Desde que
resolvi escrever o blog acho que o maior resultado dele foi a sensibilização
que tem causado nas minhas amigas. A medida que eu vou escrevendo e falando
sobre o que é ser doula, o que faz uma doula, sobre parto, parto natural, parto
normal, humaniza,cão do parto, sobre amamentação e amamentação continuada...
cada texto vai mexendo com uma amiga de uma forma diferente. E quando nos
encontramos o assunto sempre passa por esse mundo de coisas. Já contei de uma
dessas conversas no texto de perguntas e respostas (só clicar nos dois para
ler!).
E casamento
é lugar de juntar as pessoas que não se viam há um tempo, mas que nunca vão
deixar de serem amigas sabe. E como não podia deixar de ser, encontrando com
amigas queridas que não via há um tempo o assunto “doulas” e “parto” foi
recorrente ao longo da noite. Claro que eu não me cansava de falar de algo tão
prazeroso.
Uma das
minhas amigas reconheceu na minha paixão pelo ato de doular a sua paixão pelo
ensino. Nos dois casos é poder estar presente na vida das pessoas em momentos
importantes, íntimos e decisivos. É apoiar e empoderar para que a pessoa tome a
sua própria decisão. Lindo essas duas paixões se coincidirem assim não?
A outra
amiga, como uma boa fonoaudióloga, estava ainda preocupada com os casos das
crianças que tem Paralisia Cerebral (Disfunção Neuromotora) por anoxia (falta
de ar) durante o parto. Mesmo encantada com o trabalho das doulas, e bem
inteirada desse mundo, já que além de mim tem uma amiga que largou a profissão
de advogada para ser doula em tempo integral, ainda tinha medo de ter um parto
normal.
Medo. É
algo importante que não devemos deixar de lado. Especialmente enquanto a mulher
se empodera do seu parto. Medo nos paralisa. Medo impede que tomemos a melhor
decisão e acabamos optando pela saída que parece ser mais rápida. Medo deixa
tudo confuso e tira o empoderamento de qualquer pessoa. Medo do parto coloca a
mulher sujeita a procedimentos desnecessários e não recomendados no seu parto
quando não a induz para uma cesariana desnecessária.
O problema
dessa historia é que nos fonoaudiólogas como estamos inseridas em clinicas
especializadas para tratar de crianças com Paralisia Cerebral e outras
síndromes acabamos ouvindo e presenciando muitas histórias de partos que deram
errado. Relatos de mulheres assustadas e que ficaram na maioria das vezes sem
saber o que estava acontecendo e como os eventos resultaram em sequelas tão
graves para seus filhos. Mulheres que precisam carregar um fardo pesado, com
pouca informação, sem saber o que na sua impotência poderia ter feito para
mudar a historia daquela criança.
Já estive
nesse lugar de ouvinte muitas vezes. E também já tive medo do parto normal,
achando que ele fosse o vilão da história. Já consolei mulheres dizendo a elas
que o parto era algo que não podiam controlar, que estava fora de seu alcance.
Já imaginei que aquelas historias trágicas representavam a maioria dos partos
normais.
Mas a
verdade é que essa “amostra” de partos que nos fonoaudiólogas temos contato são
uma “amostra viciada”. É uma clinica especializada com um profissional
especializado. Portanto, a maioria dos casos ali são sim complicados e muitas
vezes algo saiu muito errado. Então precisamos nos afastar e observar as
estatísticas reais! A verdade é que o risco de uma cesariana é muito maior para
mãe e bebê do que o risco de um parto normal. Na cesariana aumenta o risco de
hemorragia na mulher, de infecção na mãe e no bebê e o risco de um bebê “ser
nascido” prematuramente (com todas as consequências que nós fonoaudiólogas já
conhecemos muito bem).
Podemos
parar e pesquisar melhor também quais os reais motivos para um bebê ter tido
anoxia no parto. Pegando o prontuário dessas mulheres, talvez lendo o partograma se for bem feito, ou
talvez investigando com entrevistas aos profissionais envolvidos, a mulher e a
quem acompanhava a mulher no parto, caso o prontuário seja incompleto e vago,
podemos entender o que se passou naquele dia. E ai é provável que vamos observar
um parto normal – anormal ou frankstein, como costumamos dizer no movimento de
humanização ao parto.
