quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Ocitocina – um hormônio tímido


Em 2008 o município de Belo Horizonte realizou o “Seminário BH pelo Parto Normal”, organizado pelo Movimento BH pelo Pato Normal. O Seminário resultou em uma publicação bem bacana, que tem o mesmo nome deste, e foi organizada por três mulheres que merecem sempre ser lembradas pela luta na Humanização do Parto – Sônia Lansky, Mônica Bara Maia e Miriam Rego de Castro Leão.

Nesse seminário Michel Odent (Obstetra, Diretor do Primal Health Research Center em Londres e grande defensor do Parto Natural) fez a palestra de abertura intitulada “Parto e Nascimento no mundo Contemporâneo” onde aprendi que: a Ocitocina é um hormônio tímido!!! Esse ensinamento é um dos meus guias na hora de atuar como doula (Quem quiser saber mais sobre o que é uma Doula, CLIQUE AQUI)! Isso porque no momento do trabalho de parto as coisas vão acontecendo de maneira encadeada, e não temos todo o controle, afinal o parto é da mulher e cada mulher é uma e, na hora do parto, se torna mais única ainda. Então, como Doula, preciso ir observando as situações e decidindo qual a melhor forma de ajudar a mulher a ter o parto que deseja fazendo o mínimo de intervenções (Tem uma amiga Doula que fala que nosso papel é dominar a arte de ser invisível e fazer a diferença).

Por isso queria partilhar um pouquinho com vocês o que significa a ocitocina ser um hormônio tímido! Informação que todas as mulheres devem ter para considerar na hora de montar seu Plano de Parto (para quem sabe o que é Plano de Parto CLIQUE AQUI).

A Ocitocina também é conhecida como o Hormônio do Amor, isso porque o produzimos em grande quantidade quando estamos fazendo sexo. Eu acho esse o hormônio mais legal de todos! Porque além de ser o do sexo (que já é muito bom!), ele promove também a contração do útero durante o trabalho de parto e depois do parto, ajuda no estabelecimento vínculo mãe e bebê e na descida do leite materno. Ajuda também na volta do útero ao seu tamanho normal e ajuda a mulher e se esquecer da dor do trabalho de parto.

Só que esse hormônio quase mágico só é liberado em determinadas condições ambientais.

A primeira delas é que só liberamos a ocitocina quando estamos em um ambiente reservado e pouco iluminado. Ou seja, se a mulher estiver exposta a um entra e sai de profissionais estranhos que ficam invadindo a sua intimidade, muitas vezes sem seu consenso, e com uma luz forte direcionada para sua vagina, definitivamente não vai liberar a ocitocina.

A segunda é que se liberarmos Adrenalina, não conseguimos liberar ocitocina. São hormônios antagônicos. E nós liberamos adrenalina quando nos sentimos em situações de perigo. E ai, se a mulher ficar em um lugar frio e inóspito como uma sala de cirurgia, onde não pode tocar em nada, não pode se mover e procurar a melhor posição, não pode se alimentar e tem uma agulha enfiada na veia ligada ao soro e muitas vezes permanece sozinha (desrespeito a lei do acompanhante), com certeza se sentirá ameaça e com medo. A mulher que também não tem a informação sobre o trabalho de parto, é submetida a procedimentos invasivos sem saber os motivos e quem esta a sua volta não a ajuda a encarar a dor do parto com tranquilidade, definitivamente se sentirá ameaçada, produzindo muita adrenalina.

Ainda tem uma terceira condição de liberação da ocitocina, que ocorre em grande quantidade logo após o trabalho de parto. Durante todo o parto o corpo da mulher libera a ocitocina em pequenas quantidades crescentes para a contração do útero. Depois do parto, do período expulsivo, idealmente acontece uma super dosagem de liberação da ocitocina, que permite a diminuição do sangramento pós parto, a expulsão da placenta, a descida do colostro e o estabelecimento do vinculo mãe bebê. Mas essa super dosagem só é liberada no contato pele a pele, mãe e bebê, imediatamente após o parto.

Então se o bebê é levado para longe pelo pediatra, para ser avaliado, limpo, etc esse contato não acontece, e assim não é liberada a ocitocina. E a mulher vai precisar então da ocitocina artificial... e o bebê, que em situações normais poderia ter esses cuidados pediátricos depois do contato com a sua mãe, fica ali se sentindo perdido nesse novo mundo estranho.

É por isso que, como Doula, procuro sempre garantir que a mulher tenha um ambiente calmo, acolhedor e tranquilo, não invasivo e não assustador, considerando seus desejos.

Todos os profissionais da saúde presentes no momento do parto deveriam ter conhecimento das condições de liberação da ocitocina, conhecimento científico e intuitivo das mulheres e de todas as fêmeas. Infelizmente essa não é a nossa realidade no Brasil e, por isso, essas considerações devem estar nos Planos de Parto das mulheres, exigindo seus direitos!

Nós mulheres precisamos sair por ai em defesa da OCITOCINA, um hormônio tímido, mas super legal, que precisa que gritemos a seu favor, defendendo seu momento de espaço de aparecer!

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