sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Fadynha

Conheça a mulher que trabalha há 30 anos com preparação de mulheres e casais grávidos, introduziu no Brasil a shantala e foi fundadora da Associação Nacional das Doulas

Por Deborah Trevizan, primogênita, irmã de Tatiana, Claudia e Leticia
Fadynha nasceu Maria de Lourdes da Silva Teixeira e faz mágica quando o assunto é apoiar as mulheres para conseguir um parto humanizado, com um mínimo de intervenções. Mãe de Prema, nascida de  parto domiciliar, e avó de Arjuna, há 30 anos trabalha com preparação de mulheres e casais grávidos. Tudo começou com a yoga para gestantes. Ela também introduziu no Brasil a shantala e foi fundadora  da Associação Nacional das Doulas. Conversamos com ela durante a 3ª Conferência Internacional sobre Humanização do Parto e Nascimento, que aconteceu em Brasília, no final de 2010, durante a qual também aconteceu o 8º Encontro Nacional de Doulas, essas mulheres que servem a quem sonha com o  parto normal.

De onde veio o nome Fadynha?
Há muito tempo, eu morava com uma amiga, e a decoração do nosso apartamento seguia o estilo hippie. Os amigos diziam que era a “casa das fadinhas”, e o meu marido Hélder, que eu conheci na época, adotou o apelido. E daí, virei a Fadinha. No começo tive uma certa resistência, mas foi como fiquei conhecida. Em 1997, uma amiga numeróloga sugeriu trocar o i pelo y.

Como e quando você começou a ser doula?
Comecei com a yoga para gestantes, pesquisando e sendo minha própria cobaia, durante minha gravidez. Já trabalhava com yoga, mas passei a usá-la no trabalho com as gestantes. Depois veio o trabalho de preparação para o parto. Daí, as grávidas começaram a me procurar e pedir que eu acompanhasse o parto delas. A gente se torna amiga, cria um vínculo. Nessa época, em que comecei o trabalho de doula, que nem tinha esse nome, havia muito mais partos em casa do que agora, especialmente lá no Rio. Nos hospitais, eu também acompanhava, mas achavam que a gente era meio maluca. Mas, como não havia muita resistência em relação aos partos naturais, a gente ia fazendo as coisas, partos nos quartos, de cócoras, a gente fazia coisas assim. Quando percebiam, já tínhamos feito.
 
E como veio a denominação de doula?

Nos anos 90, aconteceu uma coisa diferente. Nos EUA, começaram a chamar a mulher que acompanha parto, de doula. Foi muito rapidinho, e o mundo inteiro começou a adotar o nome, que em grego significa “mulher que serve”. Então, a palavra foi incorporada, rapidamente. Fui pega de surpresa,  estava “doulando” (como se diz hoje) um parto, e o médico me disse: “Ah, você é doula?” Achei até que ele estava me xingando e ele me explicou que este era o nome dado ao trabalho que eu estava fazendo. Eu disse: “Então tá, sou doula, é isso mesmo”.

Como você vê a atuação das doulas no Brasil?
Antigamente, a presença da família era mais forte. Sempre tinha uma irmã, mãe, família, vizinha que passava a experiência da gestação, do parto, dos filhos para as outras mulheres da família. Hoje, as mulheres nem têm mais parto, o número alto de cesáreas sem motivo comprova isso. Como vão, então, passar essa experiência? E existem muitas pessoas morando sozinhas, longe da família. Eu acompanho muitas mulheres assim, que estão só com o marido. Mas a família também, muitas vezes, mais atrapalha do que ajuda; às vezes, até bloqueia o parto. Sobre a nossa atuação, a gente está numa fase de transição, até porque, em relação ao número de cesáreas que ainda cresce, pior do que está não fica. E, nessa transição, a doula está sendo uma personagem importante, facilitadora desse momento que a sociedade impõe à mulher. A doula vem ajudar muito. Como também sou educadora perinatal, faço esse trabalho de informação; nunca deixei de fazer as duas coisas juntas: acompanhamento e informação. Não só para a mulher, mas para o marido e familiares.

