Voltei das
férias cheia de novas ideias e histórias para contar, como prometido. E a
primeira das histórias que quero dividir é sem dúvida a mais especial.
Depois de
alguns dias de viagem finalmente chegamos a Berlim. Eu estava muito feliz de
voltar a cidade 12 anos depois, de ter morado lá. Logo começamos a ligar para
os amigos e depois de algumas tentativas finalmente consegui falar com uma
muito especial, a Cora.
Não conheci
Cora no curto período em que morei em Berlim, e sim alguns anos depois quando
ela morou em Belo Horizonte. Sabe essas pessoas você rapidamente fica muito
amiga? Então, quando liguei estava ansiosa para encontrá-la e propus que ela
nos acompanhasse nos passeios pela cidade. Por telefone estávamos conversando
em inglês. Eu falo um pouco de alemão e ela fala português, bem melhor que meu
alemão, mas a língua de escolha no telefone foi o inglês. Aliás, as nossas
conversas sempre foram assim, displicentemente variando entre as três línguas,
para desespero de quem estiver nos ouvindo ou tentando participar da conversa.
Cora me
disse que gostaria de nos acompanhar, mas que não podia andar muito. Eu
assustada, perguntei porque, imaginando que ela teria se machucado, e foi
quando ela me disse – “Porque estou muito muito grávida”!
Uma
explosão de alegria tomou conta de mim, do mesmo jeito quando outra amiga
especial me contou da sua gravidez (nesse texto que já contei aqui). Eu não
queria continuar a conversa por telefone. Precisa encontrá-la e saber pessoalmente
de todos os detalhes! Tive que esperar ate o final do dia seguinte para o
encontro, que para tanto tempo sem nos vermos foi rápido demais, mas a saudade
fica mais gostosa quando podemos abraçar alguém que esta longe e ter certeza de
que essa pessoa esta feliz e bem!
Cora realmente estava e está muito grávida. Já entrando no oitavo mês.
Continua linda e com um barrigão. Na Alemanha nas seis semanas antes do parto a
mulher tem uma licença remunerada obrigatória. E são essas semanas que ela esta
usando para terminar de arrumar o cantinho do seu filho e comprar roupinhas,
enquanto passeia com calma de bicicleta pela cidade. Sim, uma grávida andando
de bicicleta! Com recomendação da ginecologista inclusive. Aliás, porque é
mesmo que dizem por aqui no Brasil que grávidas não podem andar de bicicleta???
Os direitos
da mulher no período pré parto, pós parto e no primeiro ano de vida da criança
são muitos. Além das seis semanas antes do parto, a mulher tem também quatro
semanas após o parto, licença remunerada e obrigatória. Depois disso ela pode
escolher se volta ao trabalho ou não. Enquanto decidir ficar afastada do
trabalho, no primeiro ano de vida da criança, a mulher tem um apoio financeiro
do governo (isso, sem contar que na Alemanha as escolas publicas são excelentes,
e o sistema de saúde publica também).
Quando
perguntei do parto ela me olhou assustada! Como assim que tipo de parto vou
querer? É óbvio que natural! Era algo que não precisava ser decidido. Já estava
posto por ser o melhor para ela e seu bebê. Se possível, na água. Quando contei
que no Brasil mais da metade dos partos são cesarianas e que outros tantos são
partos normais com tantas intervenções desnecessárias que acabam virando
anormais, ela estranhou. Difícil mesmo entender o que levaria mulheres a não
escolherem o melhor para si e seus filhos e o que levaria médicos e
profissionais de saúde a uma pratica que não prioriza esse bem estar.
O pai
também tem seus direitos. No período de um ano ele tem direito a 2 meses de
licença remunerada, que pode escolher quando tirar, para ficar com seu filho.
Cora e seu namorado, ou marido, quer dizer, seu namorido, vão usar esses dois
meses para viajar com o pequeno. Querem ir pra Nova Zelândia, que ainda não
conhecem. Mas eu ainda estou torcendo para que eles mudem de ideia e resolvam
ir para o Brasil, onde tem várias pessoas já doidas para ajudar cuidar desse
novo alemãozinho que vai chegar.
Quer dizer,
um alemãzinho que já chega bem misturado. Segundo a própria Cora ela escolheu
para o pai do seu filho um alemão muito alemão, desses loiros e branquinhos (e
tenho certeza de que escolheu bem, mesmo o tendo conhecido muito rapidinho há 4
anos atrás). A mãe da Cora é indiana e o pai alemão. Ela tem o jeito e traços
de uma indiana. Bem que podia ser os traços e jeitos de uma brasileira. Acho
que tem o coração de uma brasileira. E o nome do seu filho talvez seja uma
homenagem ao Brasil, país que a acolheu com alegria e calor. Ou quem sabe uma
homenagem a família que a acolheu com amor em Belo Horizonte? Ou ainda uma
homenagem a um dos filhos dessa família, que tem nome de guerreiro, a cabeça
nas nuvens, a alma de artista (como a da Cora), com o dom para a música. Luís vai nascer alemão, com jeito de
indiano e um pouquinho de brasileiro na sua história!
Cora mostrando a barriga ao lado dos meus pais, Paulo e Celina
Linda história, Lú! alias, como todas que li por aqui...saudades...beijão
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