Vamos ver
uma mulher internada sem estar em trabalho de parto ativo. Vamos ver uma mulher
mantida em jejum por horas e horas, ficando assim sem energia para fazer a
força necessária para ajudar seu filho a nascer. Vamos ver uma mulher sozinha,
sem acompanhante e sem informação, que acaba se vendo assustada e acuada em um
ambiente hospitalar nada adequado ou acolhedor. Vamos observar também
procedimentos invasivos realizados sem o consentimento da mulher (toque constante, lavagem intestinal – enema; raspagem dos pelos pubianos –tricotomia; corte do períneo – episiotomia), associado a intervenções
desnecessárias, que a literatura científica já prova serem recomendadas apenas
em casos específicos, mas são usados indiscriminadamente (ocitocina artificial,rompimento da bolsa, anestesia em momento inadequado interrompendo a dinâmicado parto ou em quantidades exageradas). A mulher é ainda mantida em uma única
posição, deitada – de litotomia, que desfavorece o parto normal, impedida de
caminhar e de escolher a posição que seu corpo pede para o parto, aliás, a
mulher não tem a chance de perceber o seu corpo e o que ele pede, e também não
lhe são oferecidas técnicas de alivio da dor não farmacológicas.
Uma
intervenção gera uma cadeia de intervenções desnecessárias que interrompem o
caminho natural de um parto. Acabam por levar a consequências graves para
mulher e criança. Ou seja, ao invés de usarmos as tecnologias para salvar
vidas, acabamos usando a tecnologia pó conveniência de uns ou interesse
financeiro e ai ela acaba por prejudicar vidas.
Então,
quando falamos em Humanização do Parto e Parto Normal não estamos falando desse
parto onde a mulher é um objeto, sem controle sobre o que acontece no ambiente
e no seu corpo, com uma assistência ultrapassada em termos de cuidado
humanizado no pré parto, parto e pós parto. Estamos falando sim de um parto
onde a mulher tem controle do seu corpo, com informação ela faz o seu parto,
empoderada. Os profissionais de saúde que a assistem são preparados para
acompanhar o parto, mantê-la confortável e esperar a natureza seguir seu curso,
intervindo se necessário.
Com isso
tudo o que eu queria dizer para essa amiga, alias para todas as amigas,
leitoras do blog e mulheres é que a informação para o seu parto é fundamental.
Informe-se!!! Empodere-se!!! Construa o seu Plano de Parto e garanta que ele sera respeitado!!! O parto é seu!!! E assim espante os medos e tome a
melhor decisão para você e seu filho, não baseada em mitos e no “ouvi falar de
histórias trágicas”, procure evidencias cientificas e profissionais que vão
oferecer uma boa assistência!
" Na cesariana aumenta o risco de hemorragia na mulher, de infecção na mãe e no bebê e o risco de um bebê “ser nascido” prematuramente (com todas as consequências que nós fonoaudiólogas já conhecemos muito bem)." Que consequencias são essas??? Seriam consequencias diretamente relacionadas a fala??? Estou mto curiosa!!! Bjos
ResponderExcluirp.s.: Posso utilizar a figura que compara as estatísticas do parto normal com a cesárea???
Oi Simone! Pode usar sim a figura, como mencionei no texto ela 'e fruto de uma pesquisa do Ministério da Saúde, portanto para tod@s usarmos e divulgarmos a informação!
ExcluirSobre as consequências... vou responder rapidinho, mas depois prometo um texto especifico sobre o assunto. Quando um bebê nasce prematuro ele pode ainda não ter desenvolvido o reflexo de sucção, por exemplo, e isso vai ter um grande impacto na amamentação e alimentação dele. Ele pode ter uma má formação dos pulmões e isso ter consequências desde insuficiência respiratória a asma mais tarde. Se tiver problemas de oxigenação podem afetar o cérebro e dependendo da parte afetada podem ter problemas motores, de fala, audição, visão e outros possíveis problemas. O desenvolvimento motor e de linguagem dele vai ser sempre atrasado, e precisa ficar atento e acompanhar de perto essa criança para que com dois anos ela já tenha se desenvolvido bem e não fiquei para trás em nenhum dos aspectos do desenvolvimento infantil! Enfim... bebês prematuros precisam de muito cuidado. E graças a deus já temos tecnologia para isso, mas não devemos adiantar o nascimento de um bebê pensando que isso não terá nenhuma consequência na sua vida futura!