E na hora do parto, como é a relação da doula com as outras pessoas presentes naquele momento? O pai, por exemplo.
A doula não pode interferir, não pode substituir nem a parteira nem o médico. Ela não pode entrar no papel do pai; é importante que haja um espaço em que ela inclua o pai. Às vezes, o pai não sabe como se incluir nessa cena, e a doula pode ajudar nisso. Eu até falo: “pega na mão dela, dá um abraço”... Ele não sabe direito onde se situar, então eu vou sempre incluindo esse pai. Em hipótese alguma deve-se afastá-lo e muito menos substituí-lo. 

E para a criança, qual a importância da doula?
É bom lembrar que a doula só influencia no parto e nascimento, na fase antes do parto. Ela pode informar as intervenções de rotina que costumam fazer com o bebê, no hospital, desnecessárias na maioria das vezes. Na hora, a doula não pode interferir nos procedimentos. Ela até pode auxiliar a mãe, nesse momento, caso não tenha outro profissional fazendo isso. Mas competem ao pediatra as decisões e ações com o bebê. Mesmo que a doula não concorde, ela não pode interferir. Mas pode oferecer suporte para manter o contato físico entre mãe e bebê e para a amamentação. É importante lembrar que o bebê estava no útero, em um ambiente aquático, quentinho, gostoso, aconchegante e seguro e, quando ele nasce, muda tudo, o ambiente é aéreo, ele pode sentir frio. Ruídos e luzes fortes podem incomodá-lo e atrapalhar muito o contato com a mãe. Aí, a doula pode criar condições de manter o ambiente calmo, silencioso, acolhedor, sem luzes fortes e dar dicas de contato entre mãe, pai e bebê. Lembrar sempre que, quanto mais calor humano, melhor. A incubadora é própria para bebês, que estejam realmente precisando. 

E a atuação da doula no pós-parto?
É essencial. Principalmente nas orientações em relação à amamentação, que nem sempre transcorre de forma fácil. Também dou cursos de cuidados para com os bebês, mas sempre faço tudo para que os pais aprendam fazendo. Não dá para delegar, seja para a enfermei- ra do hospital, para os parentes, amigos. Esse primeiro contato é essencial. Eles têm que cuidar para aprender. Eu costumo dizer que baixa o santo de pai, baixa o santo de mãe e as coisas f luem. Como na shantala, eu não posso fazer nos bebês, tem que ser a mãe, o pai. É importante esse contato.
E a shantala? Como você introduziu no Brasil?
Introduzi a shantala no Brasil, em 1978. Desde então, venho ministrando cursos a centenas de mães, pais e profissionais da área. A shantala é uma massagem milenar do sul da Índia, passada oralmente de mãe para filha. Lá são só as mulheres que fazem a massagem nos bebês, por uma razão exclusivamente cultural. O mundo ocidental teve a oportunidade de conhecê-la, através do médico francês Frédérick Leboyer. Em uma de suas viagens à Índia, conheceu a Shantala, uma mãe indiana, que ensinou-lhe a técnica e se deixou fotografar. Leboyer fez um lindo e poético livro, que lançou em 1976, todo ilustrado, com detalhes, fazendo a sequência da shantala. Comecei a aplicar em minha própria filha, bem como nos grupos de mães com as quais trabalhava, na orientação para o parto e pósparto. Durante muito tempo fiquei só trabalhando com essa técnica, ainda desconhecida do grande público.

E quando a shantala começou a se popularizar?

Em setembro de 1979, aconteceu a primeira reportagem sobre shantala, que foi ao ar pelo programa “Fantástico”, da TV Globo. Só 8 anos depois, já em 1986, é que foi lançado o livro, em português, e notou-se assim um interesse maior por parte dos profissionais ligados à área terapêutica. Comecei, então, a dar cursos de aprofundamento para esses profissionais, formando muitos instrutores. Em 1990, introduzi o Curso de shantala na Universidade Estácio de Sá, no Rio de Janeiro, dentro de sua  programação de cursos extra-curriculares. A partir daí, a difusão foi bem maior, pois alcançou um público multiplicador, diretamente interessado em aplicar a técnica em sua área específica, como é o caso dos fonoaudiólogos, fisioterapeutas, pediatras, enfermeiros, psicólogos, enfim, terapeutas de todas as áreas.

Revista Pais & Filhos

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