quinta-feira, 13 de junho de 2013

Violência Obstétrica – consequências de uma sociedade machista sob a escolha dos obstetras pelas mulheres


Em Belo Horizonte temos o privilégio e talvez a sorte de contar com a assistência ao Parto do Sofia Feldman. Um hospital público, referencia para todo o mundo no movimento da humanização do parto! Mas, infelizmente em outros hospitais, especialmente nos privados, a assistência humanizada ao parto não é política do hospital e sim depende do interesse do obstetra que acompanha a gestante e do empoderamento da mulher!

As doulas autônomas incentivam as gestantes a exercerem seu direito e terem seus filhos no Sofia. No entanto, muitas gestantes e suas famílias ainda tem grande resistência em frequentar a maternidade, por uma ideia distorcida do atendimento no SUS e por medo da localização da maternidade, em uma comunidade de baixa renda. Acontece que aqui na cidade temos apenas  um pequeno grupo de obstetras com os quais podemos contar para defender e exercer um acompanhamento humanizado durante a gestação e parto.

Quando digo humanizado me refiro a um profissional que entenda que a mulher é a protagonista do parto, que a auxilia no seu empoderamento ofertando informação e acolhimento, e que jamais a induza a uma cesariana desnecessária ou a submeta a um parto cheio de intervenções desnecessárias e ultrapassadas cientificamente.

E dentre esses profissionais a maioria são homens. Não consegui encontrar um dado que ateste se a proporção de obstetras homens e mulheres em BH ou no Brasil, então não sei se as mulheres médicas obstetras estão afastadas apenas do movimento de humanização ao parto em BH ou se temos mesmo mais homens do que mulheres na obstetrícia. Mas esse fato tem criado situações desconcertantes entre gestantes empoderadas! Esse ano já acompanhei duas que trouxeram essa questão.

Decidiram ter seu parto no Sofia Feldman, no entanto, desejam continuar o pré natal com um profissional de seu plano de saúde. Mas, não querem ser acompanhadas por qualquer profissional. Querem ser bem assistidas, sem ter que passar toda gestação desconfiando se seu médico está ou não falando a verdade e se não vai inventar algo que mine a sua confiança e te induza a uma cesariana desnecessária.

Acontece que essas mulheres não se sentem confortáveis com um obstetra homem. E ai a procura por uma obstetra mulher, que tenha esse perfil e seja do seu plano de saúde, torna-se mais difícil ainda. Pior do que procurar uma agulha em um palheiro!

Fiquei muito intrigada com essa situação! Não da falta de obstetras mulheres, mas da dificuldade de mulheres empoderadas e informadas serem cuidadas por um obstetra homem. É verdade que os exames realizados e os assuntos discutidos são muito íntimos, no entanto, se procuramos um profissional capacitado não deveria importar seu gênero.

O que acontece então!?
Será que eu aceitaria um obstetra homem?!

Não sei ainda como me comportaria. Isso porque sou também fruto desta nossa sociedade machista, onde nos acostumamos ao fato de que até profissionais de saúde, durante uma consulta, sentem se livres para violentar uma mulher. E na cultura do medo e da culpabilização da vítima, nós mulheres somos ensinadas desde pequenas a nos proteger, fugindo de situações que tem o potencial de ser perigosas, ou seja, de nos colocar em uma situação vulnerável onde o homem pode nos violentar.

Violentar?! No obstetra?!
Alguém pode estar se perguntando sobre isso! Ou achando o texto ridículo! Ou achando que estou falando de casos absurdos e exceções extremas!
Não! Estou falando de questões que cercam o nosso dia a dia. Estou falando do nosso medo que foi fantasiado como pudor e educação!
Estou falando da violência obstétrica a que a mulher está sujeita antes, durante e depois do parto.
Estou falando da certeza da impunidade que os homens que praticam essa violência têm e que faz com que nós mulheres façamos a transferência do medo para todo e qualquer homem, mesmo que nunca tenha praticado nenhuma violência contra a mulher.
Estou falando do fato de nem sequer conseguirmos reconhecer essa violência obstétrica, que é encoberta como a frieza e profissionalismo ou algo normal para um homem.
Estou falando dos maridos das mulheres que não aceitam que se consultem com obstetras homens. Dizemos que são machistas, e são, mas também estão seguido seu instinto protetor. Querem proteger as mulheres que amam de passarem por uma humilhação que tem certeza que os homens são capazes de fazer e consideram com um comportamento normal

Além do abuso sexual físico, temos medo de sofrer o abuso sexual psicológico e a humilhação pública. Temos medo dos comentários cínicos que vamos ouvir. Temos medo das piadas sem graça que transformam as mulheres em objetos sexuais. Temos medo dos comentários desrespeitosos que serão realizados depois entre médicos e amigos.

E ai?! Até quando vamos continuar aceitando essa situação?! Até quando vamos continuar com medo de sermos violentadas por profissionais da saúde que deveriam zelar pelo nosso bem estar?!


Enquanto ficarmos caladas e não aprendermos a apontar cada uma das violências que nos mulheres sofremos por sermos mulheres, a situação não começará a mudar!

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