro (Séc. I a.C.) que o enriqueceu estilisticamente. Entretanto, somente no século X, começaram a ser conhecidas as fábulas latinas de Fedro.

Ao francês Jean La Fontaine (1621/1692) coube o mérito de dar a forma definitiva a uma das espécies literárias mais resistentes ao desgaste dos tempos: a fábula, introduzindo-a definitivamente na literatura ocidental. Embora escrevendo para adultos, La Fontaine tem sido leitura obrigatória para crianças de todo mundo. 

Na fábula, a presença dos animais deve-se, sobretudo, ao convívio mais efetivo entre homens e animais naquela época. O uso constante da natureza e dos animais para a alegorização da existência humana aproximam o público das "moralidades". Assim apresentam similaridade com a proposta das parábolas bíblicas.

Algumas associações entre animais e características humanas, feitas pelas fábulas, mantiveram-se fixas em várias histórias e permanecem até os dias de hoje. O leão representa o poder real, a raposa a astúcia e esperteza, o lobo simboliza a dominação do mais forte e o cordeiro a ingenuidade.

A proposta principal da fábula é a fusão de dois elementos: o lúdico e o pedagógico. As histórias, ao mesmo tempo em que distraem o leitor, apresentam as virtudes e os defeitos humanos através de animais. Acreditava-se que a moral, para ser assimilada, precisava da alegria e distração contida na história dos animais, que possuem características humanas. Desta maneira, a aparência de entretenimento camufla a proposta didática presente.

A fabulação ou afabulação é a lição moral apresentada através da narrativa. O epitímio constitui o texto que explicita a moral da fábula, sendo o cerne da transmissão dos valores ideológicos sociais. Podemos citar as fábulas de La Fontaine: "O Lobo e o Cordeiro", "A Raposa e o Esquilo", "Animais Enfermos da Peste", "A Corte do Leão", "O Leão e o Rato", "O Pastor e o Rei", "O Leão, o Lobo e a Raposa", "A Cigarra e a Formiga", "O Leão Doente e a Raposa", "A Corte e o Leão", "Os Funerais da Leoa", "A Leiteira e o Pote de Leite".

Texto por: Luísa M M Fernandes
(Fonoaudióloga – CRFa 6630 e Doula)

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